O transtorno de ansiedade generalizada e seus modelos teóricos

O transtorno de ansiedade generalizada se situa dentro do marco dos transtornos de ansiedade. Neste artigo, vamos identificar os fatores que favorecem seu desenvolvimento e também aqueles que o mantêm.
O transtorno de ansiedade generalizada e seus modelos teóricos
Paula Villasante

Escrito e verificado por a psicóloga Paula Villasante.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

De uma forma ou de outra, todos estamos familiarizados com o conceito de ansiedade. Nós sabemos que cada pessoa é afetada de uma determinada maneira e que existem vários transtornos relacionados a ela. Um deles é o transtorno de ansiedade generalizada. Assim, o DSM-5, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, trata da ansiedade de diversas formas. Uma delas é o transtorno de ansiedade generalizada, ou TAG.

Esse transtorno se caracteriza pela presença de ansiedades e preocupações excessivas, persistentes e que as pessoas têm dificuldade para controlar, sobre diversos acontecimentos ou atividades que se associam a três ou mais sintomas de elevada ativação fisiológica. Além disso, no TAG, a ansiedade ou a preocupação devem estar presentes na maioria dos dias durante um mínimo de 6 meses.

A evolução do transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

O TAG foi inicialmente introduzido como diagnóstico único na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III, APA, 1980). No entanto, foi utilizado com mais frequência como diagnóstico residual para indivíduos que não cumpriam os critérios diagnósticos para outros transtornos de ansiedade (1).

Na publicação do DSM-III-R, o TAG foi definido como uma preocupação crônica e persuasiva (2). Posteriormente, na publicação do DSM-IV-TR, o TAG foi caracterizado por uma preocupação excessiva não controlada em relação a diversos temas e que está presente na maioria dos dias durante pelo menos seis meses. A preocupação causa mal-estar e/ou deterioração funcional e está associada com pelo menos três dos seguintes aspectos:

  • Inquietação ou sensação de excitação ou nervosismo.
  • Fadiga que aparece facilmente.
  • Dificuldade de concentração ou ficar com a mente em branco.
  • Irritabilidade.
  • Tensão muscular.
  • Transtornos do sono.

A medicação psicotrópica e a terapia cognitivo-comportamental (TCC) parecem ser eficazes para o tratamento do TAG (3, 4, 5). Para esse transtorno, a farmacoterapia pode ser eficaz para reduzir os sintomas de ansiedade. No entanto, a medicação não parece ter um impacto significativo sobre a preocupação, que é a característica que define o TAG (3).

Mulher sentindo sintomas de ansiedade

Modelos teóricos do transtorno de ansiedade generalizada

Modelo da evitação da preocupação e TAG (MEP)

O modelo da evitação da preocupação e o TAG (6) se baseiam na teoria do medo em duas fases de Mowrer (1974). Esse modelo deriva do modelo de processamento emocional de Foa e Kozak (7, 8).

O MEP afirma que a preocupação é uma atividade linguística verbal baseada no pensamento (9) que inibe as imagens mentais vividas e a ativação somática e emocional associadas. Essa inibição da experiência somática e emocional evita o processamento emocional do medo que é teoricamente necessário para uma bem-sucedida habituação e extinção.

Modelo de intolerância à incerteza (MII)

Segundo o modelo de intolerância à incerteza (MII), os indivíduos com TAG encaram as situações de incerteza ou ambiguidade como “estressantes e incômodas”, e sentem preocupação crônica em resposta a essas situações. (10)

Esses indivíduos acreditam que a preocupação lhes servirá para ajudar a enfrentar mais eficazmente os acontecimentos temidos ou para prevenir que esses acontecimentos ocorram (11, 12). Essa preocupação, junto com os sentimentos de ansiedade que a acompanham, conduz a uma orientação negativa ao problema e à evitação cognitiva, fatores que retroalimentam a preocupação.

Mais especificamente, os indivíduos que sentem uma orientação negativa ao problema: (10)

  • Têm falta de confiança em sua capacidade de resolver problemas.
  • Percebem os problemas como ameaças.
  • Frustram-se facilmente quando se deparam com um problema.
  • São pessimistas em relação ao resultado dos esforços para resolver o problema.

Esses pensamentos servem para exacerbar sua preocupação e ansiedade (10).

O modelo metacognitivo (MMC)

O modelo metacognitivo (MMC) do TAG postula que os indivíduos com TAG sentem dois tipos de preocupações. O autor Wells identifica a Preocupação Tipo 1 em primeiro lugar. Nesse processo, determina-se uma preocupação de acontecimentos não-cognitivos, tais como situações externas ou sintomas físicos (Wells, 2005).

Para Wells, os indivíduos com TAG começam a se preocupar com sua Preocupação Tipo 1. Eles temem que a preocupação se torne incontrolável ou que, inclusive, possa ser inerentemente perigosa. Esse “preocupar-se com a preocupação” (ou seja, metapreocupação) é chamado, por Wells de Preocupação Tipo 2.

Essa Preocupação Tipo 2 se associa com um conjunto de estratégias pouco eficazes dirigidas a evitar a preocupação por meio de tentativas de controlar comportamentos, pensamentos e/ou emoções. (10)

Homem com transtorno de ansiedade generalizada

Modelo de desregulação da emoção

O modelo de desregulação da emoção (MDE) se baseia na literatura sobre a teoria da emoção e da regulação dos estados emocionais em geral. Esse modelo é composto por quatro componentes centrais: (10)

  • O primeiro componente afirma que os indivíduos que sofrem do transtorno de ansiedade generalizada sentem uma excitação emocional excessiva ou emoções que são mais intensas do que para a maioria das pessoas. Isso diz respeito tanto aos estados emocionais positivos quanto negativos, mas particularmente aos negativos.
  • O segundo componente assume a pobre compreensão das emoções pelos indivíduos com TAG. Isso inclui déficits na descrição e na classificação das emoções. Também inclui o acesso e a aplicação da informação útil inerente às emoções.
  • O terceiro, os indivíduos com TAG têm atitudes mais negativas em relação às emoções que os demais.
  • Além disso, o quarto componente se centra no fato de que esses indivíduos evidenciam uma regulação da emoção pouco ou nada adaptativa. Também possuem estratégias para lidar com elas que os deixam potencialmente em estados emocionais que, inclusive, são piores do que aqueles que inicialmente queriam regular.

Modelo baseado na aceitação do transtorno de ansiedade generalizada (MBA)

De acordo com os autores Roemer e Orsillo, o MBA implica quatro componentes:

  • Experiências internas.
  • Uma relação problemática com as experiências internas.
  • Evitação experiencial.
  • Restrição comportamental.

Assim, os criadores desse modelo sugerem que “os indivíduos com TAG têm reações negativas em relação às suas próprias experiências internas e estão motivados a tentar evitar essas experiências, o que fazem tanto comportamental quanto cognitivamente (por meio da participação repetida no processo de preocupação).

Dessa forma, podemos dizer que os cinco modelos teóricos possuem um aspecto importante em comum. Esse aspecto se relaciona às consequências da evitação de experiências internas como estratégia de enfrentamento. Nos últimos anos, as pesquisas avançaram bastante em relação à teorização desse transtorno. No entanto, ainda parece clara a necessidade de realizar mais pesquisas básicas examinando os componentes preditivos dos cinco modelos.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Barlow, D. H., Rapee, R. M., & Brown, T. A. (1992). Behavioral treatment of generalized anxiety disorder. Behavior Therapy, 23(4), 551-570.
  • Barlow, D. H., DiNardo, P. A., Vermilyea, B. B., Vermilyea, J., & Blanchard, E. B. (1986). Co-morbidity and depression among the anxiety disorders: Issues in diagnosis and classification. Journal of Nervous and Mental Disease.
  • Anderson, I. M., & Palm, M. E. (2006). Pharmacological treatments for worry: Focus on generalised anxiety disorder. Worry and its psychological disorders: Theory, assessment and treatment, 305-334.
  • Borkovec, T. D., & Ruscio, A. M. (2001). Psychotherapy for generalized anxiety disorder. The Journal of Clinical Psychiatry.
  • Fisher, P. L. (2006). The efficacy of psychological treatments for generalised anxiety disorder. Worry and its psychological disorders: Theory, assessment and treatment, 359-377.
  • Borkovec, T. D., Alcaine, O., & Behar, E. (2004). Avoidance theory of worry and generalized anxiety disorder. Generalized anxiety disorder: Advances in research and practice, 2004.
  • Foa, E. B., & Kozak, M. J. (1986). Emotional processing of fear: exposure to corrective information. Psychological bulletin, 99(1), 20.
  • Foa, E. B., Huppert, J. D., & Cahill, S. P. (2006). Emotional Processing Theory: An Update.
  • Borkovec, T. D., & Inz, J. (1990). The nature of worry in generalized anxiety disorder: A predominance of thought activity. Behaviour research and therapy, 28(2), 153-158.
  • Behar, E., DiMarco, I. D., Hekler, E. B., Mohlman, J., & Staples, A. M. (2011). Modelos teóricos actuales del trastorno de ansiedad generalizada (TAG): revisión conceptual e implicaciones en el tratamiento. RET, Revista de Toxicomanías, 63.
  • Borkovec, T. D., & Roemer, L. (1995). Perceived functions of worry among generalized anxiety disorder subjects: Distraction from more emotionally distressing topics. Journal of behavior therapy and experimental psychiatry, 26(1), 25-30.
  • Davey, G. C., Tallis, F., & Capuzzo, N. (1996). Beliefs about the consequences of worrying. Cognitive Therapy and Research, 20(5), 499-520.
  • Robichaud, M., & Dugas, M. J. (2006). A cognitive-behavioral treatment targeting intolerance of uncertainty. Worry and its psychological disorders: Theory, assessment and treatment, 289-304.
  • Roemer, L., & Orsillo, S. M. (2005). An acceptance-based behavior therapy for generalized anxiety disorder. In Acceptance and mindfulness-based approaches to anxiety (pp. 213-240). Springer, Boston, MA.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.