Tipos de síndrome do impostor: qual você é?
Neil Gaiman, escritor e autor de novelas gráficas como Sandman, nos contou que quando ainda era muito jovem foi convidado para um evento. Ele tinha acabado de decolar em sua carreira, mas aqui estava ele, cercado por inúmeras personalidades da arte e da ciência. A primeira coisa que pensou foi que não merecia estar naquele lugar, que seus méritos não estavam à altura.
A certa altura, ele esbarrou em um homem. Ele era uma pessoa gentil e falante que lhe disse o seguinte: “olho para essas pessoas e digo a mim mesmo, que diabos estou fazendo aqui? Eles têm feito coisas incríveis. Eu apenas fui para onde me mandaram.” Diante desse comentário, o jovem Gaiman não hesitou em responder: “sim, mas você foi o primeiro homem a ir à Lua, e isso já é importante”.
Isso mesmo, a pessoa que ele conheceu foi Neil Armstrong e, como ele, se encontrava dominado pela sempre incômoda síndrome do impostor. Lembre-se, estamos falando daquela crença enlouquecedora em que a pessoa se percebe uma fraude, alguém menos competente do que os outros acreditam.
Essa característica muitas vezes está relacionada ao neuroticismo e também ao perfeccionismo e à autoeficácia. Seja como for, há algo evidente e é que quem questiona seu valor atrapalha seu crescimento e potencial em todos os sentidos. Conhecer as tipologias desse fenômeno pode permitir-nos compreender melhor a sua origem e como lidar com ele. Nós o analisamos.
Tipos de síndrome do impostor, maneiras como nos subestimamos
Há mais de 40 anos, as psicólogas Pauline R. Clance e Suzanne Imes cunharam esse termo. Algo que elas viram em seus estudos é que esse sentimento de falsidade intelectual era especialmente comum entre as mulheres. Os autores atribuíram isso a fatores educacionais e papéis de gênero, àquela faceta cultural que muitas vezes subestimava o valor do sexo feminino.
Agora, olhando para trás, podemos dizer que a síndrome do impostor afeta igualmente ambos os sexos, e também qualquer pessoa, independentemente de sua condição social ou idade. Da mesma forma, é importante esclarecer que não estamos diante de um transtorno psicológico. É uma característica que seria disfarçada de múltiplas dimensões altamente variáveis, como baixo autoconceito, ansiedade, baixa autoestima, etc.
No entanto, há algo que nos apontam em um trabalho da Universidade do Texas. As pessoas definidas por esse tipo de autopercepção experimentam níveis mais altos de estresse, esgotamento e menor satisfação no trabalho. Duvidar de si mesmo, assim como viver com a ideia de que em algum momento sua (suposta) incompetência será revelada, certamente é preocupante.
Por outro lado, um aspecto que sem dúvida nos permitirá compreender muito mais esse fenômeno psicológico é conhecer os diferentes tipos de síndrome do impostor. É muito provável que muitos de nós nos identifiquemos com um deles…
Por mais curioso que nos pareça, existem muitas pessoas que não sabem que sofrem da síndrome do impostor. No entanto, elas se enquadram nesse perfil porque acham que seu sucesso se deve à sorte, ao medo de errar e subestimar suas conquistas.
1. O perfeccionista: tudo tem que dar certo para mim!
Existe uma forma mais destrutiva de sofrimento do que querer ser perfeito? Esse foco mental nos submete dia após dia ao abismo da ansiedade, obsessão por nuances sem importância e insatisfação perpétua. Sejamos claros, quem nunca está satisfeito com seu trabalho, com o que faz ou com o que é, está condenado a ser um eterno impostor (de si mesmo).
2. O especialista: ele deveria saber tudo!
Uma coisa é gostar de acumular conhecimento e outra pensar que nunca se sabe o suficiente para ser verdadeiramente competente, apesar de já ser um especialista. É verdade que é sempre aconselhável praticar a humildade intelectual.
No entanto, há pessoas que se sentem impostoras apesar de já terem demonstrado sua inteligência, seu bom domínio em um campo. O impostor especialista é aquele que precisa continuar sua formação e que hesita em aplicar o que sabe por medo do fracasso.
3. O super-herói ou super-heroína: eu faço isso por você!
Dentre os tipos de síndrome do impostor, essa é a mais comum. Define aquelas pessoas que precisam fazer mais do que o resto para provar a si mesmas que são competentes. Um exemplo disso é o trabalhador que passa mais horas em sua jornada de trabalho. Também para aqueles que precisam cuidar das tarefas de toda a sua família e conhecidos para se sentirem úteis e bem consigo mesmos.
4. O gênio frustrado: ele deveria saber fazer qualquer coisa!
Há homens e mulheres que desejariam ser o clássico indivíduo renascentista, um Leonardo da Vinci que domina todas as artes. O curioso é que já são figuras excepcionais em suas respectivas áreas de conhecimento. No entanto, a ideia de não ser competente em muitas dimensões além de sua própria especialidade os inquieta e os faz pensar que não são realmente bons em nada.
Um exemplo disso pode ser o matemático que está frustrado por não ser bom em traduzir do grego. Ou o economista que se arrepende de não saber nada de astronomia. Dentre os tipos de síndrome do impostor, essa é sem dúvida uma das mais chamativas.
Algumas das pessoas mais bem sucedidas da história e da atualidade apresentam a síndrome do Impostor, como Jodie Foster ou Michelle Obama.
5. O solitário: se eu pedir ajuda, minha incompetência será descoberta
Há aqueles que se recusam a pedir ajuda ou fazer perguntas porque seu orgulho pesa uma tonelada. Outros, por outro lado, o que lhes pesa é a síndrome do impostor. Isso mesmo, não faltam homens e mulheres definidos pela tipologia solitária, que preferem não consultar nada com ninguém. São os que evitam trabalhar em equipe, os que têm melhor desempenho em um relativo isolamento.
A razão para isso não é o orgulho, de forma alguma. Temem que em algum momento alguém descubra que eles não são tão brilhantes quanto a maioria supõe. Optam pela distância como mecanismo de proteção para não se exporem, para que não se descubra que são (aparentes) impostores.
Para concluir, como podemos deduzir, há muitas maneiras de se desvalorizar e de se subestimar. O impressionante é que essa característica está presente nas pessoas mais brilhantes, essas que, se desligassem levemente aquela voz interior, poderiam dar muito mais de si. Trabalhar a autoestima, as crenças irracionais, bem como a obsessão por ser perfeito atenuaria essa realidade desgastante.
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