A síndrome delirante, um enigma para a ciência

A síndrome delirante, um enigma para a ciência
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 23 janeiro, 2019

A síndrome delirante – ou transtorno delirante ou transtorno delirante por ideias persistentes – representa um grande desafio para a as ciências que estudam a mente. Ninguém conseguiu, até o momento, classificar de uma maneira precisa a doença, e também não conhecemos a causa da mesma. Como consequência disso, as intervenções não são muito bem-sucedidas.

Quem padece da síndrome delirante tem ideias ou interpretações estranhas diante de algum aspecto da realidade. Todos os outros aspectos da vida da pessoa, no entanto, são perfeitamente normais e racionais, apresentando um alto nível de coerência. Isso significa que o delírio é o único sintoma e que ele permanece isolado dos outros aspectos do pensamento e da personalidade.

A síndrome delirante também é denominada como uma obsessão paranoica ou uma paranoia simplesmente. Todos esses nomes nos mostram a grande dificuldade que existiu e existe para definir precisamente esse conceito e dar a ele um suporte científico.

Enquanto alguns o colocam no campo psicanalítico da neurose, outros o fazem no campo da psicose. A palavra final sobre onde ele se encaixa obviamente ainda não foi dita.

“O rio segue seu brutal correr, mas ao passar diante de um poeta, amansa seu delírio, e as águas, acariciando as raízes, se atrasam um pouco”
-Ricardo Güiraldes-

Sombras no concreto

As manifestações da síndrome delirante

A principal característica de quem tem a síndrome delirante é que estão completamente convencidos de algo que não corresponde à realidade. Essas convicções têm um conteúdo evidentemente irracional.

Nos casos extremos alguém pode pensar que é um super herói muito famoso e que, por isso, há um plano contra ele. Nos casos menos extremos, uma pessoa pode estar convencida da infidelidade de seu companheiro – algo que não existe na realidade.

O conteúdo desse delírio, ou convicção equívoca, refere-se geralmente a um aspecto único da vida. Isso quer dizer que trata-se de um conteúdo estável que usualmente é de índole persecutória. Em outras palavras, a pessoa pensa que é ou pode ser vítima de um dano direcionado a ela pelo que ela representa dentro do delírio. O mais comum é que isso seja relacionado a ideias de grandeza de si mesmo.

Normalmente esses delírios, por incrível que pareça, não incidem sobre a vida social ou de trabalho. Quem sofre dessa síndrome não costuma falar das suas preocupações para todo mundo. Pelo contrário, mostram-se super reservados em relação a suas ideias, e por isso mesmo os outros acabam nem notando essa particularidade.

O funcionamento pessoal se mostra normal em quase todos os aspectos, mas é disfuncional em apenas um deles… E é isso que a ciência ainda não consegue explicar.

Conteúdos habituais da síndrome delirante

A síndrome delirante pode aparecer em qualquer momento da vida. Como já dissemos anteriormente, ainda não há explicações e entendimento sobre a sua causa. Desse modo, ela pode estar relacionada a diversos aspectos. Há, no entanto, 4 conteúdos que são os mais usuais nesse tipo de condição patológica da psique.

Os 4 conteúdos habituais da síndrome delirante são:

  • Delírio de grandeza: a pessoa acredita que tem talentos ou características excepcionais. Pensa que ela ganhou essas qualidades por meios mágicos ou sobrenaturais.
  • Delírio de perseguição: o doente pensa que é constantemente vítima de uma conspiração. Algo ou alguém está empenhado em persegui-lo, acusá-lo, atormentá-lo, etc. É a forma mais comum da síndrome delirante.
  • Delírio erotomaníaco. Acontece quando alguém acredita que é amado por outra pessoa, sem que exista qualquer evidência disso. É comum que o suposto apaixonado seja alguém famoso ou com poder.
  • Delírio somático. Tem a ver com a percepção de que está acontecendo algum processo ou transformação estranho dentro do corpo. A pessoa acredita que está se decompondo, ou que está crescendo sem parar, etc.

Há um quinto grupo que é menos severo e corresponde a delírios de ciúmes. É um pensamento obsessivo que leva a acreditar que o companheiro mantém relações paralelas com outras pessoas.

Homem preocupado

O tratamento da síndrome delirante

Infelizmente muitas pessoas que sofrem da síndrome delirante crônica não são diagnosticadas – ou são diagnosticadas com outra patologia. Devido ao componente irracional ou bizarro de seus delírios, com frequência as pessoas recebem o diagnóstico de esquizofrenia, quando esta obviamente não é a realidade. O diagnóstico errado leva, é claro, a intervenções inadequadas ou pouco adequadas, infelizmente.

Essa síndrome é muito difícil de tratar, principalmente porque muitas vezes a abordagem de tratamento é unicamente psiquiátrica. Os medicamentos não parecem ter uma grande melhora na evolução desse tipo de caso. Ainda que possam contribuir para lidar com os estados de ansiedade, não conseguem modificar significativamente a situação. Não se trata de um problema biológico, e sim de uma distorção simbólica.

Por todo o exposto anteriormente, o mais adequado para o tratamento é a terapia psicológica. Os poucos dados que temos a respeito da síndrome mostram que o modelo mais eficaz para esses casos é aquele oferecido pela corrente cognitivo-comportamental. Desse modo, a intervenção pautada nesse enfoque se concentra em fazer uma reinterpretação das crenças errôneas. A síndrome delirante, então, pode ter cura.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.