Quando os resultados dependem da epistemologia
Certamente todos nós já ouvimos o termo epistemologia alguma vez na vida. A complexidade da palavra já dá um ar de importância a ela e, de fato, ela é importante.
Apesar de muitos não terem consciência da epistemologia que seguem, existem pessoas que estudam e debatem este assunto. Mas, afinal de contas, o que é epistemologia? A epistemologia é um ramo da filosofia cujo objetivo é o conhecimento.
O conhecimento é aquele conjunto de saberes que aceitamos como verdadeiros. No entanto, para que um conhecimento seja aceito como verdadeiro, outros conhecimentos precisam ser taxados de falsos. Dessa maneira, a epistemologia se concentra nos critérios que validam o conhecimento.
O oposto, ou seja, a destruição do conhecimento, é conhecido como epistemicídio. Assim, um epistemicídio aconteceu, por exemplo, quando as mulheres eram queimadas acusadas de bruxaria na Europa. Na verdade, elas eram queimadas por ter conhecimentos que não agradavam aqueles que estavam no poder; deste modo, acabavam com o conhecimento.
Tipos de conhecimento epistemológico
A epistemologia estuda o conhecimento. Mais precisamente, como o conhecimento é obtido. Ou seja, quais critérios é preciso seguir para obter conhecimento.
Além disso, a epistemologia define conceitos como “verdade“, “objetividade”, “realidade” e “justificação”. Dessa forma, a epistemologia serve para definir, entre outras coisas, o que é a ciência.
A princípio, para saber o que é conhecimento e o que não é, é preciso perguntar a si mesmo se é possível alcançar o conhecimento de alguma verdade. Se pensarmos que não é possível, estaremos na escola dos céticos. Entretanto, se você considera que as verdades existem, surgirão duas novas perguntas.
A primeira destas perguntas é como é possível alcançar essa verdade. Se acharmos que só é possível conseguir isso através do uso dos sentidos, seremos empiristas. Do contrário, se acharmos que é possível chegar à verdade através do uso da razão, seremos racionalistas.
A segunda pergunta faz referência a qual é o objetivo da verdade. Se considerarmos que o objeto dessa verdade é interno em si mesmo, por exemplo, a opinião que temos sobre algo, seremos idealistas. No entanto, se o objeto da verdade for uma realidade externa a si mesmo, seremos realistas.
“Acredito que a epistemologia criada pela televisão não só é inferior à epistemologia baseada na impressa, mas mais perigosa e absurda”.
-Neil Postman-
Implicações para escolher uma epistemologia ou outra
Na psicologia, como em outras ciências, se posicionar epistemologicamente é fundamental. Geralmente, considera-se que as ciências são as áreas que chegam ao conhecimento da verdade através do uso dos sentidos. Em outras palavras, são empiristas. Além disso, são realistas; ou seja, consideram que a verdade está na realidade externa.
Entretanto, nem todas as ciências têm este posicionamento. Há escolas como o Interpretacionismo, o Construtivismo ou o Humanismo, que não dão a mesma resposta às perguntas epistemológicas.
Em oposição, o Positivismo e o Pós-positivismo se situam mais próximos da epistemologia que citamos no parágrafo anterior. Portanto, existe um debate sobre qual epistemologia é a que proporciona o verdadeiro conhecimento.
O conhecimento que parte de cada uma destas escolas vai ser diferente. Embora possam concordar em muitas coisas, as formas de obter conhecimento ou metodologias vão ser diferentes. Consequentemente, o conhecimento de algumas escolas pode ser rejeitado por outras.
Implicações na psicologia
Embora possa parecer que a epistemologia não é mais que uma discussão de sábios sem resposta, na atualidade encontramos um debate muito relevante. Este é o debate acerca das terapias alternativas, como a que se baseia em produtos homeopáticos.
Recentemente, foi colocada em dúvida a eficácia destes produtos homeopáticos. São realmente eficazes? A resposta dada pelo Pós-positivismo é que “não”. Diferentes experimentos confirmam que eles não têm um efeito real além do placebo.
No entanto, uma escola cuja posição epistemológica se concentra no racionalismo e em um objeto interno poderia argumentar que se as pessoas que usam estes produtos dizem que eles funcionam, é porque eles realmente funcionam.
Portanto, o debate das terapias alternativas se situa em um nível epistemológico. Dependendo da resposta para as perguntas expostas no princípio do texto, pode-se chegar a considerar que estas terapias produzem ou não o efeito desejado.
Consequentemente, é necessário saber o posicionamento epistemológico defendido por uma postura ou outra e, é claro, ser crítico e saber das limitações que os diferentes métodos têm na hora de contribuir com conhecimento verdadeiro.
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