Validar as emoções: construir a nossa identidade

As nossas emoções são a nossa identidade. Como validá-las?
Validar as emoções: construir a nossa identidade
Berta Escobosa

Escrito e verificado por a enfermeira Berta Escobosa.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

É preciso validar as emoções para construirmos a nossa identidade. Quem somos? É uma questão transcendental e, muitas vezes, frequente quando nos encontramos em situações específicas, como quando não sabemos o que decidir, quando enfrentamos o fim de um relacionamento ou quando temos que decidir qual trabalho escolher. O que todas essas situações têm em comum? As emoções participam de todas elas.

Então, a identidade e nosso mundo emocional estão relacionados de uma forma direta. Muitas vezes, a confusão sobre o que sentimos estende a dúvida a outras questões importantes, como a nossa capacidade de controlar; um controle que, por outro lado, podemos tentar recuperar influenciando ou condicionando os outros. Dessa forma, pretendemos afastar as nossas dúvidas, provando que temos a capacidade de nos elevar acima dos outros e, portanto, influenciar a evolução dos acontecimentos.

As nossas emoções nos definem

Saber identificar, regular e gerenciar as nossas emoções é uma questão pendente na educação. A importância dessa habilidade é tão grande que dela dependerá não apenas a nossa saúde mental, mas também a daqueles que compartilham a vida conosco.

Vamos pensar que as emoções são uma moeda de duas faces: por um lado elas têm energia, por outro lado elas têm uma ou várias mensagens. Essas duas faces são igualmente importantes e uma boa regulação emocional consiste em alinhá-las para estarem a serviço dos nossos interesses.

A tristeza geralmente nos pede para refletirmos e nos dá um tipo de energia que convida à pausa. A irritação muitas vezes mostra que alguém pisou em nossos direitos, e nos fornece a energia necessária para agirmos para que isso não ocorra novamente. Agora, somos nós que decidimos o que fazer com essa mensagem, qual sentido lhe dar. Também somos nós que podemos regular a liberação dessa energia.

Nós somos os responsáveis ​​pelas nossas emoções. O problema é que, quando somos crianças, não nos ensinam o que fazer com elas, além de escondê-las ou tentar contê-las.

Pregadores representando as emoções

As emoções que sentimos, dependendo dos estímulos externos, são de nossa responsabilidade. Um fato que não é fácil de aceitar, já que a tendência a culpar os outros pela nossa raiva, nossa tristeza ou nossa melancolia é muito comum. É por essa razão que a maneira como a raiva é transformada em tristeza ou medo em alegria definirá a nossa forma de enfrentar os desafios diários e os problemas mais profundos. Isso nos definirá.

Validar as emoções

Validação emocional é aceitar e validar o que estamos sentindo ou o que a outra pessoa pensa, concordando ou não com essa emoção. Assim, podemos validar as nossas emoções e também as dos outros.

Em um nível teórico, pode parecer algo simples. No entanto, a validação das emoções está em processo de extinção. As queixas mais comuns são como aquele alguém “não me ouve” “não me entende”, “não me compreende”, enquanto a outra pessoa nega estupefata tais alegações. O outro considera “que compreende”, “que escuta” e “sim, que ele entende”. Em muitos casos, isso é uma consequência da falta de validação emocional.

A possibilidade de que uma validação emocional ocorra se evapora diante da necessidade de julgar, comentar ou se defender de uma emoção que não conhecemos. Às vezes, sem a intenção de invalidar a outra pessoa, usamos respostas, comunicação não verbal ou justificativas que são um obstáculo à construção de pontes empáticas.Uma empatia que nos leva a compreender o outro.

As pessoas que não se sentem ouvidas podem ter o público mais atento, mas ninguém estará validando as suas emoções.

O que acontece quando não validamos as emoções?

O que acontece quando não validamos as emoções é semelhante ao que acontece quando não expressamos as emoções ou as negamos. Como se fôssemos panelas de pressão, acumulamos emoções desordenadas até que um dia elas saem na forma de falta de autocontrole.

Ao validar as emoções dos nossos filhos, dos nossos cônjuges, das nossas famílias ou dos nossos colegas de trabalho, os acompanhamos e entendemos o seu mal-estar.  Fazemos com que se sintam seguros, protegidos, cuidados, respeitados e amados.

  • A validação emocional nos permite aceitar o que acontece com o outro sem julgamentos, e deixá-lo trocar as emoções negativas pelas emoções positivas.
  • A invalidação emocional é o oposto. É uma rejeição indireta dos sentimentos da outra pessoa. Uma negação do que você está sentindo que se traduz em falta de compreensão e entendimento.

Quando nos dizem algo alegre, sabemos acompanhar, mas quando nos dizem algo triste, sabemos somente invalidar.

A invalidação emocional e o roubo da identidade

Não validar emocionalmente o que o outro está sentindo pode ser um motivo para esfriar o vínculo e o relacionamento. Como mencionamos no início do artigo, as emoções não apenas nos definem, mas também nos guiam em direção a certas opções, estilos de vida, comportamentos e outros caminhos que nos tornam únicos e também reconhecíveis. Dessa forma, fazem parte da nossa identidade e autocontrole.

Pelo contrário, a crença de que os outros não validam as nossas emoções pode semear em nós a ideia de que não nos encaixamos. Parece que existe algo dentro de nós que nos torna frágeis, imprevisíveis e não confiáveis. Assim, se alimentarmos e regarmos essa semente, se copiarmos a posição dos outros diante das nossas emoções, será fácil perder a ideia de quem somos. Ao mesmo tempo, o futuro se torna esmagador porque não sabemos como responder à questão de quem queremos ser.

É muito importante validar as emoções durante a infância. A aceitação incondicional das emoções dos filhos mais novos facilitará a sua expressão, identificação e manejo emocional. Se, por outro lado, por medo da tristeza que o seu filho possa sentir, você foge com indiretas, com mensagens duplas ou soluções, estará invalidando-o emocionalmente. Dessa forma, poderá gerar altas doses de ansiedade, irritabilidade, nervosismo e insegurança.

O desconhecimento das emoções nos defende delas.

Mãe validando as emoções do filho

A arte de saber validar as emoções

Existem alguns pontos que podem nos ajudar ao fazermos uma validação emocional:

  • Escuta ativa ou atenção plena.
  • Posição corporal acolhedora e empática.
  • Normalizar as emoções.
  • Evitar dar soluções para as emoções.
  • Evitar se justificar ou se defender delas.
  • Evitá-las com bom humor.
  • Manter a mente aberta sem julgar.

Alguns exemplos de validação e invalidação emocional que podemos oferecer para uma melhor compreensão do leitor são:

Invalidação emocional

Maria: Eu não consegui terminar o trabalho e estou muito frustrada.

Laura: Fique tranquila, amanhã você terminará.

Maria: Mas eu estou fazendo tudo errado.

Laura: Não é o fim do mundo, Maria.

Maria: Eu acho que sim, eu gostaria que você tivesse me ajudado.

Laura: Eu tive que fazer muitas coisas hoje.

Validação emocional

Maria: Eu não consegui terminar o trabalho e estou muito frustrada.

Laura: Normal, deve ser difícil mesmo.

Maria: Sim, muito. Eu acho que estou fazendo tudo errado.

Laura: É assim que você se sente?

Maria: Na verdade é assim. Eu queria que você pudesse ter me ajudado.

Laura: É verdade, teria sido muito melhor. Eu teria adorado lhe dar uma mão. Pena que eu tive um dia cheio de coisas para fazer.

Validar as emoções é uma arte que vale a pena aprender para melhorar a humanidade e a empatia nas relações humanas. Também para ajudar os jovens a crescerem sem sentir medo em relação ao mundo emocional. Dessa forma, poderemos nomear as emoções sem que se transformem em um território inexplorado.

Façamos então com que o fato de “nos colocarmos na pele do outro” traga um resultado muito mais humano, próximo e generoso.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.