A terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness
A depressão é a escuridão da alma, a falta de vontade, a desesperança e a tristeza. São muitos os adjetivos utilizados para defini-la, mas se sabemos alguma coisa em relação a ela, é que seus efeitos são devastadores. Hoje queremos falar especificamente sobre a terapia cognitiva para a depressão, usando o mindfulness como base.
A depressão clínica ou “depressão maior” constitui uma condição na qual ocorre um estado de ânimo depressivo persistente ou uma perda de interesse. Junto com esses sintomas também aparecem dificuldades para dormir, diminuição do apetite, redução da concentração, etc.
Em relação à quantidade de pessoas que sofrem de depressão, as estatísticas são preocupantes. É um dos transtornos mentais mais predominantes. 17% da população afirmou ter sofrido de depressão nos últimos seis meses. A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que no ano de 2020 a depressão será a segunda doença mais difundida no mundo todo. Seu tratamento está se transformando no principal desafio no campo da saúde mental.
O tratamento da depressão
No final dos anos 1980 existiam várias maneiras de combater a depressão. Os medicamentos antidepressivos se transformaram no tratamento de primeira linha para a depressão clínica. Os tratamentos psicológicos também começavam a ter sucesso. A terapia comportamental enfatizava a necessidade de aumentar a participação das pessoas deprimidas em atividades estimulantes ou prazerosas.
A terapia cognitiva tinha o objetivo de mudar a maneira como os pensamentos contribuíam para o aparecimento e a manutenção dos sintomas depressivos. Por fim, a terapia interpessoal afirmava que aprender a resolver disputas interpessoais e trocar de papéis ajudaria no combate à depressão.
Com todos os tratamentos disponíveis, certamente o problema da depressão deveria ter sido resolvido. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu.
O problema das recaídas
Infelizmente, embora as terapias para a depressão tenham se mostrado eficazes, as pesquisas evidenciaram outro problema. Esse problema era a reincidência de novos episódios de depressão em pessoas que já havia passado por essa situação. Nesse sentido, alguns consideram que a depressão é uma doença crônica para a vida toda. O risco de episódios reincidentes supera os 80%. Os pacientes vão passar por uma média de quatro episódios depressivos com mais de 20 semanas de duração.
A recaída e a reincidência posteriores a um tratamento bem-sucedido de depressão são resultados comuns e debilitantes. Esse é o verdadeiro problema que enfrentamos. Para enfrentar as recaídas, insistiu-se no uso da terapia cognitiva. Graças a esse método, as recaídas se tornaram menores, embora continuassem existindo. Assim, era preciso introduzir um novo elemento para solucionar esse problema.
A terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness
Considerou-se incluir a consciência plena como um possível componente do tratamento psicológico da depressão. Mas o que significa “consciência plena”?
A consciência plena implica prestar atenção de um modo particular: com um objetivo, no momento presente e sem julgar (Jon Kabat-Zinn). É notável como pode ser libertadora a ação de perceber nossos pensamentos como simples pensamentos e entender que eles não nos definem.
O simples ato de reconhecer nossos pensamentos como pensamentos pode nos libertar da distorcida realidade que eles costumam criar. Permite ter uma maior clareza, assim como um maior senso de controle sobre nossas vidas.
O segredo é se libertar dos pensamentos negativos de caráter repetitivo
A terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness postula como habilidade essencial reconhecer e se livrar dos estados mentais caracterizados por padrões que perpetuam pensamentos negativos e de natureza ruminante.
Se não prestarmos atenção nesses padrões, é provável que ocorra uma espiral descendente do estado de ânimo e o início da recaída. A ferramenta básica para efetuar a mudança dos modos mentais é o emprego intencional da atenção e da consciência de formas particulares.
Ao escolher do que vamos cuidar e como vamos nos focar, colocamos em nossas mãos o câmbio que facilita a troca de “marchas mentais”. Quando podemos colocar em prática essa nova habilidade? Em princípio, esse modo mental pode ser exercitado em todas as situações.
A consciência plena como habilidade fundamental
A consciência plena é a habilidade fundamental que a terapia cognitiva ensina para combater a depressão baseando-se no mindfulness. Isso implica prestar atenção de um modo particular, com um propósito, no momento atual e sem efetuar juízos de valor.
Tomar consciência dos padrões de pensamento, das emoções e das sensações corporais constitui um primeiro passo essencial. A consciência plena proporciona tanto os meios para trocar as “marchas mentais” quanto uma marcha mental alternativa para a qual mudar.
A estrutura da terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness
A terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness tem duração de 8 sessões. Nesse tipo de terapia predomina o processo de aprender a prestar atenção, com um propósito, em cada momento e sem estabelecer juízos de valor. Assim, aprender a prestar atenção constitui a abordagem das primeiras sessões da terapia.
Os pacientes se tornam conscientes da escassa atenção que, em geral, prestam nas próprias vidas no dia a dia. Eles aprendem a se tornar conscientes da rapidez com que a mente muda de um tópico para o outro. Após perceber que a mente está divagando, aprendem a trazê-la de volta e se centrar em um único elemento. Esse processo é ensinado, primeiro, com base nas partes do corpo e, depois, com base na respiração.
Por fim, os pacientes aprendem a ser conscientes do modo como a divagação da mente pode permitir a presença de pensamentos e emoções negativas. Abordar mudanças de humor no momento em que ocorrem ou enfrentá-las mais tarde implica uma segunda fase da terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness.
Como vimos, a terapia cognitiva para a depressão baseada no mindfulness é um tipo de terapia eficaz para o tratamento dos estados depressivos. Graças a ela, os pacientes aprendem a identificar, dar espaço, aceitar seus pensamentos negativos e, por fim, deixá-los ir.
Referências bibliográficas
- Segal, Z.V., Williams, J.M. y Teasdale, J.D. (2006). Terapia cognitiva de la depresión basada en la consciencia plena. Un nuevo abordaje para la prevención de recaídas. Bilbao: Desclée de Brouwer.
- García Campayo J, Demarzo M. Barcelona (2015). Manual práctico de mindfulness: Curiosidad y Aceptación. Siglantana, 2015.