Como transformar a inveja em aprendizado

A inveja, como todas as emoções, é acompanhada por uma mensagem e uma energia. A boa notícia é que podemos tirar proveito de ambas. Agora, como fazer isso?
Como transformar a inveja em aprendizado
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 12 setembro, 2021

Não é fácil transformar a inveja em aprendizado. Falamos de uma emoção universal que todos já experimentamos em algum momento. Além disso, se ouvirmos sua mensagem e usarmos bem a energia com a qual ela nos nutre, ela pode ter um valor muito positivo para nós; o problema surge quando ela nos governa, passando a predominar em nosso estado emocional.

Essa paixão está nas primeiras páginas da Bíblia, texto que fundou as sociedades judaico-cristãs. Caim invejou Abel e não entendeu por que ele era o favorito de Deus. Essa inveja acabou sendo a semente do ódio que o levou a tirar a própria vida.

Algo semelhante acontece com essa paixão no dia a dia: quem sucumbe a ela causa sérios danos aos outros, pode perder o rumo da vida e se tornar um andarilho errante. Esta é a armadilha da inveja: fere quem a sente. O sofredor tem um problema básico: ele se olha através de outra pessoa. Podemos aprender muito com a inveja.

Nossa inveja sempre dura mais do que a felicidade daqueles que invejamos.”
-François de La Rochefoucauld-

Menino com inveja de um colega de trabalho

A natureza da inveja

A inveja é uma paixão complexa, diretamente relacionada à falta de autoestima e autonomia. Também tem a ver com uma profunda falta de empatia. Quem inveja não é um ser mau, mas alguém que falhou em fazer uma avaliação saudável de si mesmo. Ele não consegue transformar sua inveja porque tem fortes dúvidas sobre a sua identidade.

A pessoa com inveja não consegue entender a diferença entre “eu” e “outro”. Ela se vê refletida nele, como se fosse um reflexo de si mesmo; para o “eu”, o “outro” constituiria o outro lado do espelho. Ela se sente ligada a esse outro ser, em muitos casos sem estar consciente. Portanto, se você perguntar a ela, não falará bem do outro.

O que acontece, no fundo, é que você desenvolveu uma forte identificação com a pessoa que inveja; sente que alguém tem algo que não deveria ter, é algo que não deveria ser ou faz algo que não deveria fazer. Isso ocorre porque você vê no outro uma imagem que o relembra do que você não tem, não é ou não faz.

A importância da empatia

Comportamentos inspirados pela inveja são mais prováveis em contextos que tornam a empatia difícil, como competições. Por outro lado, esta é a origem de muitos preconceitos: “Ele não deveria ter tanto sucesso; trabalhei mais duro do que ele e, portanto, agora deveria estar em uma posição mais avançada”. Este pensamento que pode nos levar a desprezar o que o outro faz.

Nestes casos, talvez possamos nos perguntar se realmente temos todas as informações para poder dizer que o outro não merece o que tem.

Sabemos exatamente o quanto ele teve que lutar para obtê-lo ou quais barreiras ele teve que superar? Sabemos em detalhes os obstáculos que ele teve que vencer? Somos capazes de identificar construtivamente os valores que levaram a essa diferença que tanto nos incomoda? Nós sabemos exatamente do que ele teve que desistir? Notamos em quais outros momentos somos favorecidos em comparação com outras pessoas que talvez tentaram mais?

Uma inveja suficientemente intensa e descontrolada geralmente nos impede de nos fazer esse tipo de pergunta. Por outro lado, a inveja sob a proteção da nossa gestão emocional pode nos motivar a fazê-lo, permitindo-nos crescer. A diferença não se dá pela emoção, mas pela inteligência emocional.

Mulher pensando

Transformar a inveja em aprendizado

Assim como podemos aprender a controlar outras emoções, também podemos fazer isso com a inveja. Ela pode se tornar uma paixão extremamente poderosa, com a capacidade de bloquear forças criativas e vitais. Portanto, enquanto estiver presente, o melhor é questionar, entender que a emoção não somos nós, tratá-la como se fosse um mensageiro que veio a nossa casa para transmitir uma mensagem. Perguntemos a nós mesmos, de forma analítica e pensativa: o que vamos fazer agora?

Uma etapa complicada com a inveja é reconhecer que a sentimos. É fácil para nós confundi-la com outras emoções mais famosas, como a alegria ou a raiva. Se você colocar essa máscara, será muito mais difícil trabalhar com ela, pois você buscará formas de enfrentamento que pouco ajudarão.

Essa paixão também traz lições valiosas. Onde invejamos, existe um potencial subdesenvolvido em nós mesmos. A reflexão deve ser direcionada para isso: por que não consegui ser ou fazer o que invejo no outro? O que me impede de fazê-lo? E mais: por que não paro por um momento para avaliar o que conquistei?

A outra linha de reflexão é orientada para a empatia. Vale a pena identificar os motivos pelos quais aquele alguém que você inveja conseguiu algo que você queria para si. Em muitos casos, para chegar àquele lugar ele teve que fazer sacrifícios ou investimentos de recursos dos quais nem suspeitamos.


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  • Usobiaga, I. S. A. B. E. L. (2000). Reivindicando una cierta envidia. Revista de Psicoanálisis de la Asociación Psicoanalítica de Madrid, 32, 149-155.


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