Terapia cognitivo-comportamental aprimorada (TCC-A): para quem é?

Você conhece alguém que sofre de transtorno alimentar? Esta condição tem aumentado significativamente nos últimos anos. No entanto, existem abordagens terapêuticas altamente eficazes, como a TCC-A.
Terapia cognitivo-comportamental aprimorada (TCC-A): para quem é?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 12 novembro, 2023

Começaremos este artigo com uma pergunta: qual você acha que é o transtorno psicológico que mais causa mortes por ano? As primeiras respostas que vêm à mente podem ser depressão ou esquizofrenia. No entanto, dados estatísticos nos dizem que o transtorno do comportamento alimentar (TA) é a condição mental com maior mortalidade.

A questão é grave, ainda mais, considerando que em decorrência da pandemia o número de internações por esse problema aumentou em 20%. Da mesma forma, os casos já diagnosticados se intensificaram notavelmente. Por outro lado, —e como se não bastasse— os números aumentam cada vez mais entre os pré-adolescentes e, segundo a OMS, esta é uma das áreas mais mal atendidas em saúde mental.

Estamos perante uma emergência sanitária em que, sem dúvida, necessitamos de mais meios e de mais profissionais para lidar com esta realidade. Porque existem estratégias e meios altamente eficazes para cuidar de quem lida com anorexia nervosa, bulimia, transtorno da compulsão alimentar periódica, etc. De fato, a terapia cognitivo-comportamental aprimorada (TCC-A) é uma das abordagens mais eficazes nesses casos.

Nossa sociedade inocula nos jovens a ideia de que seus corpos estão errados. Essa rejeição da própria imagem os leva a comportamentos autolesivos e a uma má relação com a comida.

Mulher que precisa de terapia cognitivo-comportamental aprimorada
Estamos começando a ver distúrbios alimentares em crianças entre 8 e 9 anos

Terapia cognitivo-comportamental aprimorada: qual é o seu objetivo?

Uma criança não vem ao mundo odiando seu esquema corporal; há toda uma arquitetura social que orquestra essa progressiva rejeição de sua imagem. Nesta sociedade que diferencia entre “corpos normativos e não normativos”, é muito fácil cair na armadilha. Na que nos diz que a magreza é bonita, que com alguns quilos a menos se alcança a felicidade, o sucesso e milhares de curtidas.

Essa narrativa perniciosa instalada nas redes sociais, cinema e publicidade faz com que nossos jovens vejam sua autoestima abalada. Assim, nessa tentativa de alcançar o corpo ideal, descartando o real, iniciam toda uma jornada de comportamentos nocivos. Estes podem variar desde medir as calorias que ingerem, consumir laxantes, vômitos autoinduzidos, automutilação, compulsão alimentar, desenvolvimento de personalidades altamente perfeccionista, etc. A autodestruição alcançada é imensa.

A terapia cognitivo comportamental aprimorada é um tratamento individualizado para pessoas com transtornos alimentares (TA). Esta abordagem é, neste momento, o recurso mais eficaz e mais bem estruturado para cuidar de qualquer paciente.

Assim, em um trabalho de pesquisa realizado entre várias universidades, indica-se que são obtidos melhores resultados com a TCC-A do que com a terapia cognitivo-comportamental mais clássica.

História e objetivos propostos

A terapia cognitiva comportamental aprimorada (TCC-A) é um tratamento psicológico “transdiagnóstico”, ou seja, funciona para todos os tipos de transtornos do comportamento alimentar. Foi o Dr. Christopher Fairburn quem, em 2008, publicou um guia completo para a prática desta terapia.

Inicialmente, foi desenvolvida uma estratégia exclusivamente para adultos que estavam internados. Dado que os resultados foram altamente positivos, foi dado mais um passo. Também foi desenvolvido um guia para pacientes ambulatoriais (não internados) e para a população infanto-juvenil.

O objetivo deste tratamento é abordar os sintomas centrais do transtorno alimentar, como pensamentos distorcidos sobre esquema corporal, peso ou perfeccionismo. Aos poucos, a pessoa é orientada para comportamentos mais saudáveis

A terapia cognitivo-comportamental aprimorada não é um tratamento “tamanho único”. Ou seja, o terapeuta projeta uma abordagem única para cada pessoa, com base no problema alimentar e nos demais problemas psicológicos que possam ser evidentes.

Como o tratamento funciona?

O tratamento é altamente individualizado. Em todos os casos, inicia-se com uma entrevista e avaliação inicial para identificar o quadro clínico do paciente. Em seguida, inicia-se a terapia, que consiste, em média, de vinte sessões de tratamento de 50 minutos ao longo de 20 semanas.

No caso da pessoa apresentar uma situação mais extrema (peso corporal muito baixo) o tratamento será mais longo, podendo chegar a 40 semanas.

Por outro lado, há um fato interessante que deve ser observado. Esta terapia não é imposta. Um dos propósitos é fazer com que a pessoa decida por si mesma a seguir o tratamento não apenas para recuperar o peso, mas também para ganhar o controle de sua própria vida.

O objetivo do tratamento é a recuperação, abordando todos os aspectos que reforçam e moldam o transtorno alimentar. Em outras palavras, busca garantir que a pessoa recupere um índice de massa corporal (IMC) normal e que suas emoções, pensamentos e comportamentos sejam mais saudáveis.

Terapia de conversa focada em objetivos

O objetivo do profissional nesse tipo de terapia é fazer com que o paciente entenda como seus pensamentos condicionam o modo como se sente e, portanto, seu comportamento. O jovem deve perceber como seu foco mental reforça ideias, crenças e esquemas totalmente distorcidos que o levam a comportamentos desordenados e prejudiciais.

Estamos diante de uma relação psicoterapêutica baseada na conversa e focada em conquistas progressivas. Portanto, o psicólogo estabelece quais objetivos seu paciente deve atingir a cada semana.

Isso implica que a pessoa que lida com bulimia, anorexia ou transtorno da compulsão alimentar periódica deve manter seu diário para registrar sua alimentação, seus pensamentos e emoções sentidas ao longo desse tempo entre as sessões.

Um modelo baseado em quatro estágios

A terapia cognitivo-comportamental aprimorada se destaca por sua estrutura e pelos objetivos a serem alcançados em cada etapa. São quatro etapas, sendo as duas primeiras focadas no momento presente e as duas últimas no futuro. Isso tem uma explicação. Nas fases anteriores, o trabalho se concentra intensamente naqueles processos que reforçam o transtorno alimentar.

O objetivo nesses dois primeiros estágios é melhorar os pensamentos e o humor do dia a dia; como a própria comida. Assim, nas etapas três e quatro, a estratégia terapêutica centra-se no futuro e na manutenção desse estilo de vida saudável e, sobretudo, em como lidar com os contratempos que possam surgir. Evitar recaídas é outro objetivo central dessa terapia.

Terapia cognitivo-comportamental aprimorada
O objetivo da TCC-A é que os próprios pacientes decidam recuperar o peso em vez de ter essa decisão imposta a eles.

Conclusão

A terapia cognitivo-comportamental aprimorada é o tratamento de primeira linha para transtornos alimentares. Como apontamos, as taxas de sucesso são altas, mas sempre há casos específicos que são mais resistentes. Nessas situações, os programas de tratamento em residências especializadas são quase sempre escolhidos.

Seja como for, há um aspecto essencial e é a necessidade de disponibilizar mais meios e recursos para que estes tratamentos cheguem a quem deles necessita. Tampouco podemos ignorar a importância de educar nossos jovens na autoestima, na aceitação do próprio esquema corporal e naquele pensamento crítico que não se deixa levar pela tirania da beleza que nossa sociedade vende.


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