Quando o amor acontece...
É sexta-feira à noite, você se arruma linda, poderosa, coloca um sapato novo e passa seu perfume importado, se sente maravilhosa, diva e vai a procura da bem aventurança do amor. Pula de bar em bar, vai pra balada, termina a noite comendo um sanduíche de xis qualquer coisa, de repente se olha no espelho da parede (e eu não entendo por que lanchonetes de fim de noite têm espelho na parede, mas tudo bem), então você olha e sente a pior solidão, você, sem glamour, com maionese no canto da boca, sozinha em meio à multidão.
Então uma dia você resolve sair para caminhar e vai de “buchinha” de cabelo roxa, calça de moletom de 1900 e lá vai tampinha, suada, descabelada, sem maquiagem e na volta passa no supermercado e “tchãram”: nos congelados você deixa cair no chão alguma coisa e surge ele gentil e carinhoso oferecendo para ajudar com seus desastres, vocês trocam olhares e telefones, depois de 6 meses estão casados e pronto! Ponto final, a felicidade existe!
O que acontece quando vocês está distraída, o que acontece quando você está tão conectada com você mesma que não se importa de ir fazer sua caminhada e passar no mercado suada, largada, bonita de modo peculiar? Acontece que a vida flui. Quando nos conectamos com nossa alma a vida simplesmente se mostra, porque ela já acontece o tempo todo, mas nós estamos presas demais a um mundinho medíocre de acreditar que autoestima é apenas um cabelo bem escovado, um corpo sarado e uma roupa maneira. Autoestima é esse amor que está perdido dentro de você.
O amor, assim como a felicidade, estão presentes o tempo todo. Solidão e solitude são sensações distintas, embora pareçam que não. A solidão pode se dar de várias maneiras e a pior delas é a solidão a dois, é aquela que você compartilha com alguém que vive ao seu lado e parece não estar lá. Solitude é o seu momento de pensar, de estar bem consigo, de colocar sua cabeça no lugar.
Procurar o amor em noites de solidão pode não ser uma boa ideia, até porque, assim como a carência, às vezes a solidão tem placa luminosa, piscando na sua testa.
E falando em encontrar um bom e grande amor para nossa vida, um assunto que nunca acaba, são tantos paradigmas e falsas crenças que acabamos por ficar rodando sem saber para onde ir. Alguns exemplos: Se você ficar olhando para a água ela nunca vai ferver x Ninguém vai bater à sua porta; Se você não se amar, ninguém vai te amar x Homem bom está tão difícil de encontrar que você tem que agarrar quando aparece um. Essas contradições afligem a nossa alma, porque ficamos sem entender como agir.
Entender o amor próprio pode ser tão desafiador quanto amar outra pessoa. Amar a si mesma é saber que você não vai esperar de ninguém a felicidade vinda de presente, é entender que a opinião das outras pessoas não é mais importante que as convicções que você tem de si mesma, é saber que você pode estar de buchinha roxa, suada, toda largada e ainda assim estar linda de uma maneira diferente. Eu costumo dizer que o simples não é o mais fácil e, por isso, o autoamor é tão complicado de ser entendido, processado e vivenciado. Amar a mim mesma, sem amarras, sem histórias, sem precedentes é muito mais complicado do que direcionar esse amor para alguém que possa fazer por mim.
Porque é tão difícil? Acredito que acabamos por desaprender esse amor. Quando nascemos viemos ao planeta plenos de amor e à medida que vamos crescendo vão sendo impostas certas maneiras de viver, seja pelos nossos pais ou pela escola, pelos parentes, pelos amigos, pais de amigos, enfim, os rótulos de como deve ser acabam por definir a nossa postura e assim, consequentemente, aos poucos vamos nos perdendo de nós mesmos, vamos adequando nossa identidade aos padrões, e o amor que somos passa a ser esquecido.
Se você chegou até aqui, provavelmente você sente essa dificuldade de reconhecer o amor que você é, e o lado bom é que você chegou na hora certa. Como praticar o amor próprio? Comece aos poucos, dê um passo de cada vez. Não se julgue, não se cobre e não se maltrate. Comece a observar o modo como você lida com suas amigas e os problemas delas e a forma como você lida com você mesma. Note as diferenças no falar, nas atitudes, no agir. Estabeleça o hábito de tratar você mesma melhor, de pensar em você em primeiro lugar. Não existe egoísmo em se amar.
O amor realmente não escolhe hora para acontecer, ele pode chegar na sessão dos congelados do supermercado, mas se você estiver distraída em relação a você mesma, se estiver alheia à sua própria vida, ele pode passar e você nem perceber. Então, antes de procurar fora, comece a procurar dentro e você vai conhecer a pessoa maravilhosa que habita seu ser, assim o resto do mundo, não no sentido pejorativo, mas o resto do mundo será uma consequência da sua vida. Abra as portas do amor para sua vida!
Deixar ir às vezes é a atitude de amor por você!
Ele tinha o sorriso mais lindo, a boca contornava seus dentes e ele parecia um desenho perfeito, tudo se enquadrava e se encaixava, pelo menos pra ela. Ela achava que ele era o seu “sapato da vitrine”, aquele que a gente olha e pensa: “meu Deus, esse tem que servir, tem que ser meu número”. Então; era assim que Ana pensava, “ele” tinha que servir pra ela, ele tinha que ser seu número.
Ela o viu passando pela rua, assim como um qualquer, mas para Ana não, para Ana ele era uma espécie de ser do outro planeta, no melhor dos sentidos.
E todos os dias ela esperava na lanchonete da esquina, sentava na mesa de fora, abria sua revista, pedia um café, e como se estivesse num bistrô, por que Ana era uma menina chique, mais ou menos igual àquela historinha que dinheiro não compra classe, sabe? Então, Ana não tinha dinheiro, mas é uma menina que nasceu pra ter, conversa muito bem, se porta como uma lady, é realmente uma rica menina pobre.
Sentada, tomando seu café, ela esperava por ele, e ele passava e bastava seu andar pra alegrar o dia de Ana. Faltou-lhe coragem, Ana tremia e nunca conseguia ir falar com ele.
Até que um dia ela decidiu que falaria com ele, então ele veio e Ana com toda sua coragem se preparou para abordá-lo mas, ele veio e dessa vez não estava sozinho, vinha acompanhado. E como quem recebe uma facada silenciosa no peito, Ana sentou, voltou para o seu café e sua revista e se contentou em ver seu sorriso indo embora acompanhado por um metro e setenta de pernas e longos cabelos negros.
Ana, que nunca se sentia só, nesse dia sentiu a dor do amor, a tristeza de amar e não ser notada, a dor que corrói, que aperta, uma dor que nunca havia sentido, ela queria arrancar a roupa, tirar o seu coração com a mão, fazer alguma coisa que fizesse com que a dor passasse, já que remédio algum resolvia aquele problema.
Mas Deus mandou um remédio, e sentada mais um dia no seu café amargo, “outro ele” chegou, pediu pra sentar e disse observava ela sempre ali na lanchonete e a convidou pra almoçar. Não, esse não era o seu número, pelo menos ela achava que não.
Mas a vida sempre prega essas peças na gente, e quando menos esperamos encontramos um sapato que cabe sim, certinho, como um encaixe perfeito no pé. Aquele sapato que fica escondido na vitrine de dentro e que você não olha por que colocou na cabeça que só serve aquele que viu, mas aí com a ajuda da vendedora você encontra aquele escondidinho e vê que ele é seu número.
Aí sabe aquele primeiro sapato que fez seu coração bater forte, sua boca secar e foi embora em outro pé?! Ele não era seu. Ana presta atenção, ele ficou melhor nela. Já esse escondido, parece que foi feito pra você. Tem os olhos mais doces que já vi. Ele era meu sapato da vitrine, mas ficou melhor no seu pé.