Quando queremos ficar sozinhos

Quando queremos ficar sozinhos
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Yamila Papa

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A maioria de nós percebe a solidão a partir de um prisma “negativo”. Ficar sozinho, no entanto, traz seus benefícios. Muitos se sentem melhor sem companhia ou sem pessoas ao redor e, por essa razão, começam a ser feitas pesquisas para saber se a solidão é saudável.

Acredita-se que todas as atividades realizadas em grupo, em casal ou em família são mais divertidas, desde ir ao cinema até jantar, passando por comemorar o Natal ou tomar um café, bem como fazer exercícios, caminhar no parque ou fazer compras. Mas qual é o problema de fazer estas atividades sozinho? É porque se considera que isso implique amargura, depressão, tristeza e abandono.

Por que a solidão está associada a sentimentos ruins em todos os casos? Há cada vez mais casos de pessoas que realmente apreciam os momentos em que não estão com ninguém e que até mesmo deixam de lado os costumes ou tradições familiares e sociais para serem fiéis ao que faz com que se sintam bem. Você acha que passar o final de ano sozinho em casa é uma loucura? Ou que planejar as férias sem a companhia de nada além da nossa bagagem é uma ideia absurda? Então saiba que, para centenas de pessoas, esta é uma experiência que não pode ser comparada a nenhuma outra.

Analisando um pouco a reação de cada um diante dessa ideia de “solidão”, devemos dizer que ela se baseia no fato de que o ser humano foi feito para viver em sociedade, cercado de outras pessoas. É por isso que dizemos e acreditamos fervorosamente que a solidão é algo negativo, independentemente de qualquer coisa. Então o que podemos dizer sobre as pessoas que preferem ficar sozinhas, ainda que não se sintam deprimidas ou tristes? Não se trata de ser eremita ou antissocial, mas sim de pessoas que querem aproveitar o próprio espaço e o contato com o seu “eu” interior.

Por outro lado, há aqueles que, por medo da solidão, tomam decisões imprudentes, tais como se relacionar com o primeiro candidato que aparece no caminho ou fazer parte de um grupo com o qual não têm nada em comum, mas no qual permanecem fingindo ser quem não são, apenas para, justamente, não se sentirem “sozinhos”.

Conforme explica a psicóloga Cecilia Rodríguez Díaz, é necessário “conhecer bem a definição de solidão e, por sua vez, contemplar essa questão como uma experiência completamente pessoal e subjetiva”. Há um grande número de formas possíveis de perceber ou de passar pela solidão. Afinal, muitas vezes, é possível estar cercado de pessoas e se sentir muito sozinho ou, pelo contrário, mesmo sem ter alguém ao lado, acreditar que está bem acompanhado.

A solidão está relacionada à falta de laços estreitos, de redes, de relações, de vínculos. Ou seja, exatamente o que vivemos atualmente. Hoje em dia, é muito difícil manter contato próximo com os outros, ainda que estejamos vivendo na era da tecnologia, das mensagens de texto, das redes sociais e das videochamadas.

É possível desejar estar sozinho?

Antes de responder a essa pergunta, é necessário definir o tipo de solidão a que nos referimos. Os especialistas dizem que existem diferentes tipos. Tudo depende da essência e de como a pessoa se sente a respeito, e até mesmo se essa solidão é induzida ou “forçada”. Cada pessoa saberá por que prefere ficar sozinha e o que vivencia nesses momentos, bem como o que acontece dentro de si quando se vê cercada por outras pessoas.

Há alguns padrões que se mantêm na maioria dos casos de quem escolhe a solidão: timidez, medo, dificuldade para se relacionar, medo da rejeição, de cometer erros ou de ser machucado. Assim, essas pessoas evitam sair com os outros, manter grupos de amigos, conversar. Isso vai levando à solidão. Mas, ao contrário disso, há aqueles que realmente preferem ficar sozinhos porque se sentem melhor dessa forma, porque consideram que são autossuficientes, que não precisam de mais ninguém, que a solidão os torna menos vulneráveis, etc.

Entre outros tipos de solidão, também podemos citar os casos de quem parece amar ou gostar dela, que não se importa em passar semanas sem ver ou falar com seus entes queridos, que procura se isolar dos outros, que nunca se reúne para um aniversário, que prefere trabalhos solitários, etc.

E, por fim, a “solidão circunstancial”, ou seja, aquela que pode surgir por diversos motivos, tais como divórcio ou morte. Isso não é algo que se busca, mas sim que “cai do céu”. Portanto, isso requer vivenciar o luto e compreender as perdas.

Quando a solidão é saudável?

Sem dúvida, isso é o mais difícil compreender, por causa da nossa concepção como seres sociáveis e sociais, com a necessidade de viver em comunidade, de ter uma família, de “pertencer”. Assim, torna-se muito difícil entender ou pensar que a solidão também pode ser sinônimo de plenitude ou felicidade, ou seja, de saúde.

Porém, a solidão pode se tornar uma experiência harmoniosa e muito enriquecedora, desde que não se ultrapasse os limites. Ou seja, a ideia não é ir morar sozinho no meio da montanha ou parar de falar com os pais de um dia para o outro. Trata-se de dedicar certos momentos do dia ou da semana para ficarmos, de forma pura e simples, “com nós mesmos”.

Finalmente, a relação com o nosso eu interior é muito importante e isso é algo que só se consegue por meio da solidão. Para o que ela serve? Por exemplo, para reconhecermos um problema conosco antes que se torne insuportável, para nos defendermos do que acontece ao nosso redor, para ouvirmos o que o corpo nos diz, etc.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.