O tempo não apaga os sentimentos, ajuda a localizá-los
O tempo não vai solucionar os seus problemas, nem vai apagar aqueles sentimentos que estão entranhados dentro de você, nem muito menos vai fazer você esquecer o que aconteceu. É uma afirmação muito dura, mas real: o tempo apenas vai ajudá-lo a colocar as coisas no seu devido lugar, transformando-o no protagonista do seu caminho.
Dessa forma, ao ler Miguel de Cervantes dizendo que o tempo proporciona doces saídas para amargas dificuldades, não posso mais pensar no tempo como uma ferramenta de mudança. Com as adversidades viajamos à deriva, mas o passar dos dias nos dá esperança da harmonia emocional.
O tempo é relativo e uniforme, adaptando-se a psicologia de quem pensa. Por essa razão, nunca é o que consegue apagar o que machuca, mas sim o que nos dá o espaço suficiente para continuar: às vezes precisamos de meses, outras vezes, de anos.
Você é o protagonista da sua história
O gênio argentino Borges afirmou numa ocasião que o tempo molda nossa vida em função dos sentimentos que brotam do nosso interior a cada momento, e vai nos moldando como pessoas: é o compositor que une a obra dos seus dias e, dentro dessa obra, você é o principal protagonista.
As margens de tempo que damos a nós mesmos para encaixar um mal momento têm a mesma eficácia que os amigos próximos ou qualquer pessoa que se preste a nos apoiar: são apoios pelos quais você pode ficar muito grato, mas que não podem viver no seu lugar.
Se você sente a necessidade de reanimar-se, você tem que segurar as rédeas do que acontece com você e tomar suas decisões. Se, ao contrário, já passou por isso e os acontecimentos voltaram ao seu curso, você terá se dado conta do esforço individual a que se propôs. Um esforço individual apoiado provavelmente pelas mãos dos seus entes queridos, e o tempo que foi o companheiro dos seus atos deslizou para ter consequências positivas.
Cada coisa em seu lugar e um lugar para cada coisa
Com tempo e coragem todos esses sentimentos que machucaram ou machucam não se apagarão: são uma espécie de tatuagem com a qual você terá que conviver, mas que também terá que realocar: cada coisa vai encontrando seu lugar no seu coração e na sua memória, de tal forma que fica em você de uma maneira desfigurada: como a dor que você talvez sente quando toca aquele lugar específico (ela já não paralisa, mas traz a lembrança de uma aprendizagem).
Você entende com isso que não havia lugar para dúvidas e que esse lugar, que agora está machucado, era o seu lugar. E não, chegará o dia de amanhã e você não terá esquecido: os calafrios, bons e ruins, não se esquecem. No entanto, tenho que dizer que também não vai machucar mais se você aprender a perdoar ou, em outro caso, perdoar-se: essa será uma nova lição de vida e o herói/a heroína real é você, não o tempo.
O tempo lhe ensinará a olhar e a valorizar
Se existe algo em que o tempo ajuda é a abrir nossos olhos, a tirar a venda e valorizar o presente. Nesse presente existe vida além do que a que a tristeza gera, mais relações para cuidar e valorizar, mais pessoas e projetos que pedem um pouco mais de nós.
Não importam muitos os planos se não nos movemos para que eles se cumpram, não conseguiremos nos sentir melhor se não acionamos a chave da força interior: o tempo pode ajudar, mas se deixarmos todo o trabalho apenas para ele, ele fugirá.
O tempo, no final, lhe ensinará a olhar a partir do hoje e não a partir do ontem nem do amanhã: quem foi embora porque quis já não está; quem foi embora sem querer, está; quem não foi, quer que estejamos ali. Enquanto não tivermos isso em mente, o tempo escapará sem olhar para nós.