Como viver em meio à tensão gerada pelos nossos desejos e limites inconscientes

Como viver em meio à tensão gerada pelos nossos desejos e limites inconscientes

Última atualização: 09 junho, 2017

Somos divididos entre os desejos fervorosos e os limites da realidade. A vida nos apresenta desafios contínuos e nós decidimos quais ignorar e quais queremos aceitar. No entanto, em raras ocasiões, passamos por situações extremas. Estas nos testam e, em muitos casos, nos permitem compreender que somos muito mais fortes do que pensávamos.

Em outros casos, nossos desejos nunca se concretizam e não temos a menor ideia do porquê. Neste artigo vamos tentar entender algumas dessas razões camufladas. Se quiser nos acompanhar, vamos tentar descobrir de onde vêm essas limitações inexplicáveis que nos impedem de alcançar aquilo que desejamos.

Nosso desejos desprezam e abandonam o que temos para correr atrás do que não temos”.
-Michel de Montaigne-

Em primeiro lugar, vamos pensar que os desejos surgem como resultado de um interesse em conseguir algo que não temos, ou pelo menos da forma e na hora que gostaríamos de tê-lo. Além disso, de alguma forma, sentimos sua falta e o consideramos necessário.

Preencher esse vazio envolve colocar em prática um procedimento, uma metodologia ou uma estratégia. Se conseguirmos isso, tudo fica bem. O problema surge quando notamos que conseguimos outra coisa. Aquilo que tanto desejávamos, na realidade, não era o que queríamos.

Este resultado é tão frustrante quanto quando trabalhamos muito duro para alcançar um objetivo e acabamos por não conseguir. Na verdade, também acontece de às vezes não encontrarmos satisfação nos desejos pelos quais mais lutamos. Por mais que implementemos todos os recursos que temos ao nosso alcance, não vemos nenhum progresso e o objetivo parece sempre estar a uma distância maior do que a que podemos alcançar se estendermos o braço.

É como se a realidade tivesse se empenhado em levar a nossa intuição para o lado contrário da nossa razão, que por mais que procure, não encontra motivo para não alcançar esse objetivo. Mas… o que realmente está acontecendo lá no fundo? Onde está esse obstáculo intransponível?

Mensagens que contaminam nossos desejos

Muitas vezes não estamos seguros do que realmente desejamos. Além de nos deixarmos influenciar pelos desejos coletivos, expressos na publicidade, por exemplo, também somos influenciados pelos comentários de amigos e familiares. A verdade é que, embora esses comentários possam ser bem intencionados, talvez não satisfaçam as nossas verdadeiras necessidades.

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A família é, por si só, uma verdadeira fábrica de expectativas. Desde que nascemos somos envolvidos em uma espécie de “ideal”. Se somos o mais velho da casa, o pretexto é porque somos o mais velho. Se somos o mais novo, o motivo é o mesmo. E assim sucessivamente com diferentes categorias, como o gênero ou a aparência. Outra coisa que influencia muito é o momento que a família vive quando chegamos ao mundo.

Em princípio, somos o resultado dos desejos dos outros. É um desejo que tornou a nossa vida possível. Em alguma medida nós fomos desejados, já que, caso contrário, provavelmente não teríamos nascido. E se não tivesse existido um desejo sustentado, também não teríamos sobrevivido aos nossos primeiros anos de vida.

No entanto, esse desejo que nos deu origem nem sempre é claro ou saudável. No entanto, no início da vida não temos escolha senão nos curvarmos aos desejos dos outros. Parte do processo de amadurecimento é precisamente a de nos livrarmos desse jogo. Compreender qual foi o desejo que tornou a nossa vida possível e definir até que ponto essas expectativas coincidem com o nosso projeto pessoal.

Os mandatos inconscientes

Estamos em um mundo em que parece que todos são capazes de emitir uma opinião profissional sobre os nossos desejos. Claro que isso também depende muito do lugar que ocupamos no mundo e do ambiente em que crescemos. O “bom e o mau”, o “desejável e o reprovável” são categorias delimitadas, pelo menos parcialmente, antes da nossa existência.

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Durante a infância, temos contato com uma série de mandatos. Alguns deles são explícitos. Te dizem como você “deve” ser. Te presenteiam quando você se ajusta ao padrão e te castigam quando você não faz isso. Assim, você aprende os padrões de comportamento, que com a força dos reforços e da repetição, acabam se transformando em hábitos. Para isso, além de um bom repertório de mandatos diretos, também existe todo um conjunto de mandatos mascarados que são muito mais difíceis de precisar.

Vamos imaginar uma mãe acariciando seu filho enquanto está submersa em uma profunda tristeza. Você a vê e, sem que ela te diga nada, você se sente em dívida. Talvez ela espere que você seja um consolo. Que você a libere de sua frustração, sua solidão ou sua dor. Talvez até fale com você sobre isso. E assim, sem notar, você pode assumir sua expectativa como um mandato inconsciente.

Seguindo este exemplo, é provável que quem tenha uma mãe assim também tenha dificuldades para definir e realizar seus próprios desejos. Pode assumir que buscar a independência é agredir a mãe. Ou pode acreditar que ser feliz é uma forma de traí-la. Mas como tudo isso é inconsciente, a situação não será vista de forma tão nítida; será refletida em autossabotagens, em atrasos ou em falta de metas.

Ganhar a batalha entre os desejos e as limitações

Se você sente que não consegue definir quais são os seus desejos, é muito provável que dentro de si esteja operando um mandato inconsciente. O mesmo vale para os casos em que aparentemente temos o desejo bem definido, por mais esforços que fizermos, não conseguimos satisfazê-lo.

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As chaves para entender o que está acontecendo podem estar na sua infância. Nos desejos de quem estava ao seu redor. Você pode até mesmo conseguir identificar essas expectativas que foram forjadas para você. E pode, conscientemente, rejeitá-las e tentar se afastar delas.

Para ganhar a batalha entre os desejos conscientes e as limitações inconscientes primeiro você tem que identificar quais são essas forças disfarçadas ou escondidas que operam na sua vida. Para isso, é essencial fazer um exercício de introspecção, de forma que a ajuda terapêutica se transforme em uma valiosa aliada nestes casos. Normalmente ela permite localizar as limitações, torná-las conscientes e acabar com elas.

Imagens cortesia de Ammy Judd e F. Infante


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