Recaída e recomeço: quando voltamos à depressão

As recaídas constituem uma realidade clínica comum na depressão. Além de ter que recomeçar de alguma forma, o principal problema decorre dos sentimentos de frustração e culpa que podem resultar dessa recaída, bem como da perda de confiança.
Recaída e recomeço: quando voltamos à depressão
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Recaída e recomeço: quando voltamos à depressão, surge um sentimento frustrante e assustador, geralmente sobrecarregado pelo peso da culpa. Alguns dados estatísticos mostram que isso é bastante comum.

Cerca de 80% dos pacientes que sofreram de um distúrbio depressivo retornarão a esse abismo em algum momento nos próximos 10 anos.

Uma das condições em que esse tipo de realidade é mais comum é o transtorno depressivo persistente (distimia). Os sintomas desse distúrbio geralmente vêm e vão por anos, variando em intensidade e com uma duração mínima de dois meses.

Como podemos imaginar, a qualidade de vida daqueles que estão sujeitos a essa situação é tão desgastante quanto complexa.

Tudo isso nos obriga a tomar consciência de algo muito específico: ainda não temos todas as ferramentas quando se trata de enfrentar os transtornos do humor.

Além disso, uma das deficiências que mais percebemos é a social, presente, por exemplo, na falta de informações reais e concretas que circulam pela sociedade em relação a esse tipo de realidade clínica.

Ainda se diz, por exemplo, que depressão é sinônimo de fraqueza. Portanto, continuamos, de alguma forma, tratando os transtornos mentais com um estigma negativo.

Por outro lado, há outro elemento-chave que deve ser levado em consideração nas instituições médicas: a prevenção de recaídas.

“Adeus tristeza.
Bom dia tristeza.
Você está inscrita nas linhas do telhado.
Você está inscrita nos olhos que eu amo (…)”
– Paul Éluard –

Como enfrentar uma recaída na depressão?

Recaída e recomeço: quando voltamos à depressão, o que está falhando?

A depressão é um distúrbio que requer uma abordagem de médio e longo prazo. O fato de termos alta após um tratamento farmacológico ou no final das sessões de terapia não implica, de forma alguma, que tenhamos colocado uma trava por toda a vida nessa condição. Ela continuará batendo à nossa porta.

A depressão geralmente não desaparece sem uma intervenção direcionada, a vontade da pessoa de melhorar e o apoio inteligente do ambiente social. Nesse sentido, os medicamentos ajudam, mas não curam.

Muitas vezes, apesar da melhora clínica, muitos pacientes continuam arrastando o que é conhecido como sintomas residuais. Quais são esses tipos de evidências camufladas que podem nos levar a uma remissão?

Um estudo sobre a prevalência e o curso da depressão realizado pela Universidade de Dublin em 2011 indica o seguinte:

  • Em primeiro lugar, os sintomas cognitivos residuais. São pensamentos, atitudes e esquemas negativos que os pacientes mantêm e impedem a completa remissão do distúrbio psicológico. A falta de atenção, a dificuldade de encontrar as palavras, a complicação para tomar decisões e a desaceleração mental são comuns.
  • Por outro lado, existem sintomas residuais físicos, como a falta de energia e os distúrbios do sono.

Vamos analisar esses aspectos mais detalhadamente.

A nossa abordagem mental alimenta o risco de recaída

Quando voltamos à depressão, sabemos muito bem o que temos à nossa frente. Precisamos recomeçar determinados tratamentos, consultar profissionais especializados, etc.

No entanto, devemos ser claros quanto a isso: em vez de “recomeçar”, seria mais uma “retomada” do que deixamos pendentes.

Um estudo realizado na Universidade de Toronto pelo Dr. Norman A. Farbher sugere que as recaídas são basicamente decorrentes do nosso modo de pensar. Se continuarmos acreditando no desamparo, tendo um diálogo interno crítico e negativo, o risco de cair em uma nova depressão é muito alto.

É importante lembrar que esse tipo de abordagem mental é quase como entrar no mar em um bote furado. Pensamentos negativos e debilitantes nos afundam, nos deixam cansados, sobrecarregados e incapazes de aplicar ideias originais, úteis e valiosas para navegar pela vida.

Além disso, esse tipo de diálogo interno pode até nos convencer de que não sabemos nadar.

Da mesma forma, é comum que esses sintomas cognitivos acabem tendo respostas somáticas: nos sentimos sem energia, exaustos, com dores musculares, com problemas de sono…

Navegar pelos mares da depressão

Recaída e recomeço: terapia cognitiva baseada na atenção plena

Quando voltamos à depressão, é necessário procurar ajuda especializada. Não vale a pena achar que não é necessário, que apesar de estarmos desalinhados por dentro, podemos continuar com o trabalho, sorrir quando todo mundo sorri e ir para a cama desejando se sentir melhor no dia seguinte. Isso pode ajudar, mas não é suficiente.

Há muitas pessoas que ‘sentem na pele’ essa realidade sem decidir procurar ajuda. Outros, apesar de iniciar uma terapia psicológica, acabam desistindo entre o primeiro e o sexto mês. Não é bom fazer isso.

Se quisermos enfrentar esse distúrbio e, mais importante, evitar recaídas, a terapia cognitiva para depressão baseada na atenção plena é uma das mais eficazes.

Estudos, como o realizado pelo Dr. John D. Teasdale, pesquisador-chefe da Universidade de Oxford e mais tarde da Unidade de Cognição e Ciências do Cérebro de Cambridge, mostram os benefícios dessa abordagem terapêutica.

Pacientes que tiveram recaídas por pelo menos três vezes mostraram não apenas uma melhora, mas também adquiriram estratégias valiosas para reduzir o diálogo interno negativo, controlar pensamentos e manter hábitos de vida positivos.

Dessa forma, conseguiram evitar uma nova recaída. Enfrentar esses desafios mentais e emocionais está em nossas mãos se tomarmos a decisão de melhorar com responsabilidade e determinação. Vale a pena tentar!


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Richards, D. (2011, November). Prevalence and clinical course of depression: A review. Clinical Psychology Review. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2011.07.004
  • Teasdale, J. D., Segal, Z. V., Williams, J. M. G., Ridgewaya, V. A., Soulsby, J. M., & Lau, M. A. (2000). Prevention of relapse/recurrence in major depression by mindfulness-based cognitive therapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology68(4), 615–623. https://doi.org/10.1037/0022-006X.68.4.615

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.