Síndrome do excesso de empatia ou do desgaste pela compaixão

Síndrome do excesso de empatia ou do desgaste pela compaixão
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A pessoa com a síndrome do excesso de empatia é como uma antena de longo alcance que absorve e envolve cada emoção que vibra em seu ambiente. Longe de gerir essa sobrecarga, acaba por diluir as necessidades dos outros, envenenando-se com uma compaixão excessiva até sentir culpa pela dor que outros experimentam. Poucos sofrimentos podem ser tão cansativos.

É possível que ver tais situações como um problema clínico possa surpreender muitas pessoas. Estamos nos excedendo no momento de usar o rótulo de “patológico” para comportamentos (aparentemente) “normais”? Obviamente não e tudo isso tem uma explicação. Se o manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais (DSM-V) o rotula como característica dos transtornos de personalidade, é por uma razão óbvia.

Qualquer comportamento que impeça nossa maneira de nos relacionarmos, que nos traga sofrimento e a incapacidade de levar uma vida normal, precisa de um diagnóstico e um tipo de estratégia terapêutica que possa resolvê-lo. Portanto, as pessoas que sofrem de um excesso de empatia ou que mostram um padrão persistente de desconforto e incapacidade de funcionar a nível social, pessoal e de trabalho, entrarão, neste caso, dentro de um quadro de transtorno de personalidade.

Tudo isso nos leva a perceber que não é a mesma coisa “ser muito sensível” e sofrer de uma síndrome do excesso de empatia. Por exemplo, no livro “Mulheres que amam psicopatas” de Sandra L. Brown, há um aspecto que não pode deixar ninguém indiferente. No trabalho desta psiquiatra, pode-se ver que há mulheres que podem entender o comportamento psicopático de seus parceiros e até mesmo justificá-lo.

O excesso de empatia as impede de ver claramente o predador, o assassino ou o agressor que têm em frente. Além disso, sua inteligência para justificar os atos violentos do cônjuge era incrivelmente sofisticada. Um fato que mostra claramente que um excesso de empatia é um tipo de transtorno que não é divulgado, mas que devemos considerar.

Conectar-se com o cérebro do outro

Empatia e excesso de empatia, a fronteira do equilíbrio e do bem-estar

Talvez muitos pensem que se a empatia é uma capacidade positiva, útil e desejável … o que haveria de errado em ter “muita empatia”? Como sempre, na vida os excessos não são bons e o equilíbrio é o ideal. O mesmo acontece com essa dimensão em que nunca nos esquecemos de separar o nosso “eu” do “eu” dos outros. Ou seja, a famosa frase de “empatia é a capacidade de colocar-se no lugar da pessoa à nossa frente“. Devemos especificar que faremos isso sem nunca deixar de sermos nós mesmos.

Da mesma forma, é importante lembrar agora quais tipos de empatia podemos experimentar, as que são saudáveis ​​e as que podem nos levar a essa fronteira onde, inevitavelmente, ocorre um desconforto.

  • Empatia afetiva ou “Sinto o que você sente”. Neste caso, a empatia afetiva tem a ver com a nossa capacidade de sentir as emoções, sensações e sentimentos experimentados por outra pessoa … e, por sua vez, sentir compaixão por isso.
  • Empatia cognitiva ou “entendo o que está acontecendo com você”. A empatia cognitiva, por outro lado, é mais uma habilidade. Ela nos permite ter um conhecimento mais completo e preciso sobre o conteúdo da mente da pessoa à nossa frente. Nós sabemos como ela se sente e entendemos isso.
  • Empatia excessiva significa ser um espelho e, por sua vez, uma esponja. Nós não só sentimos o que os outros sentem, mas sofremos com isso. É uma dor física que cria angústia e, por sua vez, nos subordina às necessidades dos outros sem que possamos discriminar esta fronteira entre nós e eles.
Mãos salvando pessoas no oceano

Como é uma pessoa que sofre com a síndrome do excesso de empatia?

Descrever a pessoa que sofre de síndrome do excesso de empatia nos ajudará bastante. Primeiro, discriminar entre a simples “sensibilidade emocional” da “hipersensibilidade” patológica. Além disso, também veremos como o DSM-V identifica esse tipo de comportamento.

  • A deterioração óbvia de sua identidade e habilidades sociais.
  • É comum que apareçam outros tipos de distúrbios em que a compulsão ou psicoterapia estão presentes.
  • É comum que a pessoa experimente muitas mudanças de humor, que vão desde a depressão mais profunda até uma felicidade histriônica ou desproporcional.
  • São pacientes muito dependentes. Ou seja, eles querem resolver todos os problemas dos outros para reforçar a imagem de pessoas valiosas e necessárias que eles querem projetar, precisam de uma interação contínua e se valem de favores. Se alguém tenta impor limites, se sentirão feridos e rejeitados.
  • Também é comum que as pessoas que sofrem de excesso de empatia sejam muito superprotetoras e minem a autonomia dos outros.
  • O excesso de empatia traz sérias dificuldades na produtividade destas pessoas. Eles se sentem discriminados, ninguém entende seu altruísmo, sua necessidade de apoio e de ajuda …
  • Por último, e não menos importante, muitas vezes nos vemos com pacientes que passam de empatia em excesso ao ressentimento. Foram tantas decepções sofridas que vão sendo isolados, perdidos em seus sentimentos de raiva e de decepção.
Homem com síndrome do excesso de empatia

O que podemos fazer se nós sofremos por um excesso de empatia?

Neste ponto, é provável que muitos de nós nos perguntemos o porquê. O que faz com que alguém experimente tanto sofrimento quando infectado pelas emoções de outras pessoas? Bem, nos últimos anos estamos conseguindo grandes avanços no assunto e, de fato, já estamos conhecendo a base genética e neuroquímica que pode favorecer esta situação.

Os chamados “distúrbios do espectro de empatia” estão nos fornecendo muita informação sobre realidades como as da síndrome de Asperger, síndrome do excesso de empatia ou transtorno da personalidade limítrofe. É, sem dúvida, um tópico interessante que nos dará excelentes respostas e melhores abordagens terapêuticas nos próximos anos.

Por outro lado, para a questão do que devemos fazer se sofremos de empatia excessiva, a resposta não pode ser mais simples: pedir ajuda profissional. Se estamos no extremo mais patológico, sempre é apropriado aprender uma série de técnicas para definir limites, ter um maior autocontrole sobre nossos pensamentos, alimentar nossas próprias necessidades e definir com mais força nossa identidade e autoestima.

Não podemos esquecer que a empatia excessiva não só gera desconforto, mas nos separa de nós mesmos e do próprio mundo. Não vale a pena nos ancorarmos em uma esfera de vazio e tormento persistente. Vamos dar o primeiro passo para sair desta realidade tão negativa…


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.