Sinto que sou inferior aos outros: o que posso fazer?

Às vezes, o fato de ter passado por um relacionamento amoroso abusivo pode deixar a pessoa com um claro sentimento de inferioridade. Trata-se de feridas na autoestima que devem ser reparadas. Vamos analisar o assunto a seguir.
Sinto que sou inferior aos outros: o que posso fazer?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Sinto que sou inferior aos outros. Já tive momentos melhores e piores, mas atualmente não me vejo competente para quase nada.” Esse tipo de raciocínio ocorre com mais frequência do que pensamos. Além disso, às vezes, temos pessoas muito bem preparadas e aparentemente autoconfiantes que mostram essa baixa autoestima quase corrosiva que limita as suas vidas.

Desprezo por si mesmo, sentimento de inadequação, autoexigência excessiva… Embora a maioria de nós identifique instantaneamente as características do clássico complexo de inferioridade, conforme definido por Alfred Alder na sua época, cabe dizer que estamos diante de uma dimensão muito mais complexa. Por exemplo, muitos desses casos podem levar a comportamentos autolesivos.

Além disso, se eu sinto que sou inferior a qualquer outra pessoa, se me comparo com meus irmãos, amigos ou colegas de trabalho e me considero mais desajeitado, menos competente ou menos atraente, posso acabar odiando as pessoas ao meu redor. Cada pessoa, no entanto, desenvolve um tipo de comportamento e dinâmicas particulares. Temos também aqueles que caem no isolamento e até mesmo na depressão.

Vamos entender um pouco mais sobre esse tipo de situação.

Criança pensando "sinto que sou inferior aos outros"

Sinto que sou inferior aos outros: características e estratégias de enfrentamento

Quem vive se sentindo incompetente, fracassado e inferior aos outros, sem saber, convive com ferozes inimigos internos. Sua mente, seu diálogo interno e uma experiência passada muito prejudicial extinguem qualquer indício de autoestima, qualquer força de autoconceito. E conviver com o “não consigo”, “é melhor eu nem tentar” e “isso não é para mim porque os outros são melhores que eu” é algo que destrói e esgota.

É interessante saber que o complexo de inferioridade foi cunhado pelo médico austríaco Alfred Adler, discípulo de Freud. De acordo com ele, todas as crianças se definem por esse traço, tendo em vista a sua inferioridade em quase todos os aspectos (tamanho, idade, senso de poder). Além disso, ele também comentava que esse sentimento, o de se sentir inferior, poderia atuar como estímulo e impulso. Como uma necessidade de nos superarmos dia a dia.

Atualmente, no entanto, sabemos que nem todas as crianças assumem essa ideia de serem inferiores aos pais. Assim temos, por exemplo, a síndrome do imperador ou da criança tirana. Além disso, foi Gordon Allport quem destacou que o sentimento de inferioridade surge a partir das experiências ruins vividas em qualquer momento e da maneira como as interpretamos.

Essa experiência pode ficar profundamente gravada em nós, deixando-nos estagnados, mergulhados em um estado emocional negativo e duradouro. Vamos analisar um pouco mais os gatilhos e estratégias de enfrentamento associadas em cada situação.

Estratégias para administrar os sentimentos de inferioridade com origem na infância

Crescer em um ambiente familiar em que os reforços positivos raramente são recebidos reduz o nosso autoconceito. Além disso, ter tido um irmão que sempre recebia os elogios ou simplesmente ter passado os primeiros anos em um ambiente exigente ou depreciativo, é algo que fere profundamente o autoconceito e a autoestima.

O que podemos fazer nesses casos?

  • Reformular, separar e reescrever. Quando se vive uma infância marcada pela carência, é preciso reformular e reescrever tudo o que foi transmitido, sentido e incutido pelos outros. Este é um trabalho de reestruturação quase constante dos pensamentos. Assim, se nossa mãe nos convenceu de que não servíamos para isso e para aquilo, é hora de mudar esse pensamento: “por que não posso ser bom para o que eu quero? Quem disse? E se eu tentar?”.
  • Autoeficácia. Quando uma pessoa diz a si mesma “sinto que sou inferior aos outros”, ela tem um senso muito baixo de autoeficácia. Desde criança, ela foi levada a acreditar que era desajeitada, falível, preguiçosa, inepta… Para fortalecer a autoestima, é preciso trabalhar a autoeficácia e, para isso, é necessário nos envolvermos com pequenos objetivos e tarefas, a fim de mostrar a nós mesmos do que somos capazes.

Depois de uma relação abusiva, sinto que sou inferior aos outros. O que posso fazer agora?

Ter um relacionamento afetivo com um narcisista. Ter vivido durante vários anos com alguém que nos maltratava. Finalmente colocar um ponto final em um relacionamento baseado na dependência… Todas essas experiências podem prejudicar o nosso autoconceito até nos tornarmos alguém diferente: alguém definido pelos medos.

O que podemos fazer nesses casos?

  • Livre-se da culpa. Você não é responsável pelo que aconteceu, não carregue ainda mais negatividade e desprezo. É hora de se curar depois de tudo o que foi vivido.
  • Empodere-se. É hora de levantar o rosto e se perguntar o que você quer. Trace novos planos no horizonte, conheça novas pessoas, apoie-se em quem te ama para lembrar que a vida vale a pena, que você tem valor para o que deseja.
  • Reconstrua a sua autoestima dia a dia. Faça uma mudança que te faça sentir bem e competente como, por exemplo, começar um curso, procurar outro emprego, pensar em novos projetos…

Sentimento de inferioridade por causa de raça, aparência física, deficiência, limitações específicas…

Outra razão pela qual é comum experimentar sentimentos de inferioridade tem origem em aspectos sociais, físicos, culturais, etc. Estar acima do peso, ter uma determinada cor de pele, estar no espectro autista, sofrer de alguma deficiência… Todos esses fatos podem fazer com que, em certos casos, alguém se sinta em desvantagem.

O que podemos fazer nesses casos?

  • Cuidado com as profecias autorrealizáveis. Os sentimentos de insegurança e inadequação inevitavelmente alimentam as profecias autorrealizáveis. Ou seja, se eu tiver como certo que não me aceitarão nesse emprego porque sou baixo, porque sou de outra religião, porque sou obeso, etc… e decido não ir por causa dessas razões, estou me limitando.

As pessoas com baixa autoestima esperam pouco de si mesmas e nada do ambiente ao seu redor. É necessário mudar essa visão e nos dar oportunidades.

  • Você vale mais do que pensa e isso deve ser mostrado primeiramente a si mesmo, antes dos outros. A essência de um complexo de inferioridade é ficar preso em um ciclo de pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos. Assim, comece a formular novos pensamentos e a alimentar novas emoções: “Não preciso mostrar a ninguém o meu valor, não devo me comparar com ninguém porque, a partir de hoje, eu serei a minha melhor referência. E vou investir no que eu quero alcançar.”
Mulher triste duvidando

Sentimentos de inferioridade e transtornos mentais

Há um último aspecto que não podemos ignorar. Ideações como “sinto que sou inferior aos outros” também aparecem em múltiplos transtornos psicológicos. Estudos como os realizados na Universidade de Hamburgo pelo Dr. Stephen Moritz, por exemplo, mostram que os sentimentos de inferioridade geralmente também tendem a aparecer em pacientes com esquizofrenia.

Por outro lado, as pessoas com um transtorno de personalidade dependente ou o transtorno de personalidade esquiva também o manifestam. Da mesma forma, não podemos ignorar que, por trás de comportamentos autolesivos ou até mesmo nos transtornos alimentares, ele também pode estar presente.

Nesses casos, é prioritário receber ajuda profissional especializada. Abrigar a constante sensação de que não servimos para nada e de que os outros nos superam em tudo limita a qualidade de vida de forma esmagadora. Assim, não devemos hesitar em recorrer à terapia psicológica para redefinir ideias, curar a autoestima e fortalecer o autoconceito.


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  • Steffen Moritz, Ronny Werner & Gernot von Collani (2006) The inferiority complex in paranoia readdressed: A study with the Implicit Association Test, Cognitive Neuropsychiatry, 11:4, 402-415, DOI: 10.1080/13546800444000263

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