Tenho depressão, e agora?
Quando uma pessoa começa a se sentir mal, não são relevantes apenas os sintomas próprios da condição em questão — neste caso, os sintomas da depressão —, mas também a apreensão que o conhecimento do diagnóstico pode causar.
Por outro lado, se foi recebido um diagnóstico ou não, as pessoas que começam a apresentar sintomas depressivos podem ter medo de seus comportamentos, de suas cognições e reações. Neste artigo, apresentamos algumas chaves que podem nos ajudar a começar nossa batalha contra a depressão e sair vitoriosos.
A depressão não é uma doença e nem algo incurável
O mais importante quando se trata de lidar com um transtorno depressivo é saber que precisamos querer nos livrar dele. A disciplina terá que ser maior do que a de tomar um ou outro medicamento e esperar.
Os psicofármacos, em certos casos, podem ser muito úteis se combinados com uma terapia psicológica, mas aí está a chave. A terapia, se decidirmos fazê-la, pode ser a ferramenta mais poderosa da qual dispomos para começar a nos sentir melhor e a nos afastar do desespero, da tristeza ou da apatia.
Portanto, a terapia é também uma mensagem de esperança para aqueles com depressão, uma vez que funciona.
Diferentes correntes psicológicas propõem opções cientificamente validadas, testadas experimentalmente e postuladas como eficazes no tratamento da depressão. Desde a ativação comportamental proposta pela terapia de aceitação e compromisso até a terapia emocional racional de Ellis e a cognitivo-comportamental, existem muitas ferramentas que são úteis.
Portanto, embora não sintamos isso, é importante saber que é possível sair do estado depressivo, e que não é preciso fazê-lo sozinho: o psicólogo conhece as ferramentas e será um trabalho de ambos.
Os desejos são criados, não aparecem sozinhos
Um dos sintomas mais notáveis da depressão é o abandono de atividades com motivação intrínseca. Atividades que antes agradavam são deixadas de lado sem serem substituídas, de modo que a pessoa gradualmente vai perdendo essas fontes de emoções positivas.
A ausência de motivação ou desejo é um fator importante: anestesia a iniciativa e põe à prova a vontade. A pessoa com depressão se sente sem forças e por isso tenta economizá-las ao máximo.
No entanto, sendo isso herança do modelo de pensamento em que fomos educados, a verdade é que os desejos podem ser criados. O fato de não existirem não significa que o que fazemos não deva ser feito.
Se uma pessoa perdeu o desejo de passear com o cachorro todas as manhãs, é importante ter em mente que determinadas atividades podem continuar sendo realizadas “sem desejo”, precisamente para criar o “desejo”.
Certamente, depois daquela caminhada, nos sentiremos melhor, com um humor que arrastaremos para a atividade seguinte, a qual teremos menos dificuldade de realizar.
Nossa mente nem sempre protege nossos interesses
As pessoas com depressão podem perceber como seus pensamentos mudaram. Estes podem ser mais negativos, mais desesperados ou mais tristes. Podem inundar o diálogo interno com frases que prejudicam bastante.
Sem um tratamento — um trabalho de reestruturação cognitiva, por exemplo — é difícil perceber que esses pensamentos existem, mas sobretudo desarticulá-los e retirar-lhes sua validade.
Como isso seria algo a ser tratado em terapia — algo que recomenda-se encarecidamente iniciar — não se espera que a pessoa com depressão saiba como fazê-lo sozinha. Na realidade, não precisa.
Não devemos acreditar em tudo que nossa cabeça diz, mesmo que pareça certo. Ideias como “ninguém se importa comigo”, “não sirvo para nada”, “não posso continuar” são pensamentos irracionais que minam o nosso autoconceito.
Como muitas vezes não podemos evitá-los, é fundamental contar com estratégias que nos permitam ignorá-los. Nesse sentido, as estratégias distrativas guiadas pela atividade funcionam muito bem.
Ajude sem saber como ajudar
Um dos fatores mais importantes para o tratamento da depressão é ter um círculo social denso e repleto de apoio. O lado negativo é que a própria depressão geralmente desgasta esse círculo de apoio, de modo que este reduz sua área à medida que mergulham cada vez mais fundo no abismo mental.
Em muitas ocasiões, as pessoas procuram ajudar. Eles tentam e não veem correspondência por parte do outro, então acabam abandonando. Eles não gostam mais da companhia, sentem-se impotentes ao não saber como ajudar e acabam se afastando.
Por isso é tão importante que, se fizermos parte desse círculo de uma pessoa com depressão, permaneçamos em nosso lugar. A intervenção, assim como a avaliação, deve ser dirigida por um profissional.
A terapia psicológica como opção inicial e principal
Às vezes dá preguiça. Algumas vezes dá medo. Às vezes falta vontade ou “fé na psicologia”. De uma maneira ou de outra, a depressão forma um estado anímico e persistente do qual é possível sair.
Embora existam casos em que há uma remissão espontânea, a verdade é que existem pessoas que podem viver com depressão por muitos anos. Outras, a vida toda. Isso não significa que essa depressão não possa ser trabalhada, mas que talvez nunca tenha sido confrontada com uma intervenção direcionada, adaptada e especializada.
Embora sejam exemplos muito diferentes, não podemos esperar curar uma leucemia sem ir ao médico; podemos esperar para ir ao dermatologista ao notarmos uma mancha na pele, mas, neste caso, o tempo que perdemos estará contra nós. O mesmo vale para os transtornos psicológicos.
Portanto, embora pensemos que não estamos tão mal a ponto de fazer terapia, que não vale a pena ou que não será útil, é melhor prevenir do que remediar e trabalhar a tempo para que a depressão não se torne uma bola de neve.
Se os recursos pessoais permitirem, a terapia pode ser o primeiro passo para superar a depressão e iniciar um trabalho bem orientado por pessoas especializadas para ajudar nesses casos.
Trata-se de direcionar as forças que ainda não foram levadas pela depressão para lugares que nos devolvam o controle e a sensação de bem-estar.
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- Ayuso Mateos JL. [Depression: a priority in public health]. Med Clin (Barc) 2004; 123, 5:181-6.