A raiva, uma emoção que seduz o nosso monólogo interior
A raiva é uma emoção que seduz nosso monólogo interior, que nos sequestra pensamento, palavra e ação. Uma arma defensiva que, se mal utilizada, pode se voltar contra nós mesmos e causar até grandes danos se a deixarmos crescer.
A ideia de vulnerabilidade que se esconde por trás da raiva
Por quê? Porque convertemos fatos isolados no foco contínuo de nossa atenção, impedindo a nós mesmos de desfazer uma bola de neve emocional que roda e roda, se tornando cada vez maior.
Compreensão e expressão, os primeiros passos da calma
Quando nos tornamos conscientes de nossos sentimentos e emoções, conseguimos dar um passo a mais para lidar com eles e transformá-los em utilidades, e não em danos. Digamos que pisamos no freio quando nos expressamos, pois liberamos grande parte da carga afetiva que promove a chegada de estados de ânimo negativos e potencialmente ameaçadores para o nosso equilíbrio.
Se voltarmos ao exemplo da criança com raiva pelo roubo de seu brinquedo, será mais fácil ver como é normal e adaptativo promover a igualdade por meio do protesto e do pedido de que seja restaurada a liberdade violada.
Mas, conforme já dissemos, uma vez que a raiva surge perante qualquer ameaça física ou psíquica, é importante lidar com esses sentimentos e emoções que já nasceram conosco. Caso contrário nos veremos dominados por pensamentos e ações que só trazem mal-estar sem qualquer preocupação de resolver situações.
A anatomia do nosso cérebro emocional com raiva
Quando percebemos através dos nossos sentidos que uma injustiça foi cometida ou alguém faltou o respeito conosco ou com algo ou alguém de nosso interesse pessoal, nosso sistema límbico (amígdala e estruturas adjacentes) recebe uma faísca que põe em marcha toda a maquinaria.
Em outras palavras, é ativado o nosso sistema nervoso central e, com ele, nosso corpo e nossa mente se preparam para dar início à ação. Por sua vez, o neocórtex se encarrega de calcular e dar início a outra ação, essa mais ou menos ajustada à situação.
Assim, a descarga límbica supõe a liberação de catecolaminas (neurotransmissores norepinefrina, epinefrina e dopamina), o que nos ajuda a raciocinar de maneira decidida e rápida. Nesses momentos em que a ativação é grande, podemos ficar muito vermelhos. Nossas bochechas podem esquentar, nossas juntas empalidecer, e nossa mente ir a mil quilômetros por hora.
Por outro lado, a ativação do ramo adrenocortical fomenta uma ativação prolongada que nos predispõe a uma ação durante mais tempo. Essa hipersensibilidade consegue dominar a nossa mente, a qual tende a se alimentar do menu dos pensamentos negativos em espiral.
Ou seja, qualquer pequeno barulho nos fará pular, construindo raiva atrás de raiva e incapacitando-nos cognitivamente cada vez mais, pois não conseguimos raciocinar de modo adequado, o que nos leva a deixar de lado pensamentos que deteriam o aumento exponencial da raiva.
A distância emocional, necessária para esfriar a raiva
Como vimos, a chave para lidar com a raiva de maneira correta está em frear os impulsos. Isso pode ser alcançado de dois modos:
- Tomando distância física e emocional da situação para evitar que a descarga de adrenalina nos domine e seja alimentada através de uma irritabilidade que reina.
- Detendo nosso monólogo interno. Ou seja, nos distrairmos e não legitimarmos os pensamentos que passam a dominar a nossa mente.
É isso o que nos faz afirmar que a raiva é uma emoção que seduz o nosso monólogo interior, promovendo argumentos “mais que convincentes” de que aquilo que nos deixou com raiva é a origem de todo o mal.
Pensamento hostil traz pensamento hostil, e acaba sendo construída uma cadeia de raiva até que esta fica tão grande que é convertida em ira. Por isso, se nos questionarmos sobre esses pensamentos que tomam a forma de razões categóricas, conseguiremos apaziguar a cena mental que promove o mal-estar desmedido.
Assim, pouco a pouco, o fogo poderá ir desaparecendo quando deixamos de dar lenha para alimentá-lo, ajudando-nos a contemplar a situação longe das grades que antes nos dominavam. Esse é o primeiro passo para o bem-estar emocional.