Transtornos internalizantes: a origem do sofrimento infantil

Vamos cuidar da criança triste, irritável ou retraída. Acredite ou não, por trás do seu rosto pode se esconder um problema psicológico que se manifesta por meio de sintomas internalizantes, como isolamento e desmotivação.
Transtornos internalizantes: a origem do sofrimento infantil
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Às vezes, as crianças podem apresentar comportamentos que têm pouco a ver com a sua personalidade, como timidez extrema, preocupação, medos, fobias e mudanças de humor. Nesse sentido, compreender, conhecer e detectar os primeiros indicadores de transtornos internalizantes pode ajudar a prevenir e tratar a depressão infantil.

Quando se trata do comportamento das crianças, há um fato que quase nunca falha. As crianças mais inquietas e indisciplinadas são as que sempre chamam a nossa atenção. Seja em casa ou na escola, é impossível não prestar atenção no menino ou na menina que é desafiador e que raramente fica parado.

Esse tipo de perfil se enquadra no que definimos como transtornos externalizantes. Basicamente, elas respondem ao seu ambiente tornando-se perceptíveis. Por outro lado, há crianças que estão longe de ser problemáticas. Essas crianças não gostam quando outras pessoas as notam. Elas são aquelas que se sentam no fundo da sala de aula e se mantêm isoladas o tempo todo. Elas evitam chamar a atenção a todo custo.

Além disso, elas raramente despertam a preocupação de seus professores. De certa forma, os professores gostam da personalidade tranquila dessas crianças, especialmente em uma sala de aula cheia de crianças barulhentas e inquietas. No entanto, negligenciar essas crianças ou adolescentes pode ter consequências sérias. Embora se escondam por trás do seu jeito sereno, na realidade estão clamando por ajuda.

Menino chateado deitado no sofá

Transtornos internalizantes: definição, sintomas e tratamento

“Sim, ele está sempre perto de mim, ele nunca sai do meu lado”. “Ele é tímido, ele é uma daquelas crianças que têm medo de tudo”. “Eu estou sempre levando-o ao médico, quando não é dor de estômago, é alergia na pele”.

Esses tipos de comentários são comuns em pais de crianças com transtornos internalizantes. Em geral, não é fácil ver que o que está por trás desse comportamento é, na verdade, um problema psicológico. Esse problema surge principalmente quando a criança que não recebeu cuidados na infância chega à adolescência.

Todos nós sabemos como a adolescência pode ser difícil. Essa fase é repleta de mudanças, o que torna os indivíduos mais vulneráveis, e essa vulnerabilidade faz com que esse transtorno se manifeste. É quando a automutilação e até mesmo a ideação suicida podem aparecer. Uma pesquisa realizada na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, destaca a relevância do desenvolvimento precoce de programas de tratamento e prevenção de transtornos internalizantes.

Além disso, os autores desse estudo observaram que as crianças com distúrbios psicológicos não detectados têm uma maior probabilidade de sofrer de problemas acadêmicos e exclusão social. No entanto, o problema mais sério é o risco de suicídio. De acordo com dados da OMS, o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos.

O que são os transtornos internalizantes?

De acordo Achenbach, Edelbrock e Howell (1987), os transtornos mentais que afetam as crianças podem ser divididos em duas tipologias. São elas os comportamentos externalizantes (agressividade, problemas de comportamento, desobediência e desatenção, entre outros) e os comportamentos internalizantes, que se referem a manifestações relacionadas à somatização por ansiedade, estresse ou depressão.

Os transtornos internalizantes são muito comuns na infância e se manifestam da seguinte forma:

Sintomas emocionais

  • Medo excessivo (escuro, animais, novas situações).
  • Tristeza e atitude apática.
  • Sentimentos de inferioridade.
  • Problemas de concentração.
  • Negatividade ou sempre sentir que algo ruim vai acontecer.

Sintomas comportamentais

  • Apego excessivo e dependência de adultos.
  • Falta de motivação.
  • Nada atrai o interesse da criança ou do adolescente. Eles vão de um hobby para outro sem se apaixonar por nenhum.
  • Comportamento retraído.
  • Tendência de sentar-se ou deitar-se o dia todo.
  • Problemas acadêmicos e baixo desempenho.

Manifestações somáticas

  • Dor de estômago sem causa aparente.
  • Dores de cabeça constantes e tonturas sem um gatilho claro.
  • Surgimento de alergias, principalmente cutâneas.
Menino triste diante de janela

Qual é a origem dos transtornos internalizantes?

O que está por trás dessa sintomatologia internalizante são transtornos de ansiedade e depressão. Essas realidades tendem a passar despercebidas na infância e na juventude por dois motivos. Em primeiro lugar, os adultos tendem a atribuí-las à personalidade e à idade da criança. Pense nisso. É muito comum pensar nos pré-adolescentes como mais passivos e introvertidos, enquanto normalmente se pensa nos adolescentes como rebeldes e imprudentes.

Por outro lado, é importante considerar o aspecto familiar. Muitas das crianças com esse tipo de transtorno vêm de ambientes problemáticos, ou seja, lares com pais com estratégias parentais inadequadas que negligenciaram o aspecto emocional de seus filhos. Como consequência, eles são incapazes de detectar o problema em seus filhos, o que faz com que o ambiente escolar seja o único cenário capaz de intuir a realidade pela qual essas crianças estão passando.

Portanto, os gatilhos dessas condições psicológicas costumam ser bastante complexos. É verdade que o gatilho pode ser a negligência, o abuso e os maus-tratos. No entanto, também existem fatores estressantes (mudança de escola, separação dos pais), variáveis ​​de personalidade e até fatores genéticos.

Abordagem terapêutica

A terapia sistêmica é a abordagem terapêutica usual no tratamento de transtornos internalizantes em crianças. O profissional de saúde mental não deve se concentrar apenas na dimensão emocional das crianças, mas também em seu ambiente familiar. Da mesma forma, em todos os casos, o terapeuta deve oferecer estratégias às crianças e aos adolescentes que os ajudem a compreender suas próprias emoções e conhecer as reações do seu corpo à ansiedade, por exemplo.

Aprimorar suas habilidades sociais e sua assertividade permitirá que tenham uma maior autoestima e, por sua vez, ajam com mais segurança e tranquilidade. Sem dúvida, detectar precocemente os sintomas dessas realidades clínicas deve ser uma prioridade em nossa sociedade.


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