Quando se ama demais, talvez não se ame (codependência)

Há quem tolere e justifique os comportamentos abusivos ou tóxicos do outro dizendo que ele age assim porque ama demais. O que há, na verdade, é uma postura codependente, que nasce de uma profunda insegurança e medo do abandono.
Quando se ama demais, talvez não se ame (codependência)
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 21 maio, 2019

Há pessoas que estão dispostas a fazer o que for ou suportar qualquer humilhação em nome do amor. Elas partem da premissa de que quando se ama demais, deve existir, acima de tudo, abnegação. Isto é, oferecer afeto sem condições e perdoar mil e uma vezes se for necessário. Tudo isso com objetivo de não perder ou desagradar o ser amado.

Dentro desse grupo de pessoas, estão, por exemplo, as mães que sempre pagam as dívidas que seus filhos contraem. Elas sabem que não é o certo, mas acabam justificando a ação em nome do amor. Também há aquelas pessoas que dormem junto com quem as maltrata. Nunca se separam, ou se separam apenas para voltar pouco tempo depois. Elas argumentam que quando se ama demais, nenhuma ofensa é capaz de acabar com esse vínculo.

A verdade é que em casos assim não estamos diante de um amor fora do comum, mas sim de uma dependência. Esse aspecto leva a pessoa a sentir um tipo de afeto que lhe parece esmagador e fora de controle. Literalmente, essas pessoas sentem que não conseguem viver sem o outro. Por isso, estão dispostas a tudo, menos a romper esse vínculo. Nesses casos, na verdade, a pessoa não ama demais, ela não tem amor por si mesma.

“A vítima depende do agressor, há uma dependência emocional. Mas o agressor também depende da vítima porque baseia sua autoestima na dominação”.
-Ana Isabel Gutiérrez Salegui-

Mulher triste deitada na cama

Ama-se demais ou necessita-se demais?

Uma pessoa codependente, sem perceber, age seguindo um princípio: eu preciso que você precise de mim. Essa é sua forma de construir vínculos significativos na vida. Sua atitude básica é “salvar” o outro, servir como amortecedor para qualquer consequência negativa derivada dos atos dessa pessoa.

Isso está associado a uma perspectiva na qual a própria pessoa não tem importância para si mesma. Aparentemente, suas necessidades e seus desejos sempre devem estar em um segundo plano. A única coisa que verdadeiramente importa são as necessidades e os desejos do outro. Por isso, elas estão dispostas a se sacrificar. Explicam essa situação injusta simplesmente afirmando que quando se ama demais, os limites em relação à entrega desaparecem.

No entanto, essa situação gera sofrimento e ansiedade. Quando se ama demais, é provável que também se tenha dificuldade para dormir ou exista a sensação de um estado de preocupação constante, alterações alimentares ou dificuldades em outros âmbitos. Essas pessoas afirmam que amam o outro, mas mais cedo ou mais tarde, transformam seus cuidados e sua dedicação em condutas de controle, orientadas a manter o outro atado a si.

Preciso que você precise de mim

A característica distintiva da codependência é que, por um lado, há alguém que deseja intensamente se sentir útil, ou melhor, necessitado. Essa sensação não pode ser obtida de alguém autônomo e maduro. É preciso que haja uma pessoa frágil e com muitos problemas. Então, forma-se um vínculo no qual em um polo há alguém com carências e dificuldades, que não quer ser responsável por si mesmo. E no outro polo está a pessoa codependente, que, de uma maneira ou de outra, assume essa responsabilidade que não lhe corresponde.

O que resulta disso é uma simbiose pouco saudável. Um tipo de relação na qual há abusos de ambos os lados. Na verdade, há um acordo tácito: uma das partes “se compromete” a não resolver seus próprios problemas e a outra a impedir que o contrário aconteça, em troca de um “amor” incondicional. É uma confusão neurótica difícil de reconhecer e analisar para os envolvidos.

Quando se ama demais

Portanto, o codependente alimenta as condutas abusivas do dependente, seus excessos de consumo, raiva, passividade ou de qualquer outra coisa. E também suas exigências excessivas. Isso ajuda a não traçar limites. O que mais causa medo ao codependente é que o outro deixe de precisar dele. Em seu imaginário, se isso acontecer, provavelmente a outra pessoa se afastaria, pois não precisaria mais de seu manto protetor.

Quando se ama demais, talvez no fundo esteja escondido um profundo medo do abandono. Nesse tipo de “amor” prevalece o sofrimento, não a felicidade. É algo comum em pessoas que têm carências ou abusos de infância que não foram trabalhados. É possível sair de uma situação desse tipo quando se reconhece que grande parte do que se sente e se faz não é fruto do amor, mas do medo. Ou também quando os envolvidos decidem cultivar o amor-próprio em vez de projetar essa falta no outro.


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  • Hoyos, M. L., Arredondo, N. H. L., & Echavarría, J. A. Z. (2007). Distorsiones cognitivas en personas con dependencia emocional. Informes psicológicos, 9(9), 55-69.

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