Efeitos da suspensão das aulas durante a pandemia nas crianças

Não ter aula não deve ser motivo de festa para os nossos filhos. A falta de socialização e, em muitos casos, a falta de recursos técnicos para dar continuidade aos estudos à distância criam novos problemas neste cenário de confinamento.
Efeitos da suspensão das aulas durante a pandemia nas crianças
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Os efeitos da suspensão das aulas durante a pandemia nas crianças vão além do mero tédio ou da falta de socialização. A já definida como “geração do coronavírus” pode sofrer sérias consequências cognitivas, acadêmicas e emocionais. E o que é mais sério, esse impacto abre uma lacuna ainda mais evidente entre pessoas mais favorecidas e aquelas com menos recursos.

O coronavírus e o atual cenário de pandemia alteraram todas as bases sobre as quais construímos nossa sociedade. Além do confinamento, de um cenário econômico congelado, de fronteiras fechadas, de um céu sem aviões trazendo turistas, há um drama no ar.

Temos, por um lado, o drama da própria doença e seus efeitos devastadores sobre nós. Há também as histórias pessoais de cada família, com a angústia pelo futuro, a incerteza do que acontecerá amanhã.

No entanto, existe uma esfera mais sensível, e ela é composta por nossos filhos. Eles vivem essa realidade em silêncio, processando-a à sua maneira e sofrendo uma das consequências mais marcantes desse momento: o fato de não ter aula.

Mais de 300 milhões de estudantes em todo o mundo tiveram seus anos acadêmicos interrompidos. Em países como a Itália, todos os alunos foram aprovados e passaram em seus cursos.

A maioria tenta resolver o problema através de aulas on-line, mas a exclusão digital é real; nem todas as famílias dispõem dos meios necessários. E o que é ainda mais evidente: muitas escolas ainda não estão preparadas para a educação remota.

Pai e filho usando notebook

5 efeitos da suspensão das aulas durante a pandemia nas crianças

As crianças e também os adolescentes vão se lembrar desses dias por muito tempo. Cada um deles vai processar o que está acontecendo à sua maneira, de acordo com as experiências vividas.

Alguns vão perder um familiar para o coronavírus. Outros vão recordar durante anos a angústia que sentiram em casa e que era transmitida através dos rostos e conversas de seus pais. Muitos, talvez, guardem uma boa memória. Não podemos prever como será o dia de amanhã da geração mais jovem da nossa sociedade.

No entanto, podemos dizer que seus mundos vão mudar, assim como o dos adultos, sem dúvida. Uma das nossas maiores preocupações é conhecer os efeitos da suspensão das aulas durante a pandemia nas crianças, algo que organizações como a UNESCO vão atualizando por meio de relatórios e estimativas.

Efeitos mais negativos para as crianças entre 4 e 7 anos

A falta de escolaridade regular pode ser mais grave em crianças mais novas, especificamente naquelas que ainda estão passando pelo processo de alfabetização.

Entre 4 e 7 anos de idade, as crianças dão um grande salto qualitativo no qual os processos cognitivos, motores, executivos e de atenção precisam desse apoio contínuo para estabelecer habilidades de escrita e leitura.

Evidentemente, elas podem continuar esse processo em casa. Se o apoio por parte da família for adequado, eles não serão afetadas. Mas caso esse apoio não exista, elas poderão sofrer um atraso na integração dessas competências.

O isolamento nos adolescentes

Outro efeito de não ter aula durante a pandemia afeta principalmente os pré-adolescentes e adolescentes.

Nesse período, é muito comum que eles se isolem com relativa facilidade. Optar por ficar em seus quartos e passar horas conectados à internet, mas sem concluir suas tarefas acadêmicas, constitui outro perigo.

As famílias são forçadas a supervisionar sua rotina, verificando se continuam estudando, fazendo a lição de casa… Tudo isso pode ser exaustivo e causar conflitos.

Pais e mães no papel de professores

O confinamento está forçando os pais a cumprirem (agora mais do que nunca) o papel de professores. Em alguns casos, isso não representa um problema. No entanto, nem todo mundo está preparado, nem todo mundo tem paciência ou, pelo menos, a capacidade de deixar de lado suas próprias preocupações para ser uma ferramenta hábil para auxiliar seus filhos a continuarem progredindo academicamente.

Não, a internet não chega a todas as casas, nem existe um computador em todas elas

A exclusão digital é um fato. Sabemos que a educação à distância é uma opção e que, se as aulas não puderem ser ministradas presencialmente, existe outra alternativa: a virtual.

No entanto, é preciso lembrar que nem todas as famílias têm os mesmos recursos. Existem milhões de crianças em todo o mundo que não têm acesso a um computador em casa para acompanhar as atividades escolares.

Crianças usando aparelhos eletrônicos

A escola como cenário para uma alimentação adequada

Outro efeito nas crianças por não ter aula durante a pandemia está no plano nutricional. Além do aspecto econômico, está o alimentar.

Não podemos esquecer que muitas crianças dependem das refeições que recebem nos refeitórios das escolas. Assim, no caso das organizações sociais não fornecerem às famílias algum tipo de auxílio, muitas crianças vão começar a sofrer sérias deficiências nutricionais.

Atraso acadêmico e falta de socialização

Perder o último trimestre ou semestre terá efeitos. Conteúdos não serão aprendidos, temas ficarão em aberto e experiências únicas que são vividas apenas na sala de aula nunca serão experimentadas. Pode ser que, para muitos estudantes, não ir às aulas represente um período de férias.

No entanto, há algo que faz falta: a socialização, a rotina das aulas, os amigos, a correria do dia a dia, às vezes complicado e às vezes emocionante, que também melhora o desenvolvimento social e emocional das crianças. Elas também estão perdendo tudo isso.

Sabemos que o efeito da pandemia vai durar mais um tempo, mas quando as salas de aula reabrirem, o mundo acadêmico e educacional sabe que tem um desafio pela frente: adaptar a educação a situações de emergência e estabelecer mecanismos para que a educação à distância tenha a mesma qualidade que a presencial.

Esperemos que esse avanço possa chegar a todos.


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