Transtorno de escoriação: sintomas, causas e tratamentos

Transtorno de escoriação: sintomas, causas e tratamentos
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A relação entre as doenças da pele e o nosso estado emocional é evidente. Um exemplo disso é o transtorno de escoriação, ou dermatilomania, que consiste em uma necessidade incontrolável de se arranhar, se beliscar ou tirar crostas de acne até causar lesões cutâneas.

É possível que nunca tenhamos ouvido falar da dermatilomania. Pelo contrário, pode ser que tenhamos acabado de ser diagnosticados ou que, talvez, pertençamos a essa parte da população que ainda não é plenamente consciente de que talvez sofra deste mesmo problema. Por mais estranho que pareça, é algo muito comum, um efeito associado muito frequentemente à depressão, aos transtornos de ansiedade ou os transtornos obsessivos compulsivos (TOC’s).

Se há algo evidente, é a necessidade de que os dermatologistas desenvolvam a habilidade de ver mais além da pele nos pacientes com escoriações psicogênicas.

É interessante saber, além disso, que a literatura médica inclui há mais de um século este tipo de condição patológica em sua lista. Surgiu pela primeira vez em 1875 com o nome de “escoriação neurótica”. Mais tarde, o dermatologista francês Brocq descreveu o chamativo caso de um paciente adolescente que, de forma quase constante, coçava as áreas onde tinha acne até o ponto de deixar seu rosto quase desfigurado.

Há casos extremos e há pacientes com uma sintomatologia mais leve, onde se evidencia, uma vez mais, que uma boa parte dos problemas dermatológicos têm uma base psiquiátrica que é preciso detectar e tratar. Por isso, há quem costume passar por uma odisseia de tratamentos caros para esses problemas na pele sem que lhe diagnostiquem previamente a autêntica raiz do problema: um excesso de estresse, talvez, uma alta ansiedade ou uma depressão encoberta…

Transtorno de escoriação

Transtorno de escoriação: o que é?

O transtorno de escoriação ou dermatilomania aparece no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) na seção de transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados. O que isso quer dizer? Significa que estamos diante de alguém que tem uma necessidade constante de se machucar, se beliscar, morder ou arrancar acne sem que possa controlar essa conduta em nenhum momento.

Há especialistas que veem o transtorno de escoriação como um tipo de vício, uma necessidade incontrolável de coçar a região do corpo onde percebe um defeito. Seja como for, o que está claro é que estamos diante de uma condição psiquiátrica, diante de uma conduta onde o paciente não vê que está causando danos, feridas que derivam em infecções e que, pouco a pouco, desfiguram a sua aparência.

Quem costuma ser afetado?

Os dados não deixam de ser chamativos: estima-se que o transtorno de escoriação afete 9% da população. Aparece em ambos os sexos, porém, costuma prevalecer muito mais nas mulheres. Ainda, a idade na qual mais costuma aparecer é entre os 30 e os 45 anos.

Por que essa conduta é mantida?

Atualmente a dermatilomania ainda não é profundamente compreendida. Uma das hipóteses é de que coçar a pele proporciona calma ou serve para canalizar o estresse, a ansiedade, os pensamentos negativos, os medos, as frustrações… Porém, esse costume é realizado de forma automática, até o ponto de poder ser feito enquanto a pessoa lê, estuda, assiste televisão, etc.

Ainda assim, é comum que o transtorno de escoriação venha acompanhado por outros tipos de condições psiquiátricas:

  • Ansiedade generalizada.
  • Transtornos de alimentação.
  • Traumas de infância associados ao abuso sexual.
  • Depressão.

Por outro lado, algo que convém ter em conta é que em 40% dos casos existe um componente genético. Ou seja, este transtorno apresenta um padrão hereditário muito similar ao da tricotilomania.

Transtorno de escoriação

Tratamento para o transtorno de escoriação

Pode ser que, à primeira vista, pareça apenas uma mania qualquer, algo inócuo e inclusive inocente. É necessário incidir mais uma vez que estamos diante de um transtorno psiquiátrico em que a conduta aparentemente inocente do paciente acaba causando lesões graves. Há quem use as unhas ou os dentes, outros acaba usando as pinças de depilar ou inclusive agulhas. O objetivo (a necessidade) sempre é o mesmo, retirar a pele.

A estratégia terapêutica nestes casos, como podemos deduzir, é multidisciplinar.

  • Por um lado, será realizado um tratamento dermatológico para curar essas feridas cutâneas.
  • Ainda, e uma vez que for feito um bom diagnóstico, serão aplicadas no paciente terapias farmacológicas e não farmacológicas para abordar o aspecto psicoemocional.
  • A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, é a que mais obtém sucesso nesses casos.
  • Por outro lado, também foi demonstrada a efetividade de tratamentos farmacológicos à base de antidepressivos, antipsicóticos e ansiolíticos. Porém, tudo dependerá, sem dúvidas, das características pessoais de cada paciente.
Pessoa com luva para não se coçar

Este é só um exemplo de como esse tipo de realidade psicológica vem se tornado cada vez mais comum. São complexidades pessoais que são compreendidas cada vez melhor e que têm ao seu alcance estratégias, tratamentos e terapias mais eficazes.

Referências bibliográficas

  • Arenas R. (2005) Dermatología. Atlas, diagnóstico y tratamiento. México: McGraw-Hill; pp. 263-269.
  • Arnold L, Auchenbach M, McElroy S. (2001) Psychogenic excoriation. Clinical features, proposed diagnostic criteria, epidemiology and approaches to treatment. Central Nervous System Drugs. 15(5): 351-9.

Como curiosidade: nos últimos anos teve início o comércio de luvas para pessoas com transtorno de escoriação. É um complemento cotidiano simples que pode canalizar a vontade, e a pessoa pode se acalmar coçando os ornamentos incrustados na própria lã.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.