Terapia metacognitiva para lidar com o mal-estar emocional
Assim como existem muitos conceitos em psicologia que são de uso comum e que, em maior ou menor medida, todos nós conhecemos, também existem outros que são totalmente desconhecidos para nós. De fato, quando vamos à terapia com um bom psicólogo que trabalha de forma adequada, é normal que ele fale de termos que nunca havíamos ouvido antes. Isso pode acontecer com a terapia metacognitiva.
Assim como o terapeuta nos dá um plano de tratamento e explica a intervenção que ele planeja, vamos explicar em que consiste este tipo de tratamento e como ele pode nos ajudar a lidar com o nosso mal-estar.
“Nada na vida é tão importante quanto a forma como pensamos quando pensamos nela”.
-Daniel Kahneman-
O que é a metacognição?
Continuemos com o exemplo de ir à terapia. Quando procuramos um psicólogo de porte cognitivo-comportamental, que trabalhe utilizando técnicas comprovadas cientificamente, o método costuma seguir uma ordem: primeiro uma avaliação e, então, uma devolução dos resultados com um plano de intervenção personalizado.
Quando o terapeuta nos explica o que está acontecendo conosco, ele fala de como funcionam as nossas emoções e por que nos sentimos assim.
Aqui é muito importante ter em conta que uma boa parte do mal-estar que algumas situações geram nasce da nossa forma de interpretá-las. Explico melhor: diante de uma mesma situação, nós podemos nos sentir de diversas formas de acordo com os pensamentos que nutrimos. De fato, muitas vezes nos sentimos mal porque nossos pensamentos não se ajustam à realidade.
“Uma vez que acreditamos em algo, essa crença costuma nos acompanhar pelo resto das nossas vidas, a não ser que a coloquemos à prova”.
-Dr. Richard Gillet-
Por esta razão, a terapia cognitiva se concentra em aprender a identificar, questionar e mudar estes pensamentos automáticos e as crenças irracionais associadas. Conseguindo isso, torna-se possível diminuir a intensidade das emoções negativas. Cada vez é mais comum que, além de ter em conta estas cognições, seja preciso trabalhar também os aspectos metacognitivos.
Neste sentido, a metacognição seria o conjunto de fatores de interpretação, monitoramento e controle da cognição. Em outras palavras: refere-se aos nossos pensamentos sobre como e o que pensamos. Ou seja, a metacognição é tudo aquilo que faz parte das nossas tentativas de lidar com e dar significado aos nossos pensamentos, crenças e demais processos cognitivos.
O que é a terapia metacognitiva?
Bom, o mal-estar emocional pode ser gerado e acompanhado por crenças metacognitivas negativas. Estas podem ser do tipo “ter pensamentos ruins significa que eu sou ruim”, “me preocupar vai me ajudar a estar preparado”, “se eu analisar isso, conseguirei respostas”, “se eu entender o porquê desta situação, me sentirei melhor ou poderei encontrar soluções”, “não tenho controle sobre os meus pensamentos”, “se eu pensar algo ruim, farei coisas ruins”.
“Se há solução, por que se preocupar? Se não há solução, por que se preocupar?”
-Ramiro A. Calle-
Estes tipos de crenças metacognitivas fazem com que se mantenham processos cognitivos que geram, mantêm e tornam crônico o mal-estar emocional, como a ruminação, as preocupações, a ato de focar a atenção em estímulos negativos (viés de atenção negativa), se concentrar em causas em vez de soluções, etc. Além disso, costuma-se colocar em prática estratégias de controle e supressão não efetivas que intensificam as emoções negativas.
Portanto, a terapia metacognitiva se concentra em remover modelos de processamento disfuncionais. Ou seja, em mudar a forma inflexível de pensar da pessoa, que faz com que ela fique “presa” em um prolongado e negativo processamento de si mesma. Definitivamente, procura mudar a forma como respondemos aos nossos pensamentos.
Isso nos permite trabalhar com mais profundidade do que com a terapia cognitiva tradicional, já que não só mudamos o conteúdo dos nossos pensamentos, mas também a forma de pensar em nós mesmos. De fato, os estudos a respeito disso refletem que a terapia metacognitiva é eficaz para o tratamento da ansiedade generalizada, do transtorno de estresse pós-traumático e do transtorno depressivo maior.