O que é a reestruturação cognitiva?

O que é a reestruturação cognitiva?
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O que aconteceria se o seu companheiro sentimental o abandonasse? Com certeza você diria que isso é algo terrível, mas será que realmente é tão terrível assim? Quantas coisas piores existem neste mundo? Quantas são mais terríveis do que o abandono de nosso companheiro sentimental, ou que nosso filho seja reprovado em uma matéria? Você deve estar se perguntando por que eu estou fazendo essas perguntas. A resposta? agora vamos falar sobre a reestruturação cognitiva.

A reestruturação cognitiva é uma técnica que se concentra em nossos pensamentos. Ela ensina as pessoas a substituir aqueles pensamentos desadaptativos por outros que as ajudem a não sofrer tanto. Portanto, a reestruturação cognitiva é uma das técnicas cognitivo-comportamentais mais sugestivas dentro do repertório de um psicólogo. Se mudarmos determinados pensamentos, mudaremos as emoções associadas a eles, o que vai fazer com que nos sintamos melhor.

Um pensamento é uma hipótese

A reestruturação cognitiva consiste em que o cliente, com a ajuda do psicólogo, identifique e questione os seus pensamentos desadaptativos. Assim, eles serão substituídos por outros mais apropriados, e vão reduzir ou eliminar a perturbação emocional causada pelos primeiros.

Mulher confusa com seus pensamentos

Na reestruturação cognitiva, os pensamentos são considerados hipóteses. O terapeuta e o paciente trabalham juntos para reunir dados que determinem se estas hipóteses são corretas ou úteis. Em vez de dizer aos pacientes quais são os pensamentos alternativos válidos, o terapeuta formula uma série de perguntas. Depois, ele vai planejar experiências comportamentais para que os pacientes avaliem e coloquem os seus pensamentos negativos à prova.

Finalmente, os pacientes vão chegar a uma conclusão sobre a validez e a utilidade destes pensamentos. Como podemos ver, o psicólogo ou terapeuta não impõe nada. É o próprio paciente que vai tirando as suas conclusões a partir das experiências que vai realizando.

Bases teóricas da reestruturação cognitiva

A reestruturação cognitiva se baseia em certas suposições teóricas. Estas suposições teóricas são as seguintes:

  • O modo como as pessoas estruturam as suas experiências de maneira cognitiva exerce uma influência fundamental em como elas se sentem e agem, assim como nas reações físicas que elas têm. Em outras palavras, nossa reação diante de um acontecimento determinado depende, principalmente, de como nós enxergamos, atendemos, avaliamos e interpretamos este acontecimento.

Imagine que nós combinamos um encontro com uma pessoa que conhecemos faz pouco tempo. Gostamos muito dela, mas já se passou meia hora e ela ainda não apareceu. Se a nossa interpretação sobre isso é de que ela não está interessada em nós, vamos ficar tristes e não voltaremos a ter contato com ela.

No entanto, se pensarmos que essa demora se deve a um imprevisto ou uma confusão momentânea, nossa reação emocional e comportamental será muito diferente. afeto, o comportamento e as reações físicas influenciam uns aos outros e contribuem para manter os pensamentos.

  • Podemos identificar os pensamentos das pessoas através de métodos como a entrevista, os questionários e os diários. Muitos destes pensamentos são conscientes e outros são pré-conscientes, mas a pessoa é capaz de acessá-los.
  • É possível modificar os pensamentos das pessoas. Isso pode ser utilizado para conseguir mudanças terapêuticas.

O modelo ABC da reestruturação cognitiva

O modelo cognitivo em que a reestruturação cognitiva se baseia foi denominado modelo A-B-C por alguns autores (por exemplo, Ellis, 1979a). As três letras fazem referência ao seguinte:

  • A letra A faz referência a uma situação, acontecimento ou experiência ativadora da vida real. Por exemplo, ser criticado por uma pessoa muito querida ou ser reprovado em uma prova.
  • A letra B se refere às cognições (pensamentos) apropriadas ou inapropriadas do paciente sobre a situação (A). As cognições também fazem referência aos processos cognitivos. Entre eles estão a percepção, a atenção, a memória, a reflexão e a interpretação.

As suposições e crenças que uma pessoa tem facilitam que ocorram certos erros no processamento da informação. Entre estes erros ou falhas, encontramos a sobregeneralização, a filtragem, o pensamento dicotômico, a catastrofização, etc.

  • Por último, a letra C faz referência às consequências emocionais, comportamentais e físicas de B (cognições). Por exemplo, sentir medo, tremer e sair correndo ao interpretar de maneira ameaçadora a aparição de um cachorro que se aproxima latindo.

Emoções, conduta e reações físicas se influenciam reciprocamente e contribuem para manter as cognições. No modelo A-B-C, as cognições sempre precedem a emoção. No entanto, a emoção pode existir por alguns momentos sem as cognições prévias.

Uma suposição básica na utilização da reestruturação cognitiva é que as cognições têm um papel importante na explicação do comportamento humano em geral e das alterações emocionais em particular.

Como podemos comprovar, segundo a reestruturação cognitiva, não são os acontecimentos os responsáveis pelas nossas reações emocionais e comportamentais. Seriam as expectativas e as interpretações de tais acontecimentos, junto com as crenças relacionadas aos mesmos, as responsáveis pela forma como nos sentimos.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Ackerman, C. (2018, 12 de febrero). CBT´s cognitive restructuring (CR) for tackling cognitive distorsions. PositivePsychology. https://positivepsychology.com/cbt-cognitive-restructuring-cognitive-distortions/#techniques-cognitive-restructuring
  • Beck, J. (2006). Terapia cognitiva: conceptos básicos y profundización. Gedisa.
  • Leahy, R. L., & Rego, S. A. (2012). Cognitive Restructuring. In Cognitive Behavior Therapy: Core Principles for Practice. https://doi.org/10.1002/9781118470886.ch6
  • Shikatani, B., Antony, M. M., Kuo, J. R., & Cassin, S. E. (2014). The impact of cognitive restructuring and mindfulness strategies on postevent processing and affect in social anxiety disorder. Journal of Anxiety Disorders. https://doi.org/10.1016/j.janxdis.2014.05.012
  • Johnco, C., Wuthrich, V. M., & Rapee, R. M. (2014). The influence of cognitive flexibility on treatment outcome and cognitive restructuring skill acquisition during cognitive behavioural treatment for anxiety and depression in older adults: Results of a pilot study. Behaviour Research and Therapy. https://doi.org/10.1016/j.brat.2014.04.005
  • Marks, I., Lovell, K., Noshirvani, H., Livanou, M., & Thrasher, S. (1998). Treatment of posttraumatic stress disorder by exposure and/or cognitive restructuring: A Controlled Study. Archives of General Psychiatry. https://doi.org/10.1001/archpsyc.55.4.317
  • Myles, P., & Shafran, R. (2015). The CBT Handbook: A comprehensive guide to using Cognitive Behavioural Therapy to overcome depression, anxiety and anger. London, UK: Hachette.
  • Nguyen, J., & Brymer, E. (2018). Nature-based guided imagery as an intervention for state anxiety. Frontiers in Psychology9, 1858.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.