A síndrome de Lima
A mente humana permanece um mistério em pleno século XXI. Há casos, como o da síndrome de Lima, que nos deixam estupefatos. É um fenômeno tão complexo que surpreende tanto pessoas próximas quanto desconhecidos. Hoje, ainda é considerado, em parte, um grande mistério.
Sequestradores simpatizando com suas vítimas? Essa é a síndrome de Lima. Pessoas que supostamente têm pouco respeito e interesse pela vida humana, mas acabam desenvolvendo sentimentos positivos e simpatia para com suas vítimas. Você quer saber mais? Continue lendo este artigo…
A síndrome de Lima
Quando acreditávamos que poucas coisas poderiam nos surpreender mais em relação à mente humana, o fenômeno conhecido como síndrome de Lima aparece. Essa síndrome trata de uma situação psicológica complexa que ocorre na mente do sequestrador. Desta forma, com o passar do tempo, ele começa a desenvolver um vínculo emocional com sua vítima.
Paradoxalmente, o sequestrador começa a ter empatia com a vítima. Além disso, em um ponto, começa a se preocupar com suas necessidades e seu bem-estar. Pode se manifestar em comportamentos como os seguintes:
- O sequestrador evita ferir a vítima.
- Dá à vítima certas liberdades ou inclusive chega a libertá-la.
- Se preocupa com seu estado físico e emocional.
- Estabelecem conversas sobre tópicos variados.
- O sequestrador, inclusive, compartilha dados pessoais com a vítima (histórias de sua infância, objetivos, desejos …).
- Pode até lhe fazer promessas (“eu vou te proteger”, “nada vai acontecer com você” …).
- O sequestrador pode se sentir atraído pela vítima.
Principais causas
Neste momento você provavelmente está lendo e pensando sobre as causas da síndrome de Lima. Em primeiro lugar, pode ser bom esclarecer que sofrer de uma síndrome específica não significa que a pessoa esteja louca ou doente. Além do estado interno da pessoa, existem certas condições ambientais que podem nos levar a reagir de uma forma ou de outra.
Portanto, para entender a síndrome de Lima, devemos nos atentar para as condições internas do sequestrador e as condições do contexto do sequestro. Qualquer explicação separada seria muito reducionista. Desta forma, é importante conhecer as condições psicobiográficas do sequestrador, bem como as circunstâncias que levaram ao sequestro:
- Talvez o sequestrador faça parte de um grupo que o forçou a realizar o sequestro.
- Talvez o sequestrador não concorde com a maneira como o sequestro está ocorrendo.
- Na melhor das hipóteses, o sequestrador se viu obrigado a reter a vítima por extrema necessidade (drama familiar, problema financeiro sério, transtorno mental…).
- O sequestrador pode não ter uma carreira criminosa, ser inexperiente ou ter empatia com as pessoas (ele não tem transtorno de personalidade antissocial).
- Finalmente, talvez o sequestrador pense que ele não estará vivo no fim do sequestro.
O paradoxo da síndrome de Lima
Talvez o mais surpreendente (ou seja, o paradoxo da síndrome de Lima) seja que o sequestrador se comporta como se não estivesse restringindo a liberdade da vítima. Surpreendentemente, o sequestrador cria uma ilusão na qual é ele quem está cuidando e se preocupando com sua vítima.
Desta forma, o sequestrador faz o possível para melhorar as condições da vítima. De fato, evita qualquer dano ou desconforto. Está doente? Vai curá-la. Tem uma ferida? Vai higienizá-la. Sente fome? Vai oferecer a melhor comida possível. De repente, uma situação é criada na mente do sequestrador, na qual ele se torna algo como um cuidador da vítima.
O ápice de todas as situações anteriores é que o sequestrador desenvolve um sentimento de amor para com a vítima. Então, tentará seduzir e cortejar a vítima, procurando fazer com que ela também o deseje. Em resumo, este é o paradoxo que ocorre na síndrome de Lima.
De onde vem a síndrome de Lima?
Neste ponto, você pode perguntar: De onde vem a síndrome de Lima? Qual é a origem desse termo? De fato, como parece lógico, de um sequestro que ocorreu em Lima, no Peru.
Em 1996, um grupo terrorista ocupou a embaixada do Japão na capital peruana. Esses sequestradores se apoderaram de muitos reféns. No entanto, com o passar dos dias, os sequestradores foram estabelecendo fortes vínculos com eles e liberando-os (incluindo aqueles com quem poderiam ter alcançado um acordo muito vantajoso).
Conclusões
Para resumir, podemos dizer que a síndrome de Lima está relacionada a uma condição intrínseca do ser humano, como a criação e estabelecimento de vínculos com os demais (mesmo em condições tão específicas como o sequestro). Por outro lado, não há muitas pesquisas sobre esse fenômeno, pois é impossível replicar as condições de um sequestro em laboratório e controlar as variáveis.
O que sabemos é que a aparição ou ausência da síndrome depende de diferentes variáveis, tanto do sequestrador quanto do sequestro e da vítima. Finalmente, essa síndrome não faz mais senão lembrar que somos pura contradição e que, longe de trabalhar com a realidade, o fazemos com a interpretação que temos da mesma.
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