Sensibilidade masculina: muito além dos mitos

Os homens, assim como as mulheres, têm sua própria sensibilidade. Graças a isso, podem se abrir para novas perspectivas, estabelecer novas conexões consigo mesmos, com os outros e com a natureza.
Sensibilidade masculina: muito além dos mitos
María Alejandra Castro Arbeláez

Escrito e verificado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O mundo está cheio de mitos. A sensibilidade masculina é uma importante fonte deles. No entanto, atualmente, esse tema tem atraído um maior interesse por parte de muitas pessoas, visto que vem sendo observado a partir de uma perspectiva diferente, livre de falsas crenças.

Antes de continuar, gostaríamos de esclarecer que não pretendemos entrar em um debate sobre o relativismo cultural e quais são os estereótipos mais aceitos em cada cultura. O que desejamos é destacar a atual transformação do conceito de masculinidade.

Nos últimos anos, o masculino tem sido progressivamente associado à sensibilidade, principalmente em determinados aspectos. Isso significa uma mudança em uma ampla variedade de mitos de algumas culturas ocidentais.

Afinal, a sensibilidade é uma característica dos seres vivos, e um homem não deixa de lado a sua masculinidade por reconhecê-la e aceitá-la.

Vamos, então, falar um pouco sobre o conceito de sensibilidade masculina e transcender mitos. Dessa forma, encontraremos uma outra perspectiva sobre o ‘masculino’ e, ao mesmo tempo, observaremos algumas crenças que ainda são mantidas a esse respeito.

Homem escolhendo entre dois caminhos

O que é a sensibilidade masculina?

Todos os seres, inclusive o homem, têm a capacidade de sentir. No entanto, em determinados contextos, crenças e culturas, o homem foi privado dessa faculdade. A masculinidade e o mundo da sensibilidade e das emoções nem sempre conseguiram caminhar juntos.

Por causa disso, ao longo da história e em termos gerais, o homem recebeu o papel de protetor pela sua própria força, independentemente do ambiente em que se encontra.

Por exemplo, em várias culturas lhe foi atribuída uma identidade na qual a sexualidade e o dinheiro desempenhavam um papel fundamental como símbolos de poder. Por isso, não era adequado que um homem demonstrasse os seus sentimentos, uma vez que isso era concebido como um sinal de fraqueza.

A novidade é que, em algumas culturas, há uma mudança importante nesse sentido. Cada vez mais homens aceitam e se abrem ao seu mundo afetivo, a sua parte sensível. E isso só será possível ao aceitar a sensibilidade e transformar o sentimento de insegurança em empoderamento.

Portanto, a sensibilidade masculina sempre existiu. É um aspecto inato do ser humano, independente do gênero: nós sentimos para nos proteger, para sobreviver… O que aconteceu é que ela foi atribuída apenas às mulheres em muitos contextos culturais.

Machão vs. homem sensível

Há algumas frases que se transformaram em leis de tanto serem usadas na nossa criação. De fato, elas acabam moldando a nossa identidade. O problema ocorre quando elas não são verdadeiras, detêm apenas meias verdades ou são baseadas em fundamentos errôneos.

Expressões como “os homens não choram”, “isso é coisa de menina”, “briga como uma mulher”, “as mulheres gostam de homens cafajestes”, ou “um homem de verdade não faz isso”, são apenas alguns exemplos.

Qualquer ensinamento desse tipo encoraja o homem a se afastar do seu lado emocional e a aceitar como regra a figura do homem forte e sem sentimentos.

A esse respeito, a psicologia cognitiva mostrou que as crenças são transmitidas de geração em geração e que, nesse processo, elas criam raízes. A psicanálise, por outro lado, nos ajudou a entender que essa mitificação acontece por meio de mecanismos inconscientes.

É importante entender que todo homem tem a liberdade de escolher outros caminhos e que, é claro, pode dar mais espaço ao seu universo afetivo.

Assim, seria possível passar do homem “machão” para o homem sensível. Um “novo homem” capaz de estabelecer conexões mais profundas consigo mesmo, com os outros e com a natureza.

Assim, seria interessante fomentar a noção de que se abrir à sensibilidade não diminui o homem. Simplesmente, em vez de seguir diretrizes de virilidade culturalmente estabelecidas, podemos ser flexíveis com a esfera emocional e, assim, tirar proveito de tudo que a sensibilidade pode nos oferecer.

Quais são as características de um homem sensível?

Falar de um homem sensível na nossa cultura atual seria falar de uma pessoa que tem as seguintes características:

  • Sabe que não perdeu a sua masculinidade.
  • Tem um entendimento que o aproxima do lado feminino.
  • Valoriza as outras pessoas em seus relacionamentos.
  • É compreensivo.
  • Valoriza a intuição.
  • Não ignora os seus sentimentos.
  • É espontâneo.
  • Compartilha gostos com meninas sem relutância.
  • Sabe que não precisa provar a sua masculinidade para ser “mais masculino”.
  • É mais introspectivo.
  • É capaz de gerenciar as suas emoções.

Embora seja difícil se desprender das normas sociais, culturais e familiares, esta possibilidade é real e existe. Os homens que chamamos hoje de sensíveis deram um passo adiante para encontrar o seu lado afetivo.

Agora, vale destacar que essas normas de masculinidade não são impostas apenas pelos homens. As mulheres também são, muitas vezes, responsáveis por isso.

Por esta razão, para quebrar as barreiras que negam o mundo afetivo ao homem, tanto homens quanto mulheres devem trabalhar juntos como participantes ativos nessa mudança.

Homem triste

Benefícios da sensibilidade masculina

Aceitar a sensibilidade como parte do masculino oferece grandes benefícios. Vejamos alguns deles:

  • Empatia: os homens sensíveis desenvolvem uma grande capacidade de se colocar no lugar do outro.
  • Compaixão: eles entendem o sofrimento de outros seres e querem aliviá-lo.
  • Crescimento espiritual: conseguem estabelecer conexões com seu mundo espiritual.
  • Autoconhecimento: conhecem a si mesmos em maior profundidade.
  • Autorrealização: alcançam os seus objetivos de forma satisfatória usando a sua parte emocional.
  • Inteligência interpessoal: constroem melhores relacionamentos com os outros, pois a empatia os ajuda a estabelecer conexões mais sólidas.

No entanto, é importante mencionar que, embora a sensibilidade masculina seja cada vez mais aceita, isso é algo que não é fácil para a maioria dos homens.

Como Walter Riso sugere em seu livro ‘Intimidades Masculinas’, há homens que temem chorar porque podem ser rotulados como homossexuais. Também há homens que sofrem por não conseguir o próprio sustento e não pedem ajuda, pois acreditam que os homens ‘nunca se dão por vencido’.

Portanto, para aceitar a sensibilidade masculina, um dos primeiros passos seria que os próprios homens deixassem de lado as suas autoexigências. Dessa forma, seria mais fácil modificar as frases e crenças virilizantes tão presentes na nossa sociedade.

A sensibilidade do homem também existe. Encontrar o seu mundo afetivo é uma tarefa difícil para qualquer homem. Mas se ele conseguir, forjará novas conexões a partir de outra perspectiva, na qual ele estará livre de responsabilidades e deveres e será muito mais autêntico.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Riso, W. (2003). Intimidades masculinas: sobre el mito de la fortaleza masculina y la supuesta incapacidad de los hombres para amar. Barcelona, España: Norma.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.