Susto ou espanto, a perda repentina da alma

Susto ou espanto, a perda repentina da alma
Raquel Aldana

Escrito e verificado por a psicóloga Raquel Aldana.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

De repente, sem saber como, há pessoas que sentem que perderam sua alma. A causa geralmente está em algum susto ou espanto, de origem variável, que gera uma sensação desagradável que fica entre o temor e a surpresa. Algo repentino que provoca a sensação de que o coração saiu voando.

Todos conhecemos a sensação que surge quando uma circunstância específica nos faz sentir que a vida está correndo perigo ou sendo ameaçada. Essa percepção é, muitas vezes, real. Em outros momentos, no entanto, pode estar determinada pela sugestão e não representar um perigo para a vida.

Há pessoas que, como resposta a esse tipo de situação, após um grande susto, sentem que a alma saiu do seu corpo. Isso gera uma grande infelicidade e provoca uma sintomatologia ampla e diversa que analisaremos a seguir.

O ‘susto’ – também chamado de espanto em alguns lugares – está no glossário cultural do DSM-5, Manual de Diagnóstico para os Transtornos Mentais, definido como uma explicação cultural em muitos povos americanos para sintomas psicológicos.

As condições relacionadas no DSM-5 são o transtorno depressivo maior, transtorno de estresse pós-traumático ou outro transtorno relacionado a traumas e a estressores especificados, transtorno relacionado a trauma e a estressores não especificados, e transtornos de sintomas somáticos.
Mulher com muito medo

A definição de “susto ou espanto” nos sistemas diagnósticos

O DSM-5 define o susto ou espanto como:

“Susto (“susto”) é uma explicação cultural para sofrimento e azar prevalente entre alguns latinos nos Estados Unidos e entre pessoas no México, na América Central e na América do Sul. Não é reconhecido como uma categoria de doença entre latinos no Caribe. Susto é um mal atribuído a um evento assustador que faz a alma deixar o corpo e resulta em infelicidade e doença, bem como em dificuldades de funcionamento em papéis sociais importantes. Os sintomas podem surgir a qualquer momento, desde dias até anos depois da experiência de susto. Em casos extremos, o susto pode resultar em morte.”

Tal como informa o sistema diagnóstico, os sintomas podem aparecer em qualquer momento, desde dias até anos após o acontecimento que gerou o susto. Nos casos extremos o susto ou espanto podem até mesmo provocar a morte.

Desse modo, ainda que não haja sintomas específicos que definam esse infortúnio denominado susto ou espanto, a sintomatologia que costuma estar atrelada a essas pessoas é:

  • Alterações do apetite.
  • Sono inadequado ou excessivo, sono conturbado ou presença de sonhos.
  • Sentimentos de tristeza.
  • Baixa autoestima.
  • Sensibilidade interpessoal.
  • Falta de motivação para fazer as atividades diárias.
  • No que diz respeito a uma sintomatologia somática, os sintomas que acompanham o susto ou espanto podem ser dores musculares, frio nas extremidades, palidez, dor de cabeça, dor abdominal e diarreia.

A origem e a tipologia do susto ou espanto

A origem ou, o que é a mesma coisa, os acontecimentos que fazem com que essa condição apareça são diversos. Geralmente incluem fenômenos naturais, animais, situações interpessoais e entes sobrenaturais, entre outros.

O DSM-5 identificou três tipos sindrômicos de susto o espanto, e cada um deles tem relações diferentes com os diagnósticos psiquiátricos. Pode-se perceber que o susto ou espanto é uma denominação de povos diversos para doenças psiquiátricas que são desconhecidas para eles.

  • Um susto interpessoal, caracterizado por  sentimentos de perda, abandono e não ser querido pela família, com sintomas presentes de tristeza, má imagem de si mesmo, ideação suicida. Tem uma relação muito próxima com a sintomatologia do transtorno depressivo maior.
  • Quando o susto é o resultado de um acontecimento traumático que teve um papel fundamental para o surgimento dos sintomas e no processamento emocional da experiência, parece mais apropriado o diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático.
  • O susto caracterizado por vários sintomas somáticos recorrentes – para os quais a pessoa já buscou assistência médica variada – é considerado algo similar a um transtorno de sintomas somáticos.

Essa condição supõe um sofrimento verdadeiramente intenso para as pessoas afetadas. As diferentes culturas que documentaram a condição atribuem também componentes mágicos para sua aparição.

Dessa forma, é curioso como algumas culturas, como a tzotziles, fazem uma diferenciação entre três tipos para os sintomas que surgem da situação de susto ou espanto (Castaldo, 2004):

  • Xi-el: não se perde a alma.
  • Komel: é o espanto por uma queda; perde-se a alma e a terra a pega.
  • Ch’ ulelal: a alma é perdida e não se sabe onde ela está, pode estar no céu, em outro povo, em um mercado, pelo mundo.

Esse fenômeno não é homogêneo e requer uma maior investigação e consideração da comunidade científica. Dito isso, o susto ou espanto precisa ser estudado e atendido dentro do seu contexto dos povos americanos, pois não podemos nos esquecer de seu forte componente cultural.


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  • American Psychiatric Association (2014). DSM-5. Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales. Editorial Médica Panamericana. ISBN 9788498358100.

  • Castaldo, M. (2004). Susto o espanto. En torno a la complejidad del fenómeno. Dimensión Antropológica, 11, 32


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