J.R.R. Tolkien, uma vida de filme

A vida de Tolkien é tão inspiradora quanto a sua obra. O criador da imensa mitologia da Terra Média passou por muito avatares que inspiraram parte da sua criação.
J.R.R. Tolkien, uma vida de filme
Juan Fernández

Escrito e verificado por o historiador Juan Fernández.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Conhecido por suas grandes obras literárias, que criaram uma fantasia moderna, a própria vida de Tolkien poderia protagonizar uma de suas histórias. De fato, um de seus poemas mais conhecidos foi inspirado em sua relação com a mulher que seria sua esposa.

Sua vida foi marcada por uma infância órfã, pela guerra, pelo amor, por suas profundas crenças religiosas e sua enorme genialidade linguística.

Sabemos por suas cartas que John Ronald Reuel Tolkien não se inspirou, como dizem por aí, em acontecimentos históricos e políticos que viveu de perto ou que o afetaram diretamente.

No entanto, a obra é filha do autor, e sua vida, não isenta de desgraças, marcou a melancolia do mundo que criou. Seu senso de amor, de fé e seu amor pela natureza marcam as atitudes de seus personagens protagonistas.

A infância tortuosa de Tolkien

Tolkien nasceu em 1892 no Estado Livre de Orange, atual África do Sul. Filho de um banqueiro britânico, voltou para a Grã Bretanha com sua mãe ainda criança, em busca de um clima melhor, mas seu pai morreu na África.

A partir desse momento, até os 12 anos de idade, viveu com sua mãe Mabel e seu irmão, sem apoio econômico do resto da família, pois Mabel havia se convertido ao catolicismo. Naquela época, a igreja de Roma era mal vista na Inglaterra e era uma vergonha para as famílias ter membros que faziam parte dela.

Isso explicaria por quê, em 1904, após sua morte, Mabel deixou os irmãos Tolkien sob a guarda de um padre católico.  Seu nome era Francis Xavier Morgan, de origem hispano-britânica, e ele marcou a juventude dos garotos.

O sacerdote financiou seus estudos e lhes deu abrigo em diferentes apartamentos alugados. O cuidado e carinho que receberam gerou um profundo respeito em John Ronald.

Edith, seu grande amor

Em um destes abrigos, aos 16 anos, John Ronald conheceu Edith Bratt. Também órfã, 3 anos mais velha que ele, não demoraram a jurar amor eterno. Mas o padre Francis não achou conveniente, pois a menina poderia distrair o jovem e atrapalhar a obtenção de uma bolsa de estudos. Além disso, ela não era católica.

Podemos conhecer, através de suas cartas, a dor sentida por Tolkien naquela situação, mas ele obedeceu seu tutor. Os três anos de diferença de idade ainda separavam o jovem dos 21 anos de idade, a maioridade da época.

O nascimento do gênio

Após uma tentativa falha, ele conseguiu um bolsa de estudos para ingressar em Oxford aos 18 anos, enquanto Edith foi trabalhar em Birmingham. Lá, conheceu três grandes amigos com os quais formaria o clube TCBS, no qual compartilhavam de seu amor pela literatura e pelas línguas.

Inspirado por sua mãe, desde cedo brincava de criar línguas, sendo as línguas germânicas algumas de suas inspirações. Os amigos tiveram a ideia de criar uma mitologia para a Inglaterra, no estilo das mitologias Gregas e Romanas, e as línguas de Tolkien fariam parte deste universo.

Dois acontecimentos marcaram sua mudança. Por um lado, no dia em que completou 21 anos, escreveu uma carta para Edith pedindo para retomar o amor entre eles, mas ela estava comprometida naquele momento. Determinado a não se render, Tolkien decidiu viajar para Birmingham para convencê-la, e conseguiu atingir seu objetivo.

Em 1916, após convencê-la a se tornar católica, ambos se casaram. Dois anos antes havia tido início um conflito que estremeceu seu mundo. Neste mesmo ano, partiu para lutar na Primeira Guerra Mundial. Lá, ele perdeu dois de seus grandes amigos e ficou doente. Voltou transformado.

“Nem o mais sábio conhece o fim de todos os caminhos.”
– J.R.R. Tolkien –

Tolkien e sua obra

Seus esforços como estudante deram frutos e Tolkien ocupou uma vaga de professor de língua inglesa.

Influenciado pelos horrores vividos e pelos amigos perdidos, continuou sua obra criando um universo mágico que compartilhou com alguns de seus colegas, como C. S. Lewis, com quem formou os Inklings.

Muitas de suas ideias provinham dos relatos que narrava aos seus filhos ou de brincadeiras familiares.

Devido ao seu enorme perfeccionismo, que aplicava tanto no trabalho quanto na literatura, reescrevia mais do que publicava. A primeira obra sobre a Terra Média que chegou ao grande público foi ‘O Hobbit’, e no resto de sua vida, só publicou ‘O Senhor dos Anéis’. Todos os outros textos deste universo chegaram ao público através de seu filho, Christopher.

Todos estes avatares seriam decisivos em muitas de suas criações:

  • A visão idílica da vida tradicional provém de suas experiências como órfão em uma cidade industrial;
  • A Tragédia do Anel provém de sua interpretação católica do mundo;
  • Os amores impossíveis que ele relata são reflexos de seu próprio romance;
  • A amizade de seus personagens não é diferente das que Tolkien experimentou.

Sem dúvida, ao ler sobre a Terra Média, lemos um pouco sobre ele.


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  • Carpenter, Humphrey (2002) J.R.R. Tolkien, una biografía, Planeta DeAgostini.

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