O que é talassofobia ou medo do mar?
Para muitos de nós, a imagem de uma praia com mar calmo é a mais atrativa e relaxante. Poucas ações podem produzir tanta satisfação quanto nadar no oceano num dia quente de verão. No entanto, para aqueles que sofrem de talassofobia, tais circunstâncias são nada menos que um pesadelo.
São muitas as pessoas que sentem ansiedade e medo na presença do mar. Porém, o talassofóbico desenvolve um desconforto tão profundo que seu bem-estar físico e emocional fica comprometido. De onde vem essa fobia e o que podemos fazer a respeito?
Definição de talassofobia
É um tipo de fobia específica que se caracteriza pelo medo irracional, excessivo e persistente de grandes massas de água, como os oceanos. Quem sofre com isso experimenta um verdadeiro pânico diante desse tipo de estímulo.
Como saber se você tem fobia do mar?
Um dos principais sinais em que esta condição se expressa é um desconforto significativo que pode afetar o seu bem-estar emocional, as suas relações sociais, as atividades recreativas e os planos de viagem. Vejamos outros sinais dessa condição.
1. Você sente ansiedade quando pensa ou está perto do mar
Ao olhar o mar em fotos ou vídeos, ou ao se aproximar dele, você sente um medo avassalador e significativo que o impede de continuar vendo a imagem ou de estar presente diante dela. Essa ansiedade pode aparecer com palpitações, sudorese excessiva, náuseas, vertigens…
2. Você tem reações físicas desproporcionais
Quando você está no mar ou pensa nisso, percebe que seu corpo responde de forma excessiva. Você começa a sentir tremores, calafrios, tontura, dor no peito, vermelhidão, asfixia, taquipneia.
3. Você evita o mar e áreas próximas
Você evita ver ou visitar praias e portos. Você também evita atividades relacionadas ao mar, como passeios de barco, pesca e natação. Este comportamento pode estender-se a áreas mais indiretas como evitar um canal de televisão onde apareçam imagens sobre o mar, não falar de assuntos relacionados com as ondas, não ir de férias para locais costeiros, entre outros.
4. Você tem pensamentos ou preocupações intrusivas
Você está obcecado pelos perigos relacionados ao mar, como afogamentos e animais marinhos. Esses pensamentos aumentam ainda mais quando você descobre a possibilidade de fazer uma viagem com a família ou amigos para a praia.
5. Você tem crenças negativas sobre o oceano
Você acredita com convicção que o mar é um lugar muito perigoso e imprevisível, e que qualquer abordagem que você tiver dele será fatal para você. Isso não apenas aumenta sua fobia, mas também aumenta seus comportamentos de evitação.
5. Você faz interpretações negativas sobre suas reações físicas
Quando experimentamos as sensações fisiológicas de ansiedade (taquicardia, suor excessivo, dores no peito…), pensamos que estas reações são sinais de que estamos perante um perigo real e iminente (o mar) ou de que vamos morrer. Essas interpretações aumentam o seu medo do oceano.
6. Você acha que não consegue enfrentar sua fobia
Você acredita que é incapaz de enfrentar o mar e que não tem habilidades suficientes para regular o que sente ou para superar a fobia. Essas ideias fazem você se sentir frustrado, sem esperança e desamparado.
Critérios diagnósticos do DSM-5
Adaptando a descrição diagnóstica de fobias específicas da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), os critérios para diagnosticar a talassofobia seriam:
A. Medo ou ansiedade intensa em relação ao mar.
B. O mar quase sempre provoca medo imediato.
C. Evitação ou resistência ao mar com intensa ansiedade.
D. O medo é desproporcional ao perigo representado pelo oceano.
E. A fobia do mar é persistente, durando seis ou mais meses.
F. Ansiedade, medo ou evitação causam sofrimento médico significativo ou prejuízo no trabalho, na vida social e em outras áreas da vida.
G. A fobia do mar não é melhor explicada por outro transtorno mental.
Um terror irracional e outras fobias semelhantes
É importante ressaltar que, como em todas as fobias específicas, o medo é de natureza irracional e não obedece a nenhuma lógica. Se caíssemos de um barco no meio do oceano, todos entraríamos em pânico; No entanto, quem sofre de talassofobia sente uma sensação semelhante apenas ao mergulhar os pés no mar.
Além disso, é relevante mencionar que existem outras fobias semelhantes a ela. Por um lado, a batofobia, também conhecida como medo de profundidade, é caracterizada por um medo intenso das áreas mais profundas do oceano, dos lagos ou de qualquer grande massa de água.
Por outro lado, a hidrofobia refere-se ao medo da água em geral, incluindo piscinas, banheiras ou água corrente. Ao contrário da talassofobia, que se concentra especificamente no mar, a hidrofobia abrange qualquer forma de água e pode gerar uma resposta de evitação diante de situações que envolvam contato com ela.
Qual é a origem da talassofobia?
Então de onde vem essa fobia? Pois bem, nem sempre as causas são conhecidas e, na maioria dos casos, é de origem multifatorial. Mesmo assim, é comum que surja pelos seguintes motivos:
- Experiências traumáticas vividas em primeira pessoa em relação à água. Por exemplo, ter quase se afogado, ter ficado preso em uma grande massa de água sem saída ou ter perdido um ente querido nessas circunstâncias. Esses eventos podem afetar qualquer momento da vida, mas são mais comuns durante a infância.
- Predisposições genéticas. Ter pais com uma fobia específica aumenta a probabilidade de sofrer de uma. Um estudo publicado no Journal of Anxiety Disorders indica que a herança genética influencia o desenvolvimento de fobias.
- O personagem. A tendência de reagir com altos níveis de ansiedade a situações em que se percebe uma possível perda de controle, bem como os pensamentos irracionais mencionados nas linhas anteriores, são sintomas e causas desta condição. Esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.
- Aprendizagem vicária. Testemunhar outra pessoa vivenciando eventos desagradáveis na água pode causar o aparecimento da fobia. Mesmo que esta imagem venha de filmes ou séries de ficção.
- Medo do desconhecido. A ignorância do mundo marinho também pode aumentar o medo, se não houver uma compreensão clara dos possíveis perigos que podem surgir num local específico.
- Influência social. Ouvir experiências negativas sobre o mar e assistir filmes, séries ou documentários onde apenas os perigos são destacados pode influenciar o aparecimento desse medo, principalmente se a pessoa nunca visitou o oceano e não o conhece.
Tratamento para fobia do mar
Sua intervenção é igual a qualquer outro tipo de fobia. Num artigo publicado pela Universidade de Oviedo sobre tratamentos psicológicos eficazes para fobias específicas, Juan Capafons analisa quatro das intervenções mais utilizadas para estes transtornos de ansiedade. Vamos ver o que isso nos diz sobre cada um.
Terapias cognitivo-comportamentais
Estas terapias combinam a exposição com estratégias cognitivas (como a reestruturação cognitiva) para modificar os padrões de pensamento do paciente. Eles incluem programas como terapia emotiva racional, treinamento em inoculação de estresse e terapia racional sistemática. O objetivo é mudar pensamentos disfuncionais e reduzir a ansiedade.
Tratamento biológico
Centra-se na terapia farmacológica, embora a sua eficácia seja limitada em comparação com tratamentos baseados na exposição. Os medicamentos mais prescritos incluem benzodiazepínicos e betabloqueadores, mas geralmente são complementares às técnicas de exposição.
Terapia exposta
Este método envolve a exposição gradual ao estímulo fóbico. Inclui técnicas como dessensibilização sistemática, inundação e exposição gradual. A eficácia da terapia depende de como o estímulo é apresentado (ao vivo ou em imagens). A duração e os intervalos da exposição ao vivo e o uso do relaxamento como resposta antagônica são frequentemente mais eficazes do que se imagina.
Realidade virtual
Utiliza tecnologia de realidade virtual como alternativa à exposição real. Embora ainda em desenvolvimento, esta técnica permite ao terapeuta criar contextos controlados e seguros para exposição sem a necessidade de interagir com estímulos fóbicos reais.
Como superar a fobia do mar?
Paralelamente ao tratamento profissional, você pode iniciar algumas ações que o ajudarão a superar sua fobia do mar. Mesmo que queira fazer por conta própria, lembre-se que o apoio terapêutico é fundamental nesses casos, pois não é um medo comum.
Aprenda sobre a vida marinha
Compreender como é o oceano, a sua composição, as suas características e o tipo de animais marinhos que nele vivem, pode ajudar a compreender melhor o mar, o que pode ter um impacto favorável na intensidade e irracionalidade do medo.
Respire com seu diafragma
Essa forma de respirar ajuda a reduzir a intensidade da resposta fisiológica à ansiedade. Além disso, permite que você fique mais relaxado e menos tenso. Ao focar na respiração diafragmática, você desvia a atenção da fobia. Para aplicá-lo, siga estas etapas:
- Sente-se em um lugar tranquilo.
- Coloque uma mão no peito e a outra no abdômen.
- Inspire pelo nariz e sinta a barriga se expandir.
- Evite que seu peito se expanda ao inspirar.
- Prenda a respiração por alguns segundos.
- Expire pela boca e sinta a barriga murchar.
- Concentre-se na respiração e em como o ar entra e sai.
- Repita o ciclo várias vezes.
Pratique o mindfulness
Através deste treino, poderá focar a sua mente no presente sem julgar a sua experiência e aceitar as suas emoções e sensações associadas ao mar. Também permitirá que você aprenda mais sobre seus pensamentos e sentimentos, o que é importante para superar a fobia. Para usar o mindfulness, faça o seguinte:
- Encontre um lugar confortável.
- Respire profunda, lenta e conscientemente.
- Visualize o mar ou pense nele.
- Observe o que você pensa e sente sem julgar.
- Observe sua reação física.
- Volte sua atenção para o presente quando tiver pensamentos catastróficos.
- Aceite a experiência.
- Repita regularmente.
Faça atividades relaxantes
Para contrariar a fobia do mar, procure fazer uma prática que lhe agrade e relaxe quando estiver na praia. Conectar-se a essas atividades o ajudará a associar essas emoções positivas ao oceano. Algumas ideias que você pode aplicar são:
- Escutar musica.
- Pratique algum esporte.
- Faça um piquenique com os amigos.
- Leia um livro.
- Faça yoga.
Exponha-se ao mar
Aproximar-se do mar fará com que você se acostume com suas reações emocionais e fisiológicas. A exposição consiste em ir aos poucos, e de forma controlada, conectado com o medo na situação fóbica. Siga estas instruções:
- Ouça os sons do mar e veja imagens dele.
- Depois, no seu próprio ritmo, aproxime-se de uma praia, mas mantenha distância das águas.
- Depois de passar a fase anterior, aproxime-se um pouco mais da água.
- À medida que as exposições avançam, você avança cada vez mais em direção ao oceano.
- Toque a água com os pés.
- Quando estiver pronto, entre um pouco na água.
- Aumente gradualmente o tempo e a profundidade.
- Aplique respiração diafragmática durante todo o processo de exposição.
- Registre seu progresso.
- Seja muito paciente.
Faça exercícios de visualização
Imaginar é uma ferramenta poderosa que você pode usar a seu favor. Através dele, você poderá aumentar suas emoções agradáveis após ter tido um encontro ansioso com o mar. Para visualizar, faça o seguinte:
- Sente-se em um lugar tranquilo.
- Feche os olhos e respire com o diafragma.
- Imagine um lugar que gere paz para você.
- Observe cada detalhe desse cenário.
- Concentre-se na paz e no relaxamento que isso produz em você.
- Permaneça nesse espaço por vários minutos.
- Caminhe, explore e sinta os estímulos imaginados.
- Volte à respiração e abra os olhos.
Uma fobia que afeta o bem-estar
Neste artigo você aprendeu que a talassofobia é uma experiência emocional irracional e desproporcional que afeta a capacidade de desfrutar de atividades associadas ao oceano. O medo sentido por quem sofre com isso é tão avassalador e significativo que afeta seu bem-estar.
Felizmente, existem diversas alternativas de tratamento profissional por meio das quais a pessoa pode enfrentar o medo e superar a fobia. Lembre-se de que a melhor forma de superar um medo como esse é enfrentá-lo, ou seja, expondo-se progressivamente a ele e buscando ajuda profissional.
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