Querer não é poder, mas o desejo nos mantém vivos

Querer não é poder. Entre o desejo e a consumação existe uma distância às vezes intransponível. O mesmo desejo que nos tortura é também o que nos faz viver.
Querer não é poder, mas o desejo nos mantém vivos
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Querer não é poder. Existe uma distância, às vezes infinita, entre um desejo e a sua realização. Para o melhor ou para o pior, a nossa mente não governa a realidade. O nosso poder é limitado, as nossas expectativas frágeis, o erro comum, cotidiano, caro e feliz quando realmente nos faz crescer, quando é um ponto de apoio e não somente um terreno escorregadio. Definitivamente, querer não é poder.

Outro dia eu estava ouvindo uma locutora no rádio elogiando uma canção de amor depois de tocar tantas canções de desamor, corações apaixonados em vez de corações partidos. Nós não somos quem queremos ser, porque a nossa tentativa é válida mas o tempo nos leva para o próximo desejo. Por outro lado, existem relacionamentos que terminam, enquanto o amor não acaba nunca. Ele sobrevive ao tempo, que não o apazigua.

Homem pensativo

Querer não é poder: desejo e controle

A falta de controle não é patológica, mas a obsessão ou certas estratégias que pretendem ser uma adaptação são. A repetição nos dá segurança, mas a compulsão é o melhor alimento para a ansiedade.

Os manuais de diagnóstico, nas mãos de um neófito, só levam à patologização excessiva da população. Todos nós caberíamos, mais ou menos, em algum quadro, assim como o nosso futuro incerto pode ser “previsto” pelo horóscopo. Até um relógio parado está correto duas vezes por dia.

A diferença entre um coração partido e um coração inteiro é a esperança. Quem a tem vive, quem não a tem, morre. É por isso que é a última coisa que perdemos, a nossa última pele antes de nos tornarmos fantasmas. Sem ela, somos apenas vulneráveis; portanto, quando ela é compartilhada, podemos encontrar intimidade com outra pessoa.

Todos nós somos dependentes. Somos capazes de dar tudo quando nos tocam no lugar certo, mas também de nos tornarmos egoístas quando nos sentimos ameaçados ou temos a sensação de que fomos deixados sozinhos para enfrentar a vida.

Nos separamos da vítima ou do carrasco, tentando encontrar elementos que possam nos distinguir, como uma infância ruim ou uma infância feliz. No entanto, a psicologia social nos diz que, em condições muito específicas, todos ou quase todos seriam capazes de cometer atos que censurariam mais tarde. O medo é uma emoção tão poderosa que pode nos fazer negar a nossa essência. Existem precipícios que preferimos não reconhecer. Portanto, querer não é poder.

Vida e motivação

Quando falamos sobre a adolescência, costumamos falar sobre a importância dos iguais, o valor que atribuímos quando nos sentimos parte de um grupo. Obter essa validação é muito importante. Porém, muitas vezes esquecemos que essa motivação continua presente por toda a vida.

Além disso, estamos falando de uma motivação que também funciona na direção oposta: podemos chegar a criticar uma ideia – independentemente de seu conteúdo – porque ela é apoiada por um grupo com o qual não estamos relacionados. Este é um fenômeno que ocorre com frequência na política.

É uma situação difícil de analisar; pesam a culpa, o medo, as feridas não cicatrizadas, as palavras que guardamos. Existe o recesso de vidas paralelas e de quando a nossa vida não vai bem. A armadilha de nos julgarmos sabendo das consequências. Ninguém quer sofrer, mas a maioria sofre quando sente que magoou o outro.

O esquecimento não é prova irrefutável de desinteresse. A nossa memória é caprichosa e, às vezes, esconde palavras na ponta da língua. A nossa atenção se desgasta rapidamente.

Valores com um valor verdadeiro

A honestidade é, talvez, o valor mais escasso. Todos nós já fomos julgados mil vezes, passamos por traições que nos feriram. Muitas vezes fomos consideramos tolos por sermos bons.

Existe um conjunto de variáveis ​​que fogem ao nosso controle e que têm muito a ver com o nosso destino. Em parte, portanto, querer não é poder, não há determinismo no resultado final.

Querer é desejo ou anseio, mas o restante da equação também é importante. Quais recursos nós temos? Que margem nós temos? O realismo se separa do pessimismo no momento em que nos dá opções.

Mulher em campo de trigo

Muito além de ‘querer não é poder’

Querer não é poder, necessariamente. Isso não impede que, às vezes, com o nosso desejo, possamos alcançar o efeito Pigmalião ou uma profecia autorrealizável. Quando acreditamos que vamos ser curados, somos mais fiéis ao tratamento que nos foi prescrito. Isso não invalida a nossa capacidade de enfrentar a concorrência ou de tentar encontrar soluções para os problemas que surgem.

Nesse sentido, a impossibilidade exige a possibilidade. Na verdade, ela valoriza a inteligência na tomada de decisões, o nosso lado humano para superar a desconfiança e apostar na honestidade ou na generosidade diante do egoísmo, na resposta fácil quando surge o medo. Querer não é poder; em troca, querer é um sinal de vida. Se a esperança é a nossa última pele, é o desejo que nos mantém vivos.


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