A terapia de remediação cognitiva para a obesidade
Atualmente, apesar de ser o momento histórico em que mais estamos prestando atenção ao nosso corpo e à nossa alimentação, os índices de sobrepeso e obesidade continuam a crescer no mundo todo. Os programas de dieta e exercício fracassam a longo prazo, mas parece que a terapia de remediação cognitiva pode ser a chave para a solução.
A idoneidade dessa terapia como elemento fundamental no controle da obesidade se deve à sua capacidade de melhorar as funções executivas. A pesquisa atual mostra que quem sofre de obesidade tem dificuldade para tomar boas decisões em prol da sua saúde por causa de alterações em tais funções.
Funções executivas e obesidade
A origem do perfil disexecutivo encontrado em pessoas com obesidade é desconhecida. No entanto, a existência de uma relação bidirecional entre a alteração das funções executivas e a obesidade é inquestionável:
- As anormalidades do metabolismo da glicose e da inflamação celular próprias de quem sofre de obesidade impactam negativamente as funções executivas.
- Ao mesmo tempo, os elevados níveis de estresse encontrados em pessoas com obesidade também estão relacionados com a alteração dessas funções.
- Por sua vez, a alteração das funções executivas gera mais obesidade por dificultar uma tomada de decisões ideal em relação à qualidade e à quantidade dos alimentos que são consumidos, assim como a periodicidade com que isso é feito.
Esses pontos exigem uma abordagem integral que vá além dos métodos convencionais baseados em dieta e exercício físico. É nesse aspecto que a terapia de remediação cognitiva tem muito com o que contribuir.
Terapia de remediação cognitiva
A terapia de remediação cognitiva constitui uma intervenção psicológica baseada na realização de uma série de exercícios mentais. O objetivo é melhorar as estratégias cognitivas e as habilidades de pensamento e processamento de informações por meio da prática.
Trata-se de uma terapia que estimula a reflexão sobre o próprio pensamento para dar lugar a comportamentos mais saudáveis. Seu principal objetivo é reforçar, mais especificamente, aquelas capacidades cognitivas que estão alteradas.
No caso da obesidade, a remediação cognitiva deveria ser orientada em direção à melhoria das funções executivas.
Terapia de remediação cognitiva para a obesidade
A terapia de remediação cognitiva para a obesidade (CRT-O) é um tratamento cara a cara que tem como objetivo otimizar o funcionamento executivo para, assim, melhorar o estilo de pensamento relacionado com a alimentação e o exercício físico. A meta é um estilo de vida saudável.
A CRT-O foi projetada para fornecer aos indivíduos com obesidade as ferramentas para pensar de maneira diferente. Consiste em uma série de exercícios mentais destinados a melhorar as estratégias cognitivas por meio da prática de habilidades e processos de informação.
A pesquisa evidencia que os programas de “perda de peso” que incluem CRT-O apresentam melhores resultados: melhor estilo de vida, maior perda de peso, redução dos episódios de ingestão excessiva de alimentos, aumento da qualidade de vida e redução de fatores inflamatórios.
Diferentes estudos sugerem que, embora os resultados tenham sido tão bons, a CRT-O poderia melhorar a perda de peso mesmo quando não é acompanhada de estratégias de alimentação e exercício físico. A seguir, vamos mostrar algumas atividades para treinar suas funções executivas.
As pessoas com obesidade têm alterações nos processos cognitivos relacionadas com controle inibitório, memória de trabalho, flexibilidade de pensamento e coerência central.
Atividades para conseguir um maior controle inibitório
O controle inibitório se refere à capacidade de uma pessoa para inibir respostas automáticas e gerar outras mediadas pela atenção e pelo raciocínio.
Conquistar um maior controle inibitório implica evitar o comportamento em questão e refletir sobre o pensamento que nos aproxima dele. Trata-se de tomar consciência dos próprios pensamentos e analisá-los antes de desenvolver a ação à qual nos tornamos predispostos.
Nesse caso, o melhor a fazer é dar um exemplo. Se acabarmos de jantar e surgir uma vontade irresistível de comer doces, antes de ceder, deveríamos refletir sobre o conteúdo e o significado do nosso próprio pensamento:
- Por que preciso comer doce?
- É fome?
- Será que eu não comi carboidratos suficientes?
- Estou tentando regular alguma emoção com isso? Qual? Ela tem alguma função? Preciso eliminá-la?
- Vou me sentir melhor depois de ter comido o doce?
- Quais serão as consequências do meu comportamento?
- Posso fazer alguma outra coisa para me sentir melhor?
Treinar o controle inibitório significa introduzir uma etapa de reflexão entre o aparecimento do pensamento e o desenvolvimento da ação.
Intervenções para melhorar a memória de trabalho
A memória operacional se refere à capacidade de se lembrar daquilo que é necessário para realizar uma ação determinada.
A compreensão e a experimentação são possivelmente as melhores ferramentas para favorecer a lembrança. Assim, é fundamental que nossos pacientes entendam o porquê de cada uma das nossas intervenções, participem do desenvolvimento de estratégias e testem e adaptem as mudanças ao contexto de suas próprias vidas.
Atividades para treinar a flexibilidade cognitiva
A flexibilidade cognitiva se refere à habilidade que um indivíduo tem para modular seu pensamento e sua ação frente a uma situação nova, mutável ou inesperada.
Para treinar a flexibilidade cognitiva, vamos precisar enfrentar uma mesma circunstância com diferentes recursos. A ideia é obrigar nosso cérebro a desenvolver estratégias alternativas para alcançar uma mesma meta.
Alguns exemplos são: ir ao trabalho usando caminhos diferentes, mudar a ordem da rotina matinal, apresentar um projeto profissional a algum conhecido utilizando nossas próprias palavras, conhecer pessoas novas ou tentar respeitar nosso padrão de alimentação habitual nos diferentes ambientes (no trabalho, em um restaurante, em casa…).
Um exemplo relacionado com a alimentação poderia ser trabalhar em um cenário de alimentação aberta. Nesse caso, o indivíduo deveria construir uma combinação de alimentos determinada (por exemplo, frutas e laticínios) sem que os alimentos disponíveis sejam limitados.
Treinamento da coerência central
A coerência central pode ser definida como a capacidade de proporcionar uma visão global e realista de uma situação determinada. Na consulta, revela-se positivo raciocinar sobre as situações conflituosas em voz alta, levando em consideração o contexto e o conjunto de ideias relacionadas.
Do mesmo modo, solicitar um breve resumo, às vezes verbal e em outras escrito, depois de uma leitura complexa e cheia de detalhes, pode contribuir para melhorar a capacidade de desenvolver e compreender uma ideia geral sem se aprofundar nos detalhes.
Em resumo, a terapia de remediação cognitiva constitui uma ferramenta imprescindível para melhorar o perfil disexecutivo próprio das pessoas com obesidade e, por fim, para conquistar uma gestão ideal da obesidade em longo prazo.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
Hilbert, A., Blume, M., Petroff, D., Neuhaus, P., Smith, E., Hay, P.J. & Hüber, C. (2018). Group cognitive remediation therapy for adults with obesity prior to behavioural weight loss treatment: study protocol for a randomised controlled superiority study (CRT study). BMJ open, 8(9). Consultado el 31/10/2019. Recuperado de: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30224391
Raman, J., Hay, P., Tchanturia, K. & Smit, E. (2018). A randomised controlled trial of manualized cognitive remediation therapy in adult obesity. Appetite, 123: 269-279. Consultado el 31/10/2019. Recuperado de: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29278718
Segura, M., Roncero, M., Oltra Cucarella, J., Blasco, L., Ciscar, S., Portillo, M., Malea, A., Espert, R. & Perpiñà, C. (2017). Entrenamiento en remediación cognitiva y habilidades emocionales en formato grupal para pacientes con obesidad: un estudio piloto. Revista de Psicopatología y Psicología clínica, 22(2): 127-138. Consultado el 31/10/2019. Recuperado de: http://revistas.uned.es/index.php/RPPC/article/view/19115
Smith, E. & Whittingham, C. (2017). Cognitive remediation therapy plus behavioural weight loss compared to behavioural weight loss alone for obesity: study protocol for a randomised controlled trial. Trials, 18(42). Consultado el 31/10/2019. Recuperado de: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5270361/