Tipos de cocaína e seus efeitos
Existem diferentes tipos de cocaína, um estimulante poderoso, extremamente viciante, que quase sempre é usado como droga recreativa. Tem origem na folha de coca e começou a se tornar muito popular durante a década de oitenta. Na sua forma natural de planta é consumida há milhares de milhares de anos pelos povos originários da América.
Sua forma química pura é o cloridrato de cocaína, uma substância elaborada em laboratório há mais de 100 anos. No início do século XX, este composto era o princípio ativo de vários elixires e tônicos utilizados para fins medicinais. Atualmente ainda é usado como anestésico para cirurgias de garganta, ouvidos e olhos.
“A coca é a resposta exaustiva às necessidades mais urgentes da era atual: a falta de limites”.
-Roberto Saviano-
A cocaína também foi usada como componente de vários refrigerantes. O mais conhecido deles é “Coca-Cola”. A fórmula original da bebida emblemática dessa marca continha até 8 miligramas de cocaína por litro. No entanto, esta droga começou a se tornar impopular devido aos seus graves efeitos e a Coca-Cola a retirou de sua receita em 1903. Em 1914 a cocaína se tornou uma droga ilegal.
Atualmente é difícil encontrar a cocaína em sua forma quimicamente pura. Ela é misturada com alguns amidos, talcos, açúcar ou outros elementos. Na venda de rua, a substância recebe diferentes nomes como “neve”, “dama branca”, “talco” ou simplesmente “coca”. Em inglês, recebe nomes como “blow”, “flake”, “coke” ou “snow”.
O cloridrato de cocaína
Como já indicamos, sua forma química pura é o cloridrato de cocaína. Os níveis de pureza variam dependendo da manipulação que se faça dela. A cocaína de mais alta qualidade alcança 98% de pureza e é conhecida como “Yen” no mercado negro. É a mais cara e tem uma aparência mais branca e brilhante do que as outras.
O cloridrato vem sob a forma de pó. Estima-se que a cocaína em pó vendida nas ruas normalmente tenha entre 5% e 40% de pureza. Às vezes é misturada com substâncias muito perigosas, como anfetaminas ou certos anestésicos. A cocaína em pó geralmente é aspirada. No entanto, também é comum injetar.
Existem diferentes tipos de cocaína branca de pureza média ou baixa. A mais popular é uma conhecida como “giz”. É chamada assim porque tem uma cor branca acinzentada e pouco brilho. Esta variedade é altamente eufórica. Há também outra categoria chamada “cocaína amarelada”. O mais característico dessas é o forte cheiro de gasolina ou querosene. São as mais poderosas de todas.
Outros tipos de cocaína
A cocaína também é encontrada na forma “base”. É a que se conhece popularmente como “crack“. Seu consumo começou a se espalhar quando as autoridades ativaram fortes restrições sobre os produtos químicos necessários para obter cloridrato de cocaína. Isso fez com que o preço da cocaína subisse para níveis inacessíveis para muitos consumidores, situação que provocou a comercialização da base, que é até 15 vezes mais barata.
O crack é uma mistura de cloridrato de cocaína e outros produtos químicos, como amônia, éter e bicarbonato de sódio. Normalmente se fuma em tubos e seus efeitos são muito mais severos do que os do cloridrato de cocaína. Também é potencialmente mais viciante e aumenta o risco de morte. É chamada de “crack” por causa do som que faz ao ser triturada.
Outro dos tipos de cocaína é o chamado “bazuca” ou pasta de coca, que também é chamada de “sulfato de cocaína”. Isso se deve ao fato de que até 50% dessa substância é um sulfato. Durante a sua preparação são utilizados componentes altamente tóxicos, tais como o metanol ou o ácido sulfúrico. Geralmente é combinada com maconha ou tabaco e fumada.
Tanto o crack quanto a bazuca produzem um efeito tipo “flash”. Isso quer dizer que é rápido e muito potente. Por este motivo, os viciados têm a necessidade de consumir várias doses sucessivas, para prolongar o efeito. Ambas têm um alto risco de causar overdose.
Os efeitos da cocaína a curto prazo
Os efeitos da cocaína aparecem quase imediatamente após consumi-la. Às vezes duram alguns minutos e em outras chegam a uma hora. A substância provoca sensação de euforia e grande vitalidade. O consumidor se sente mentalmente alerta e aguça suas percepções sensoriais, especialmente na vista, audição e tato.
É comum que a cocaína reduza a necessidade de comer e dormir. Alguns consumidores dizem que a droga ajuda a realizar suas tarefas em uma velocidade muito maior. Outros, por outro lado, percebem que os desacelera.
A duração e a intensidade do efeito dependem dos tipos de cocaína consumidos e do método utilizado para ingeri-la. Quanto mais rápida for a absorção, maior será a intensidade do efeito, mas também mais curta. Às vezes aparecem sensações de inquietação, angústia e irritabilidade. Também são comuns os espasmos, paranoias e tonturas.
Do ponto de vista orgânico, a cocaína altera a frequência cardíaca e pode causar dores de cabeça, dor abdominal e vômitos. Se houver uma overdose, o consumidor pode ter convulsões, acidentes vasculares cerebrais ou entrar em estado de coma. Não é comum que ocorra a morte súbita, mas podem acontecer paradas cardíacas que levam à morte.
Efeitos a longo prazo
O principal efeito da cocaína a longo prazo é um severo vício. Como o potencial aditivo é extremamente alto, não é possível que uma pessoa possa prever até que ponto irá precisar da droga após a primeira vez que a consumir. Existe também um alto risco de recaída quando se deixa de ingeri-la. Isso acontece inclusive vários anos depois de abandonar a droga.
O cérebro se adapta ao consumo de cocaína. Isso significa que a sensação de gratificação é cada vez menor. Portanto, o viciado deve tomar doses mais altas ou mais frequentes para obter a mesma sensação agradável das primeiras vezes. Ao longo do tempo, os efeitos incômodos da droga começam a aumentar, como a sensação de angústia, paranoia ou as explosões de raiva.
Nos casos mais graves, perde-se o sentido da realidade por longos períodos. Aparecem alucinações, principalmente auditivas, e é possível entrar em um estado de psicose paranoica.
A cocaína fratura e destrói a personalidade e faz com que a vida do consumidor gire em torno dela.
As imagens de ressonância magnética mostram que, no cérebro de um viciado em cocaína, há uma diminuição dos receptores da dopamina. A consequência disso é que a pessoa se torna incapaz de experimentar sensações gratificantes de forma natural.
O futuro de um viciado
É muito difícil prever qual será o destino de uma pessoa viciada em cocaína, já que isso depende de muitos fatores, inclusive da sorte. Enquanto o consumo for mantido, o risco de morte aumenta progressivamente. O mesmo acontece com os danos na personalidade e nos relacionamentos com os outros.
A dependência a este tipo de substância geralmente leva a crimes ou ações ilegais para obter a droga.
Atualmente estão sendo realizados experimentos com vários tratamentos farmacológicos, mas nenhum deles passou por todos os testes.
Os grupos de apoio e autoajuda são sempre uma excelente alternativa. O comum é que sejam acompanhados por uma terapia individual. Isso, aliado a uma dieta adequada, um plano de exercício constante e uma rede de apoio, parece dar bons resultados na maioria dos casos.
Independentemente dos tipos de cocaína com os quais se tem contato, sair do vício não é fácil. Portanto, o melhor sempre é prevenir. A cocaína não é uma droga para experimentar por curiosidade ou para viver uma nova experiência. Um único consumo tem o potencial de desencadear uma série de situações que, a longo prazo, podem acabar se tornando uma tragédia.
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