TOC relativo à pedofilia: sintomas e tratamento

Este artigo expõe o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) relativo à pedofilia, um problema pouco conhecido que muitas vezes é confundido com uma patologia sexual. Neste artigo, explicaremos em que consiste, os tipos de comprovação que são realizados e o uso contraproducente de rituais, evitação e reforço negativo. Por fim, é apresentado um plano de tratamento com a utilização da exposição com prevenção de resposta (EPR) como o método mais recomendado.
TOC relativo à pedofilia: sintomas e tratamento

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno incluído no amplo espectro dos transtornos de ansiedade. É caracterizado pela presença de pensamentos persistentes e intrusivos – chamados de obsessões – e rituais ou compulsões cujo objetivo é evitar a ansiedade que esses pensamentos acarretam. Nesta categoria, também encontramos o TOC relativo à pedofilia, sobre o qual falaremos neste artigo.

Em primeiro lugar, precisamos saber que existe uma grande heterogeneidade quanto aos tipos de obsessões e rituais realizados. Por exemplo, há uma categoria diagnóstica dentro do espectro obsessivo-compulsivo em que a tricotilomania, a síndrome de Tourette e o transtorno dismórfico corporal estão incluídos.

Existem também as obsessões sexuais, entre as quais podemos encontrar o TOC relativo à pedofilia. Nesse sentido, a pessoa sofre de pensamentos obsessivos relacionados ao estabelecimento de relações sexuais com crianças ou à possibilidade de se sentir atraída por elas.

O mais característico desta patologia é que não há excitação ou ativação sexual pelas crianças em particular. Por esse motivo, o problema é postulado como um TOC devido à pedofilia, onde a possibilidade e a dúvida de ser pedófilo são tremendamente insuportáveis para o indivíduo. Essa dúvida o leva a estabelecer comportamentos, compulsões e rituais – geralmente de verificação -, tornando a sua vida uma realidade tortuosa e complicada.

“Existe uma infinidade de tipos de TOC, porque existem infinitos tipos de medo”.
– R. Lafuente –

TOC relativo à pedofilia

Tipos de obsessões no TOC

De acordo com vários estudos, as obsessões mais comuns podem ser agrupadas em 5 grandes grupos:

  • Ideias de contaminação.
  • Necessidade de comprovação ou dúvida patológica.
  • Necessidade de ordem ou simetria.
  • Agressivas e sexuais.
  • Religiosas.

Todas elas apresentam os seus rituais ou compulsões mais frequentes, os quais estão diretamente relacionados às obsessões descritas acima: rituais de limpeza, ordem, repetição, acumulação, verificação e compulsões mentais. Além disso, autores como Nardone e Portelli (2015) referem-se a três tipos de rituais compulsivos: preventivos, propiciatórios e restauradores, entre os quais os descritos anteriormente poderiam ser classificados.

TOC relativo à pedofilia

O TOC relativo à pedofilia é uma subcategoria dentro do próprio TOC relacionado às obsessões sexuais. Refere-se à obsessão relacionada a pensamentos, fantasias sexuais e orientação sexual. Esse grupo de pessoas expressa preocupação com a sua ideação sexual, questionando, por sua vez, a moralidade e o significado de ter tais pensamentos.

Esses pensamentos sexuais repetitivos e persistentes podem levar a condições secundárias, como baixa autoestima, inibição da resposta sexual, mudanças de humor, culpa e autoaversão.

Alguns temas centrais desse tipo de TOC são: homossexualidade, HIV e AIDS, infidelidade, perversões sexuais, incesto, pedofilia e pensamentos blasfemos sobre sexo e religião.

Neste tipo de TOC, a fusão ação-pensamento é especialmente relevante (TAF, Rachman, 1993), definida como um conjunto de vieses cognitivos que assumem relações causais incorretas entre os pensamentos e a realidade. Isso significa que a pessoa acredita que apenas por ter essas ideias, elas podem se tornar realidade. Além disso, acha que o simples fato de ter essas ideias é igualmente condenável, mesmo que a ação não aconteça.

As obsessões sexuais que ocorrem nesse tipo de pessoa são o oposto das fantasias da maior parte da população. Enquanto as fantasias são eróticas, inofensivas e produzem prazer, no caso das pessoas com TOC a ideação sexual é desagradável. Elas não querem executá-las e desejam conseguir eliminar esses pensamentos. O que deve ser enfatizado é que elas raramente provocam excitação sexual.

A dúvida cartesiana no TOC sexual

As obsessões sexuais costumam ser apresentadas em termos hipotéticos: “Tenho pensamentos repetitivos sobre dois homens fazendo sexo, sou homossexual?” “Pensar em crianças nuas me torna um pedófilo?” “Vou pegar HIV masturbando uma prostituta?”

Como são formuladas hipoteticamente, é difícil negar essas ideias; na verdade, a busca por pistas que indiquem o contrário pode levar a rituais de verificação e a uma dúvida que não tem fim. Embora seja remota a chance de que o conteúdo das obsessões se torne realidade, há alguma possibilidade (é possível ter contraído o HIV estando com uma prostituta, por exemplo).

Além disso, as obsessões sexuais podem ser acompanhadas por compulsões. Se aparecerem, podem ser comportamentais ou puramente cognitivas, como contar números, repetir palavras “mágicas” e estabelecer um debate consigo mesmo sobre a validade desses pensamentos intrusivos. O interessante sobre os comportamentos de verificação do TOC é que eles não terminam depois que o item é verificado; há uma necessidade imperiosa de verificar o tempo todo.

Comprovação do TOC relativo à pedofilia

Uma compulsão muito típica no TOC relativo à pedofilia é a comprovação de chaves externas que mostrem que, de fato, o indivíduo não é um pedófilo. Portanto, ele pode passar 3 horas por dia verificando cada momento em que esteve sozinho com uma criança sem sentir desejo sexual. Fará uma revisão da história da sua vida para se convencer de que não fica sexualmente excitado com crianças. Essas horas investidas provavelmente irão aumentando, passando de 3 para 7 horas, até perder sua vida em compulsões.

Embora a pessoa pense em seu problema, ela geralmente não se expõe a ele. Isso significa que a pessoa com TOC relativo à pedofilia tenta evitar se reunir com filhos de amigos, alunos, não quer ir a parquinhos, etc.

Isso a leva a questionar se sentiria atração sexual se fosse a um desses playgrounds, e por isso não o faz. Ela evita essa situação, uma evitação que é reforçada pela ansiedade que deixa de sentir quando não vai ao parquinho. O resultado dessa evitação amplia o problema.

Homem com TOC

Tratamento do TOC sexual: EPR

O tratamento mais comum é uma combinação de psicoterapia, terapia comportamental e tratamento medicamentoso. A psicoterapia tem relatado melhoras em pessoas com TOC. Este tratamento busca respeitar os valores do paciente, e não tentar convencê-lo de que o conteúdo de seus pensamentos é ilegítimo. Queremos também fazer com que ele entenda que o conteúdo da obsessão é irrelevante, focando na topologia dos rituais, trabalhando o insight – mudança real e profunda – e evitando fazer parte das compulsões de verificação do próprio indivíduo.

Por outro lado, a terapia comportamental se concentra na exposição com prevenção de resposta (EPR). Nela, espera-se que o paciente seja exposto a esses pensamentos intrusivos sem ser capaz de realizar nenhuma das suas compulsões.

A EPR é baseada na ideia de que as compulsões são um tipo de evitação que reduz a ansiedade que os pensamentos produzem, mas também são reforçadas negativamente por essa redução da ansiedade. Com a EPR, mesmo que a ansiedade atinja o seu pico máximo, já que a pessoa não consegue reduzi-la com os seus rituais, mais tarde ela diminuirá e será extinta. O objetivo é, portanto, quebrar a relação entre compulsão e obsessão.

Essa última alternativa de tratamento, a exposição com prevenção de resposta, parece ser atualmente a alternativa mais sustentada empiricamente, ou seja, a de maior sucesso no tratamento do TOC relativo à pedofilia.


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  • Gordon, W. (2002). Sexual obsessions and OCD. Sexual and Relationship Therapy, 17(4), 343-354.
  • Nardone, G. y Portelli, C. (2015). Obsesiones, compulsiones, manías. Barcelona: Herder Editorial.
  • O’Neil, S., Cather, C., Fishel, A., Kafka, M. (2005). “Not Knowing If I Was a Pedophile…”. Diagnostic Questions and Treatment Strategies in a Case of OCD. Harvard Review of Psychiatry, 13, 186-196.
  • Rachman, S. (1993). Obsessions, responsibility and guilt. Behaviour Research and Therapy, 31, 149-154.
  • Welch, J., Lu, J., Rodriguiz, R., Trotta, N., Peca, J., Ding, J., Feliciano, C., Chen, M., Paige, J., Luo, J., Dudek, S., Weinberg, R., Calakos, N., Wetsel, W. Y Feng, G. (2007). Cortical-striatal synaptic defects and OCD like behaviours in Sapap3-mutant mice. Nature, 448, 894-900.

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