O salto entre estar certo ou ser feliz

O salto entre estar certo ou ser feliz

Última atualização: 21 maio, 2016

“Dois amigos íntimos embarcaram numa excursão. Ao cair da noite foram dormir embaixo de uma árvore, um ao lado do outro. Um deles sonhou que haviam tomado um barco e tinham naufragado numa ilha. Ao despertar, começou a perguntar ao seu companheiro se ele lembrava da travessia, do barco e da ilha. Não acreditou quando seu amigo disse que ele não tinha tido esse sonho. Impossível, ele não podia acreditar! Irritou-se com seu amigo e se negou a aceitar que ele não tinha tido o mesmo sonho que ele…”

A intolerância, o ego, o orgulho, a incompreensão e a falta de empatia são as barreiras naturais que nos afastam dos momentos de felicidade ou dos estados de tranquilidade e paz interior.

Até que ponto estamos dispostos a aguentar uma situação incômoda? Sabemos conviver enfrentando os outros e, sobretudo, a nós mesmos? Realmente controlamos como queremos a balança dos prós e dos contras?

A má gestão de situações de tensão nas quais estamos envolvidos e das quais não sabemos sair, ou não queremos resolver, a não ser que seja favorável para nós, nos priva e nos arranca horas, semanas e inclusive anos para aproveitar melhor nossos amigos, família ou companheiro(a) pelo simples fato de querermos “ter razão”.

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A razão é tão poderosa?

O sentimento de vitória é uma droga poderosa à qual podemos nos conectar quando está alimentada de orgulho e ego. Mas qual é o preço de nos mantermos nessa postura?

O valor do que ganhamos com a razão é maior do que o que perdemos? A satisfação que encontramos no respeito obtido ao “ter razão” deve se encaixar na equação da tranquilidade, juntamente com as pinceladas de companheirismo, conexão, carinho, amizade e apoio.

O cinema e a literatura estão repletos de relatos onde manter-se firme e obcecado em nossas posições nos conduz à desgraça ou à infelicidade. No entanto, pouco aprendemos disso. Refletimos e inclusive opinamos sobre o que alguém próximo deveria fazer ou deixar de fazer, mas na hora de verdade, pregar pelo exemplo é o que falta.

Mais além dos motivos

Aquilo que envolve a posição fechada de uma pessoa obcecada em obter um resultado favorável em uma discussão se baseia em três elementos:

  • Necessidade de reforçar seu ego
  • Necessidade de reafirmar sua autoestima
  • O medo de outras posições ou de “perder” poder e controle

Salvo em casos de provas reais onde não existe debate possível e o enfrentamento não depende de interpretações, o natural é que ninguém seja dono da verdade absoluta.

Esta ideia parece amadurecer dentro de nós e estar presente em momentos de sobriedade, mas às vezes vacila quando confrontamos outras pessoas…

Ao que conduz o estancamento posicional?

Raiva, medo, frustração e ira. Quando vemos que algo não se resolve ou não satisfaz nossas vontades, uma série de mecanismos é posta em movimento, desencadeando emoções negativas que entorpecem nosso raciocínio e consomem nossa energia interior.

Quando ficamos presos a uma posição, perdemos energia e, sobretudo, tempo. Tempo que perdemos de aproveitar sem amarras e sem sentimento de compromisso ou obrigação.

Censuras, tentativas de manipulação, exigências, jogo sujo, dependências emocionais, etc. Devemos estar preparados para detectar todos os seus sinais no momento em que nos encontramos numa posição assim.

E não apenas detectá-los nos outros, mas também em nós mesmos, que arrastados pelas emoções mencionadas anteriormente, temos comportamentos dos quais não nos orgulharíamos em situações normais, de tranquilidade e flexibilidade.

Como sair do atoleiro?

Podemos formular algumas perguntas que nos ajudem a encontrar um caminho flexível:

  • Como me sinto com a situação? Encontrar as palavras adequadas para descrever como nos sentimos favorece a ordenação do pensamento e nos ajuda a eliminar o “ruído” que pode anestesiar os aspectos mais razoáveis da situação.
  • A outra pessoa sabe como me sinto? Então vá mais além das discussões controladas pelas emoções, e mais além do “porque você é…” e “eu sou…”.
  • Tenho conhecimento de como a outra pessoa está se sentindo? Em algumas ocasiões, recorremos à interpretação do pensamento. Isso não é mais que dar como certas afirmações do tipo: “com certeza ele pensa que…”.
  • Como começou o conflito? O que eu queria conseguir e o que a outra pessoa queria conseguir?
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O passo seguinte será formular alternativas dentro do conflito para solucioná-lo e para conhecer até que ponto posso ser flexível e ceder, ou em que ponto posso deixar de buscar a reafirmação do reconhecimento.

Isso tudo desde a mais profunda sinceridade. De nada serve fingir flexibilidade. Mais cedo ou mais tarde a verdade acabará aparecendo, e encarnaremos outro conflito potencializado pelo anterior com distintas formas  e linguagens, mas com a mesma pele.

Vamos investir o tempo que podemos ganhar com os demais e outorguemos a ele o valor que o corresponde. Com certeza muitas vezes é maior do que apenas um “te disse” ou um “eu sabia”.


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