A síndrome de Genovese: a solidão da vítima

Descubra por que é pouco provável que você receba ajuda se estiver enfrentando problemas diante de muitas testemunhas. Falamos da curiosa síndrome de Genovese.
A síndrome de Genovese: a solidão da vítima
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

A síndrome de Genovese é um conceito utilizado para fazer referência ao fenômeno psicológico no qual uma pessoa não presta ajuda e fica imobilizada quando observa uma situação de emergência na qual se espera que ofereça seu apoio a outra pessoa que está em uma situação de perigo significativo. Parece paradoxal, não é?

O nome dessa síndrome surgiu em consequência de um crime que ocorreu em 1964 nos Estados Unidos, no qual uma mulher chamada Kitty Genovese foi apunhalada em frente ao seu apartamento de madrugada e diante de testemunhas. Ninguém fez nada para socorrê-la.

Tamanho foi o impacto da notícia que desde 1968 a Psicologia Social tem se esforçado para dar uma resposta a esse fenômeno. Por que as testemunhas não agiram? Segundo as pesquisas, parece que as probabilidades de ajuda por parte dos demais aumentam significativamente à medida que há menos pessoas no cenário problemático.

Kitty Genovese

A síndrome de Genovese

Em 13 de março de 1964 ocorreu o assassinato de Kitty Genovese em Nova York. Embora já existissem muitos exemplos sobre a solidão daqueles que moram em grandes cidades e da falta de interesse mútuo entre seus habitantes, esse caso se tornou um incômodo símbolo desse tipo de apatia social que caracteriza os grandes centros urbanos.

Os fatos que deram origem à síndrome de Genovese

O relato dos fatos, segundo o relatório policial, é o seguinte: Kitty Genovese voltava para casa de madrugada depois de um árduo dia de trabalho. Estacionou próximo ao seu apartamento e, quando desceu do carro, foi atacada por um homem que correu rapidamente até ela e a apunhalou duas vezes pelas costas.

Seus gritos de socorro se perderam na solidão da noite, sem que nenhuma das pessoas que estavam por perto lhe oferecesse ajuda. Em poucos minutos, o agressor fugiu, deixando-a gravemente ferida.

Após alguns instantes, o assassino voltou ao local do crime e encontrou sua vítima deitada no chão da entrada do edifício de apartamentos, e continuou praticando sua crueldade durante aproximadamente mais meia hora.

Alguns minutos depois do ataque, uma testemunha presencial chamou a polícia. Quando a assistência médica chegou, não foi possível salvar a vida de Kitty, que faleceu na ambulância a caminho do hospital.

O agressor de Genovese

Poucos dias depois, Winston Moseley, o agressor, foi localizado. Ele era um operador de máquinas casado que tinha dois filhos. Pressionado pelas autoridades, não apenas confessou o crime de Kitty, como também afirmou ter cometido outros assassinatos.

O exame psiquiátrico de Moseley revelou que ele apresentava condutas necrofílicas e possuía uma personalidade antissocial. Ele foi condenado à prisão perpétua por assassinato e passou o resto da vida na cadeia.

O assassinato de Genovese provocou uma grande comoção no país e se tornou instantaneamente um tema de controvérsias, sobretudo após ter sido verificado que pelo menos 38 pessoas haviam sido testemunhas da agressão em algum momento.

Um total de 38 cidadãos presenciaram o ataque em algum momento, mas nenhuma pessoa foi em auxílio da vítima, sem nem mesmo chamar a polícia até o término do crime. Por que ninguém fez nada para ajudá-la?

Refletindo sobre o tema e deixando de lado teorias psicológicas, esse acontecimento deveria nos fazer refletir sobre a qualidade da sociedade que estamos construindo, sobre os valores nos quais ela se fundamenta e, inclusive, sobre a possível ausência destes.

Escondido na sombra

Teoria da difusão de responsabilidade

O caso de Genovese provocou uma grande agitação social e deu origem a vários estudos psicológicos e psicossociais. John Darley e Bibb Latané analisaram o caso minuciosamente e desenvolveram a teoria da difusão de responsabilidade.

Esta teoria é baseada no que se conhece como efeito espectador ou síndrome de Genovese, que, simplificando muito, defende que é menos provável que alguém intervenha em uma situação de emergência quando há mais pessoas nas proximidades do que quando se está sozinho.

Assim, esse fenômeno pode ser explicado pelo princípio de que os observadores tendem a tomar como certo que outra pessoa vai intervir, de maneira que no fim todos se abstêm de tomar uma atitude. Darley e Latané chegaram a essas conclusões após um interessante estudo social.

As razões apresentadas para explicar esse resultado incluem:

  • O fato de que os espectadores veem que os outros também não estão ajudando.
  • Os espectadores pensam que sempre haverá alguém mais qualificado do que eles para auxiliar a vítima.
  • Se sentem inseguros ou envergonhados na hora de intervir devido à grande quantidade de pessoas observando.

Conclusão

Como reflexão final, cabe acrescentar que, quando confrontados com esse fenômeno, conseguimos notar o perigo da passividade humana.

De fato, se como cidadãos não estivermos conscientes dessa realidade e não nos esforçarmos para combatê-la, poderemos criar uma situação de negação de apoio social.

A síndrome de Genovese deveria servir para que tomássemos consciência de aspectos sociais nos quais podemos melhorar muito, de maneira que fatos como esse nunca voltem a se repetir.


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  • J. M. Darley & B. Latane. (1968). Bystander intervention in emergencies: Diffusion of responsibility. Journal of Personality and Social Psychology 8, 377-383.
  • Manning, R., Levine, M., & Collins, A. (2007). The Kitty Genovese murder and the social psychology of helping: The parable of the 38 witnesses. American Psychologist62, 555-562.

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