Solidão no amor: você está aqui, mas eu não o sinto presente

Sabemos que o amor não é a cura para a solidão, mas às vezes não há pior sofrimento do que ter encontrado o amor da nossa vida e, de repente, sentir a solidão da indiferença, do afastamento e da frieza emocional.
Solidão no amor: você está aqui, mas eu não o sinto presente
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Você está aqui, mas eu não o sinto presente. A solidão no amor pode ser devastadora. É quase como perceber que há uma janela aberta por onde entra o frio e, por sua vez, desaparecem a paixão, o interesse, as cumplicidades que antes acendiam carícias e sorrisos. Quase sem saber como, essa indiferença vem de súbitas hostilidades, censuras e aqueles olhares que, longe de serem procurados, se evitam.

Se há algo que gostaríamos é que todo o amor que professamos por alguém nos fosse devolvido com a mesma intensidade (tanto dado, tanto recebido). Adoraríamos que, em termos de relacionamento afetivo, houvesse sempre um equilíbrio perfeito e absoluto. Amar e ser amado da mesma maneira, com a mesma energia, forma e paixão. Porém, cada um de nós o faz à sua maneira, do seu jeito, com habilidades melhores e piores.

No entanto, poucas experiências costumam trazer tanto sofrimento quanto sentir a progressiva indiferença do parceiro. Por mais surpreendente que possa parecer, a razão para isso nem sempre é a falta de amor. Por vezes, esta realidade está inscrita naquela pessoa caracterizada por uma evidente inacessibilidade emocional , também na alexitimia e em quem simplesmente não compreende que o amor é mais do que a presença física. O amor autêntico requer ação, emoção, conexão e reciprocidade.

“Desejamos e admiramos a solidão quando ela não nos causa sofrimento, mas a necessidade humana de compartilhar as coisas é evidente”.
– Carmen Martín Gaite –

Solidão no amor

Solidão no amor, uma realidade muito comum

O simples fato de ter um parceiro não oferece proteção contra a solidão. Esse fato é demonstrado pelos dados obtidos nos estudos sobre a solidão publicados a cada ano. Sabemos, por exemplo, que a solidão já é uma epidemia entre a população idosa; entretanto, nos últimos anos estamos descobrindo como a população mais jovem também mostra essa realidade de forma significativa.

Portanto, é importante falar sobre o que entendemos como “sentimento de solidão”. Ou seja, aquele que aparece apesar do fato de a pessoa ter companheiro, família ou possuir uma extensa rede social. Como nos disse Robert Weiss, psicólogo social e especialista nesse campo, “solidão é o que sentimos quando sentimos a falta de algo de que precisamos”.

Da mesma forma, foi esse autor que estabeleceu a diferença entre solidão social e emocional. Esta última é a que surge sobretudo nos casais, onde falta apego, compromisso e aqueles nutrientes afetivos que constituem um vínculo feliz e saudável. Além disso, até pouco tempo atrás, não era dada a esse tipo de solidão nenhuma atenção especial. Entretanto, do ponto de vista clínico, sabemos que essas situações geram grande ansiedade. As implicações que isso tem para a saúde física e mental são enormes.

Homem sozinho e triste

A solidão no amor tem muitas faces

María Teresa Bazo, socióloga e especialista em assistência social e qualidade de vida, destaca que “é bem possível que a pior solidão seja aquela vivida acompanhada” (Bazo, 1989). A verdade é que a solidão no amor pode ser sentida por anos, e até décadas, sem que tentemos remediar esse fato grave. Agora, é importante saber primeiro quais fatores a influenciam, uma vez que eles podem ser tão diversos quanto impressionantes.

  • Em primeiro lugar, devemos saber que existem pessoas que iniciam um relacionamento para afastar a própria solidão, os seus medos e vazios. É o caso daqueles homens ou mulheres que sofreram traumas ou que simplesmente apresentam uma baixa autoestima. Nesses casos, eles raramente se sentirão felizes ou realizados nesse relacionamento. Eles sempre sentirão que está faltando ‘algo’, o sentimento de solidão nunca é aliviado.
  • Por outro lado, também existem aqueles perfis com sérias dificuldades para compartilhar, falar sobre os seus sentimentos ou validar emocionalmente o parceiro. Eles não entendem a linguagem do afeto; talvez porque não saibam como, não podem ou não querem.
  • A solidão no amor também pode surgir devido ao peso da rotina. Deixamo-nos levar pela evolução do dia a dia, pelas pressões, empregos e ocupações, nos esquecendo de atender e nutrir o mais importante: o relacionamento afetivo.
  • Por último, mas não menos importante, existe o elemento mais comum: o desamor.

Efeitos da distância emocional

Quando a solidão aparece no amor e na distância emocional, vivenciamos uma série de realidades psicológicas muito comuns. O estresse surge diante da incerteza, da angústia, do medo de não ser amado e, muitas vezes, também da hostilidade. O fato de não receber explicações ou de ficar suspenso naquele limbo onde não ocorre o término nem a tentativa de resolução da situação gera frustração.

Podem surgir reprovações, brigas e maiores distanciamentos. Tudo isso se reflete no nosso trabalho e nos outros relacionamentos. São, sem dúvida, situações muito delicadas.

Casal distante no sofá

O que devemos fazer quando sentimos solidão em nosso relacionamento amoroso?

Se há algo que todos nós devemos entender, é que a solidão saudável será sempre preferível a uma solidão sentida ao lado de alguém. Sabemos que a solidão social ou física é dolorosa, mas a solidão emocional é mais profunda e mais enigmática porque diminui a dignidade e a autoestima.

Manter esse tipo de relacionamento onde está presente o abismo da frieza emocional e da indiferença não faz sentido. Diante dessas realidades, há apenas duas opções: encontrar o problema e resolvê-lo ou terminar o relacionamento. Nestes casos, um terapeuta de casal será de grande ajuda para podermos trabalhar as dificuldades e, assim, encontrar a melhor resposta.

Seja como for, vamos deixar claro que a solidão no amor é mais comum do que pensamos, e o seu custo é imenso.


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  • Russell, D., Peplau, LA, y Cutrona, CE (1980). La Escala de Soledad de UCLA revisada: evidencia de validez concurrente y discriminante. Diario de la personalidad y la psicología social , 39 (3), 472-480. https://doi.org/10.1037/0022-3514.39.3.472

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