O que uma tragédia pode nos ensinar sobre a morte

O que uma tragédia pode nos ensinar sobre a morte

Última atualização: 06 dezembro, 2016

Acordei com meu marido falando sobre a queda de uma aeronave. Tentei resistir e continuar dormindo, comecei a ouvi-lo atentamente, acordei e comecei a ler as notícias. A cada nova informação sentia uma nova angústia. Fato é que é quase impossível saber de algo assim e não se comover.

Eu sei que a morte é algo previsível, todos sabem que um dia chegará para todos que vivem nesse planeta, mas, contrariando o fato de que esta certeza é imutável, lá no fundo, no nosso inconsciente, não aceitamos isso. Ela sempre será dolorosa, se for ainda um feto ou uma pessoa com 100 anos.

Quando a morte ocorre com pessoas mais jovens isso se torna mais doloroso ainda. É como se aceitássemos melhor quando ocorre com uma pessoa de mais idade ou doente, alguém que está sofrendo, mas desse jeito que aconteceu, num momento feliz para um time e com muitos jogadores jovens, delegação, jornalistas e tripulação de outro país, choca demais a gente! É uma perda abrupta, violenta e irreparável.

morte inesperada

Entristecem a gente as vidas interrompidas, os sonhos que se acabaram, a dor de quem fica, a luta dos que estão gravemente feridos, a saudade da família. Doeu mais em mim a esperança que muitos familiares tinham de acontecerem milagres e de seus filhos, maridos, netos, sobrinhos, pais estarem vivos. Com certeza eu também teria, se fosse permitido ter como me apegar a um fio de fé que fosse.

E por mais que eu tenha pela profissão visto a morte de perto como quem trabalha nos hospitais, fica aquela sensação geral de que a vida é muito frágil, e cada dia deve ser vivido de forma intensa, porque não sabemos mesmo o que vem logo ali na frente… Como a gente perde tempo com bobagem, com questões pequenas, brigando, odiando, maltratando quando deveríamos amar mais, respeitar mais, cultivar diariamente afeto, ter sentimentos mais positivos!

morte acidente chapecoense

O tempo suavizará tudo isso, tornando-nos resilientes e flexíveis para sobreviver apesar de todas as tristezas, tragédias e dores que passamos. Isso acontecerá para mim, para você e para todos que passam hoje por esta situação estarrecedora.

O sentimento é de perda, de luto, é preciso ter empatia, ter consideração, oferecer apoio e conforto, ajudar de todas as formas possíveis, será inevitável chorar, não se comover e muito menos se lamentar, até porque poderia ser qualquer um de nós, de nossos entes queridos, enfim.

Dá para ver num dia desses que dá para ter fé na humanidade, que existem sim mais pessoas de bem espalhadas por aí, em qualquer canto da Terra. Dá para sentir a solidariedade, a união dos povos, a empatia de se colocar no lugar do outro e sentir de verdade uma perda, porque antes de tudo, somos gente, e gente de verdade sofre por si e pelo sofrimento do seu semelhante.

Este texto não tem o objetivo de deixar ninguém mais triste, nem mais alegre, porque é difícil sorrir hoje, mas tem a finalidade de possibilitar uma breve reflexão sobre a vida. Como ela é um sopro leve que pode vir e ir embora quando quiser, sem data certa, sem despedidas… Que todos nós precisamos uma hora ou outra das outras pessoas (vejam eles, debaixo de chuva, frio de 5 graus, noite, feridos e alheios numa mata esperando socorro de pessoas estranhas!).

Que possamos valorizar a vida, mesmo quando ela chega a seu fim. Para muitos o renascimento, não só dos feridos, mas de todos os familiares e amigos, de toda uma nação, de um mundo que hoje chora, mas com grande esperança de dias melhores, e eles virão. Ainda bem que uma tempestade não dura para sempre!


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