Técnicas de autoconforto ou como se consolar

Dar conforto e apoio a nós mesmos é tão (ou mais) importante do que dar aos outros. No entanto, estamos mais acostumados a nos criticar por nossos erros do que a ter compaixão por cada queda e decepção sofrida.
Técnicas de autoconforto ou como se consolar
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Você se trata bem? Você se consola da mesma forma que consola os outros? A verdade é que muitos de nós falhamos nessas áreas. Não ter um aprendizado solvente e eficaz em técnicas de autoconforto, por exemplo, aumenta, segundo a ciência, o risco de transtornos de ansiedade ou depressão.

Via de regra, as pessoas tendem mais à autocrítica do que à autocompaixão. Fazemos isso porque nossa educação e os rígidos padrões de nossa sociedade nos impelem à autoperfeição e à infalibilidade. Nós nos esforçamos para não cometer erros, ser altamente eficazes, competitivos e ser os melhores trabalhadores, os melhores parceiros, os melhores pais, mães, amigos…

Estabelecemos um nível tão alto para nossa existência que não deixamos espaço para a vulnerabilidade, o erro, o esgotamento ou o fracasso. Não é fácil consolar-se quando se olha a si mesmo com culpa e não com afeto. Não é fácil quando nossa cultura nos educou na necessidade de sermos duros conosco mesmos para alcançar a preciosa —e impossível— perfeição.

O consolo implica deixar espaço para nos sentirmos humanos e entrar em contato com nossas emoções

Mente com um homem dentro simbolizando o efeito das técnicas de autoconforto
Muitas vezes negligenciamos tanto a nós mesmos que deixamos de nos dar o apoio de que precisamos na jornada da vida.

5 técnicas de autoconforto para você se consolar quando for preciso

As técnicas de autoconforto são estratégias psicológicas que visam nos oferecer calma, alívio emocional e esperança. É trabalhar consigo mesmo para encontrar o mesmo bem-estar que encontramos ao receber um abraço dos outros, algumas palavras de apoio de uma pessoa que amamos. Dar-nos essas carícias emocionais também é lícito, necessário e benéfico.

Quando passamos por um momento ruim, é sempre oportuno contar com o conforto das pessoas próximas; no entanto, não podemos confiar exclusivamente nessas fontes externas. Nem todo o apoio que uma pessoa recebe tem que vir de seu círculo social. Devemos também nos capacitar a nos dar conforto, apoio, consolo e validação emocional.

Vamos, portanto, conhecer algumas estratégias básicas para dominar essa arte tão necessária.

1. Aceitar as emoções incômodas

A Universidade Pontifícia Comillas de Madri, na Espanha, desenvolveu uma interessante pesquisa. A terapia focada na emoção, por exemplo, parece fornecer recursos valiosos para os pacientes desenvolverem habilidades de autoconsolo. Assim, um fato que muitas vezes eles encontram é a dificuldade que muitas pessoas têm em aceitar essas realidades internas mais incômodas e problemáticas.

Tristeza, frustração ou raiva devido à decepção, fracassos ou mesmo angústia, são estados que geralmente são evitados. É mais fácil entrar no piloto automático e agir como se essas emoções não existissem.

Portanto, uma das estratégias mais básicas de autoconforto pela qual começar é abrindo espaço para o que machuca e validar cada emoção; incluindo aquelas com valência negativa. Em nenhum caso vamos dizer a nós mesmos que “isso não é nada, é bobagem que eu sinta isso ou como isso me deixa com raiva “. Vamos aceitar cada um desses estados.

Devemos ter em mente que esses sentimentos dolorosos geralmente são temporários. Eles vão se debilitando gradualmente, desde que não os evitemos, neguemos ou resistamos.

2. Autocompaixão, a bondade consigo mesmo

A psicóloga Kristin Neff é conhecida por contribuir cientificamente com um conceito central para a psicologia: a autocompaixão. Ser compassivo com nós mesmos significa parar de nos julgar por nossas falhas e erros para nos aceitarmos incondicionalmente, sendo gentis conosco mesmos.

Agora… que mecanismos ou estratégias podem nos permitir desenvolver tal autocompaixão? Aqui estão alguns exemplos simples:

  • Ofereça-se tempo de qualidade, descanse, faça o que lhe dá paz ou satisfação.
  • Não rotule o que você sente como bom ou ruim, não se julgue pelo que está dentro de você. Apenas abrace a pessoa que você é aqui e agora, incluindo essas emoções.
  • Pratique técnicas de relaxamento para aliviar a tensão, para se conectar melhor consigo mesmo a partir de um estado calmo e pacífico.

3. Menos autocrítica e mais empatia consigo mesmo

Outra das técnicas de autoconforto que podemos desenvolver tem a ver com desligar a voz do crítico interior. Todos temos um juiz dentro de nós, que pode ser realmente implacável ao não perdoar nenhum erro, punindo-nos por nos sentirmos vulneráveis, rotulando-nos como fracos e menosprezando-nos por não sermos eficazes e decisivos.

Para combater a autocrítica, precisamos ser mais empáticos conosco. Godfrey T. Barrett-Lennard, professor de psicologia da Universidade de Murdoch (Austrália), explica algo ilustrativo em uma pesquisa sobre o tema. É essencial que na psicoterapia a pessoa seja treinada nesta competência básica.

A autoempatia nos permite conectar com aquela parte nossa que sofre, que tem medo, que navega na tristeza e que necessita consolo. Tenha isso em mente, se você é uma dessas pessoas que não tem dificuldade em ter empatia com seus amigos ou familiares… por que não faz o mesmo com você?

Deixar de ser tão severo e exigente consigo mesmo pode nos custar. No entanto, precisamos nos treinar para usar um diálogo interno mais gentil e empático.

4. Refúgios onde você pode desabafar, refúgios onde você pode arejar a cabeça

Consolar envolve criar um espaço seguro onde a pessoa possa chorar e expressar o que precisa. Também fornecer meios e estratégias para deixar de lado a aflição e se abrir novamente para a vida. Isso também é o que devemos fazer conosco.

Entre as várias técnicas de autoconforto, será muito útil aplicarmos aquela em que encontramos canais que nos permitam desabafar emoções. Escrever, ouvir música… Todo mundo sempre dispõe de seus próprios refúgios catárticos para deixar sair o que está dentro.

Por outro lado, não hesitemos em nos conectar com cenários que podem nos relaxar, pensar em outras coisas, distrair a mente (caminhar, fazer uma viagem sozinho, etc.).

Menino de costas com um cobertor aplicando técnicas de autoconforto
Nenhum sofrimento dura para sempre, a resistência ou a negação é o que o torna duradouro

5. Técnicas de autoconforto: a temporalidade da dor

Há outra estratégia útil em momentos difíceis. Lembremos que nenhum inverno é eterno, e que a dor dificilmente durará para sempre. Somente quando negamos nosso sofrimento é que ele dura mais do que o esperado, somente quando reprimimos a ferida ou nos descuidamos é que a angústia se torna crônica.

Vamos aceitar esse desafio do destino, esse fracasso, essa perda. Vamos nos consolar como consolaríamos o nosso melhor amigo. Aceitemos também o que nos vem do nosso entorno, mas nunca, em hipótese alguma, voltemos as costas uns aos outros. Vamos ser o melhor suporte para nós mesmos.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Barrett-Lennard, G. (1997). The recovery of empathy: Toward others and self. In Bohart, A. & Greenberg, L. , Empathy reconsidered: New directions in psychotherapy (pp. 103–121). Washington, DC: American Psychological Association Press. doi:10.1037/10226-004
  • Caro, Ciro, & Hornillos, Teresa. (2015). La Tarea de Auto-consuelo Compasivo en Terapia Focalizada en la Emoción. Acción Psicológica12(2), 73-94. https://dx.doi.org/10.5944/ap.12.2.15808
  • Neff, K. D., & Dahm, K. A. (2015). Self-compassion: What it is, what it does, and how it relates to mindfulness. In Handbook of mindfulness and self-regulation (pp. 121-137). Springer, New York, NY.
    Sherman, N. (2014) Recovering lost goodness: Shame, guilt, and self-empathy. Psychoanalytic Psychology 31: 217–235.
  • Neff, Kristin (2008) Sé amable contigo mismo. Paidós

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.