Terapia perinatal: em que consiste e como colocá-la em prática?
Nos últimos anos, a saúde mental perinatal viu como as unidades psiquiátricas maternas e neonatais foram fortalecidas; um reforço motivado pela elevada incidência dos quadros que são atendidos neste tipo de unidade.
O período pós-natal precoce também é um momento de risco para o aparecimento de doenças mentais. Um estudo descobriu que as mulheres são mais propensas a ter uma hospitalização psiquiátrica um mês após o parto do que antes da gravidez.
A admissão pós-natal de mulheres é alta tanto naquelas com e sem transtorno psiquiátrico. No entanto, essa incidência é maior naquelas com transtorno de humor (Munk-Olsen, et al., 2016).
Problemas mentais durante e após a gravidez expuseram a necessidade de desenvolver intervenções perinatais, tanto para os pais quanto para os bebês. Nesse contexto, a psicologia perinatal tem desempenhado um papel importante.
Este novo ramo da psicologia dedica-se a investigar e intervir (terapia perinatal) nos aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais associados à gravidez, parto e criação do bebé nos primeiros meses.
A terapia perinatal
Enquadrada na chamada psicologia perinatal, é responsável por atender as necessidades e problemas psicológicos dos pais desde a concepção até o parto. Também realiza intervenções após o nascimento do bebê.
As intervenções perinatais estão focadas tanto na dimensão emocional e cognitiva quanto na comportamental. Além disso, têm a função de garantir o bem-estar dos pais e auxiliá-los em qualquer eventualidade que possa afetar sua saúde mental.
Embora a terapia perinatal seja destinada a ambos os pais, em geral, a mãe é o eixo central das intervenções, pois é a que mais sofre com o processo gravídico, devido às alterações mentais, físicas e hormonais pelas quais passa.
De acordo com a Associação Espanhola de Psicoterapia Perinatal, algumas questões específicas nas quais a terapia perinatal se concentra são:
- Problemas de fertilidade.
- Depressão e ansiedade durante a gravidez.
- Medo do parto.
- Gravidez traumática.
- Perda do bebê.
- Problemas de amamentação.
- Adaptação à maternidade/paternidade.
- Depressão pós-parto.
- Criação do vínculo com o bebê ou estabelecer um apego seguro.
Principais áreas de intervenção da terapia perinatal
A seguir, iremos mostrar algumas áreas de intervenção desta terapia.
1. Apoio antes da concepção
A terapia perinatal pode intervir antes da gravidez, ou seja , quando você quer ter um filho. As emoções associadas ao desejo de ter um bebê podem levar a alguns problemas, especialmente se houver problemas de fertilidade.
2. Aborto
As consequências emocionais de um aborto podem afetar o funcionamento diário do casal, principalmente da mãe. O impacto afetivo costuma ser muito forte quando se tem o desejo de ter um filho. O luto pela morte de um bebê pode exigir terapia.
3. Acompanhamento psicológico durante a gravidez
A gravidez provoca alterações hormonais que têm um efeito considerável na vida da mulher, o que se reflete em alterações na forma de sentir e regular as emoções. Por isso, os psicólogos responsáveis pela terapia dão suporte no processamento dessas mudanças e na promoção do equilíbrio emocional.
3. Preparação para o parto
O medo de dar à luz ou a ansiedade de não saber o que fazer exatamente são alguns dos aspectos observados na consulta de um terapeuta perinatal. Esta fase é um período chave que tem consequências profundas para muitas mulheres.
4. Apoio pós-parto
As mulheres podem ter um parto traumático, portanto, o apoio psicológico é necessário para evitar que essa experiência desencadeie a depressão pós-parto. Também é essencial fortalecer o vínculo entre mãe e bebê.
5. Apoio familiar
O parto, na maioria dos casos, também é uma experiência familiar. Portanto, é função da terapia perinatal preparar as pessoas que convivem com alguém que vai ter um bebê ou que participará de seus cuidados.
Como realizar a terapia perinatal
A terapia perinatal pode ser aplicada a partir de diferentes abordagens terapêuticas. Pode ser feito a partir da terapia cognitivo-comportamental para ajudar os pais a repensarem seus padrões de pensamento e a forma como vivenciam e se comportam diante da gravidez.
A terapia breve focada na solução, na qual o terapeuta ajuda o paciente a encontrar soluções para uma situação adversa, também pode ser utilizada. A ideia é usar o pensamento racional para resolver o problema. Para aplicar essa terapia breve, é necessário definir objetivos terapêuticos, estudar tentativas anteriores de soluções e buscar informações sobre momentos em que o problema deveria ter aparecido, mas não apareceu. Também é necessário estimular o paciente a buscar e aplicar soluções alternativas.
Independentemente da abordagem utilizada para administrar a terapia perinatal, o importante é elaborar um plano de tratamento personalizado centrado na experiência e nas necessidades dos pais. Para concluir, a terapia perinatal oferece um amplo leque de ações que permite que mães e pais vivenciem a gravidez de forma saudável, de modo que a experiência de trazer ao mundo outro ser humano seja inesquecível.
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