Titanic, 20 anos de uma aclamada história de amor
Titanic é um dos filmes mais conhecidos e assistidos de todos os tempos. Seu sucesso foi tão grande que se tornou uma espécie de epidemia, onde todos competiam para ver qual era a pessoa que mais havia ido ao cinema para ver o filme.
Ele estreou em novembro de 1997, mas chegou ao Brasil em 1998. Foi relançado em 3D em 2012, como uma comemoração do centenário do naufrágio do famoso navio. Vinte anos se passaram desde a primeira vez que vimos esse filme, no entanto, ele ainda está muito vivo. O filme Titanic é um ícone do cinema contemporâneo.
A história do Titanic foi acompanhada pela mídia desde o seu início. Ele era o navio mais luxuoso da época e o maior navio transatlântico naquele tempo. No entanto, sua vida foi breve e ele afundou em sua viagem inaugural. O naufrágio causou a morte de 1514 pessoas de um total de 2223. Uma verdadeira tragédia nas águas geladas do Atlântico.
Sua história foi envolvida em mistério, premonições e controvérsias. A falta de botes e a gestão da empresa White Star Line foram fortemente criticadas. Além disso, a maioria das vítimas eram passageiros de terceira classe, uma demonstração trágica das desigualdades sociais da época. Por essa razão, não surpreende que tenha inspirado inúmeros filmes. O primeiro, Saved from the Titanic, foi lançado em 1912, pouco depois do naufrágio. Apesar disso, o mais conhecido é, sem dúvida, o filme do diretor James Cameron.
O filme de Cameron, além de quebrar recordes de bilheteria, teve um orçamento nunca visto. Esse filme nos deixou cenas realmente emocionantes e trágicas graças aos seus efeitos especiais. Além da história de Jack e Rose, Cameron também resgatou alguns personagens reais que estavam no Titanic, como Molly Brown, Thomas Andrews, Benjamin Guggenheim (ou o Capitão Smith), entre outros.
A tragédia, a história de amor, os efeitos especiais, os cenários, os figurinos e a inconfundível canção “My Heart Will Go On” fizeram com que o filme conquistasse 11 prêmios do Oscar. Cameron nos convidou a sonhar, reviver uma tragédia e um tempo cheio de desigualdades sociais. Ele transmitiu seu fascínio pelo Titanic. Fascínio que também se refletiu nas inúmeras visitas que a exposição “Titanic: the exhibition” recebeu. Essa foi uma exposição itinerante sobre o navio.
“Eles chamaram o Titanic do navio dos sonhos… e era, realmente, era”.
-Rose, Titanic-
Titanic, a história de Jack e Rose
Sem dúvida, além do naufrágio e da tragédia, a coisa mais notável sobre o filme é a história de amor que surge entre Jack e Rose. Dois jovens que vêm de mundos muito diferentes, mas que parecem se complementar perfeitamente. A história nos apresenta um amor muito idealizado, que começa com uma paixão, desenrola-se rapidamente e termina da maneira mais trágica possível.
O amor sempre existiu, está em toda parte, mas é muito difícil defini-lo. Filósofos gregos lançaram algumas teorias sobre o amor, a psicologia também abordou o assunto. É claro que o cinema e a literatura não ficam de fora do tema. O amor é algo que escapa à racionalidade e nossa dificuldade em entendê-lo e ajustá-lo a um modelo nos leva a propor uma infinidade de teorias.
“O coração de uma mulher é um oceano profundo de segredos”.
-Rose, Titanic-
Por exemplo, no Banquete, de Platão, é narrado um mito que se encaixa com essa busca constante da alma gêmea. Esse mito explica que, originalmente, os primeiros seres tinham uma forma arredondada, com 4 braços, 4 pernas e 2 faces. Mais tarde, eles seriam divididos pela metade, dando origem ao ser humano. Assim se explicava a razão pela qual, em nossa caminhada pela vida, nós constantemente procuramos nossa outra metade.
O amor foi visto como uma energia ou uma fonte de inspiração inesgotável capaz de mover o mundo. Ele está em tudo o que nos rodeia. Encontrar essa metade que nos falta nos traz equilíbrio, mas como é uma busca tão espiritual e quase divina, é comum que a morte apareça na cena. É isso o que acontece em Romeu e Julieta. Na famosa obra de Shakespeare, os jovens amantes devem enfrentar uma barreira social, como acontece em Titanic.
Na psicologia, destaca-se a figura de Stenberg, que levanta a teoria triangular do amor. Nela, ele explica que, para um amor ser verdadeiro, é necessário que sejam desenvolvidas três dimensões – paixão, intimidade e compromisso. Podemos identificar sem muito esforço essas três dimensões nos protagonistas do Titanic. Desde o início, vemos um desejo de conhecer a outra pessoa, saber quem é, o que ela deseja… Em suma, conectar-se de maneira íntima. Nós também vemos uma forte paixão entre eles, como se uma força incontrolável os conduzisse a estarem juntos. Além disso, claro, o compromisso aparece, não esqueçamos a famosa frase “Se você pular, eu pulo”.
A história de amor de Titanic é tão mágica e tão fascinante que leva a um amor impossível. Ele apresenta muitos dos sinais de idealização com os quais identificamos o amor romântico. Tem todos os componentes da idealização: arrebatamento, paixão incontrolável, obstáculos, diferenças sociais e, claro, tragédia. Uma idealização que, por outro lado, alimentou nossa imaginação desde a antiguidade. Ela nos leva a um amor tão divino e inalcançável que só poderíamos acessar após a morte.
Titanic e as classes sociais
Como dissemos, Jack e Rose pertencem a dois mundos diferentes: Jack, é um passageiro de terceira classe, de natureza sonhadora, que chega ao Titanic por pura sorte (ou infortúnio). Ele recebe seu ingresso em um jogo de pôquer. Rose, por outro lado, é uma garota de primeira classe que viaja no Titanic com sua mãe e seu noivo, Caledon Hockley. Rose, ao contrário de Jack, não é feliz porque sua vida não passa de uma farsa. Seu pai deixou-lhes uma herança amaldiçoada por dívidas e, para evitar perder seu status, sua mãe decide que Rose deve se casar com Hockley, um homem muito rico.
O Titanic critica as desigualdades. Existem áreas do navio que os passageiros de terceira classe não podem acessar. Esse é um dos privilégios dos passageiros que viajam em primeira classe. Nós apenas temos que olhar para as figuras do Titanic para perceber que, mesmo na morte, essas desigualdades estavam presentes. A maioria das vítimas eram passageiros de terceira classe. Muitos dos corpos desses passageiros não foram resgatados.
Vemos desigualdades mesmo entre os passageiros de primeira classe, por exemplo, na personagem de Molly Brown. Apesar de ser uma mulher muito rica, gera rejeição entre o resto dos passageiros. Ela é tida como um “nova rica”. Talvez por causa de suas origens humildes, Molly Brown prova ser uma das passageiras mais batalhadoras e mais empáticas, algo que contrasta com o orgulho e a soberba da mãe de Rose.
Apesar de todas essas diferenças sociais e do impacto que tiveram sobre o número de vítimas, o filme também nos convida a refletir sobre a felicidade. Você só precisa ver as cenas que mostram a festa da terceira classe para perceber que essas pessoas agem de forma natural e espontânea. Apesar das dificuldades, eles são capazes de explorar todos os meios que têm à disposição para aproveitar. Essas diferenças nos incomodam e nos deixam tristes. Entretanto, também são um sinal de que, embora o dinheiro aumente o leque de possibilidades, não nos dá a vontade nem nos ensina a aproveitar as escolhas que fazemos.
“Sou o rei do mundo!”.
-Jack, Titanic-