Síndrome de Asperger: não sou um robô sem sentimentos

Síndrome de Asperger: não sou um robô sem sentimentos

Última atualização: 01 abril, 2017

Tenho síndrome de Asperger. Sou uma pessoa igual a você. Não sou um robô sem sentimentos, e quando você ri de mim, me machuca. Talvez eu não entenda a ironia ou as piadas, talvez eu seja muito literal diante de tudo que você diz, mas isso não me faz menos humana. Tenho sentimentos e mesmo que você não os enxergue porque não consigo expressá-los, as suas palavras, às vezes, me machucam muito.

Não sou surda e ouço o que você diz, mesmo que para mim não tenha o mesmo significado. Não tenho nenhuma incapacidade intelectual, mesmo que para você pareça o contrário. Você pode me considerar um bicho esquisito, mas a única coisa que me faz diferente é ver o mundo de uma perspectiva mais racional e cheia de dados. Não sou extraordinária, sou como você, mas olho o mundo de forma diferente, e por isso dizem que tenho a Síndrome de Asperger.

“Tudo depende da forma como você olha as coisas. Uma vez que você entender como pensam e como enxergam o mundo, aquilo que um parecia uma incapacidade, outro dia pode ser um talento ou um dom.”
-Szatmari-

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Não se atreva a me julgar se você não está nos meus sapatos

Como é fácil julgar os outros quando observamos apenas o fato em si, ou o imaginamos, e não reparamos nas circunstâncias. Quando não nos colocamos no lugar do réu e não sentimos empatia. Quando parece engraçado gastar piadas com aqueles que não as entendem. Quando personagens como Sheldon Cooper retrata de forma caricata as pessoas que enxergam o mundo de outra forma.

Dizem que somos nós os que temos uma alteração neurobiológica do desenvolvimento – não doença – que afeta a empatia. Mas curiosamente são os que a possuem que não a aplicam conosco. Nos usam como se fossemos o Google porque conhecemos muitos dados, como se fossemos máquinas, e não consideram o dano que nos fazem ao nos despojar da nossa humanidade e brincar com nossos sentimentos.

“Olhe com os olhos do outro, ouça com os olhos do outro, e sinta com o coração do outro.”
-Alfred Adler-

Nos julgam sem piedade, nos julgam automaticamente e sem nos conhecer, só porque a seus olhos somos peças com arestas estranhas que não se encaixam bem nos quebra-cabeças peculiares dos seus mundos percebidos. Ninguém se preocupa em se colocar nos nossos próprios sapatos e tentar viver com a nossa condição. Só sabem que a Síndrome de Asperger está incluída no DSM-5 dentro dos Transtornos do Espectro Autista, e com isso já tem o seu “trailer particular”, quando não o filme completo. Contudo, o autismo e o Asperger são muito diferentes.

Uma pessoa com a Síndrome de Asperger tem uma falta de destreza na hora de se relacionar com outras pessoas. Isto se deve, em parte, aos problemas no uso da linguagem, que é conhecida como pragmática. No resto das características ou habilidades, ela pode ter semelhanças e diferenças com outras pessoas, como as que existem entre eu e você.

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O mundo dos sentimentos e das emoções é complicado para todos

O mundo dos sentimentos e das emoções é complicado para todos, por isso a inteligência emocional é fundamental para a adaptação do ser humano. Mas no Asperger é ainda mais complicado. Por isso, levar em consideração certas orientações sobre as necessidades e a forma de interagir com pessoas com Asperger, considerando a idade, é muito importante:

Viver com uma criança com Síndrome de Asperger

As crianças com Asperger costumam ser peculiares desde o início. Precisam que se use com elas uma linguagem que seja a mais positiva possível, elogiá-los com frequência e sinceridade em vez de focar aquilo que consideramos errado no seu jeito de agir. Muitas vezes é mais prático dizer o que precisam fazer e se abster do que não têm que fazer.

Ensiná-los a ouvir é fundamental. É preciso ser razoável com o que pedimos a eles, e a demanda precisa estar em consonância com a capacidade da criança. Para isso, usar uma forma simples, clara e concisa de se expressar irá melhorar muito a comunicação.

É importante ajudá-los a identificar os sentimentos. As crianças com Asperger têm muita dificuldade para reconhecer os sentimentos dos outros e expressar os próprios. Também é muito positivo afastar, na medida do possível, a crítica, e ajudá-las a ter uma imagem positiva de si mesmas, já que isso repercutirá diretamente na sua autoestima.

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A Síndrome de Asperger na adolescência

Durante a adolescência se acentuam as diferenças das crianças com Asperger. Podem permanecer indiferentes aos eventos sociais ou à luta por se tornarem independentes, enquanto os outros jovens caminham para a etapa adulta da vida procurando o seu próprio lugar na sociedade.

Um aspecto muito importante para tratar é o relacionamento com seus possíveis parceiros, sejam homens ou mulheres, já que são incapazes de entender os relacionamentos de forma passional. Além disso, neste período da educação sexual deve existir um pilar central, embora isso devesse estar presente para todos os adolescentes.

Asperger na idade adulta

As pessoas com Asperger podem levar, e de fato a maioria leva, uma vida normal. Se trabalharam a adaptação ao entorno e as emoções durante a infância, não costumam ter muitos problemas para se mover no mundo dos adultos. No trabalho, quando “mais sofrem” é se estão em uma posição “de frente com o público” e costumam se desenvolver melhor quando precisam fazer projetos individuais, independentemente da complexidade destes.

Como você vê, tenho Asperger, mas não sou um robô sem sentimentos. Ouse me conhecer e me entender. Coloque-se no meu lugar e use essa habilidade, a empatia, que é uma coisa que em teoria você tem. Não me julgue, nem ria de mim. Procure me compreender e me ensine a entender você. Tenho certeza de que irei surpreendê-lo.


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