Tudo tem uma saída: com um sorriso ou com um bater de porta sem olhar para trás

Tudo tem uma saída: com um sorriso ou com um bater de porta sem olhar para trás
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 novembro, 2022

Na maior parte da vezes nós não temos um colete salva-vidas para cada naufrágio, nem um paraquedas para cada salto que damos em direção ao vazio. No entanto, tudo tem uma saída, por vezes com um sorriso, outras vezes com um forte bater de portas sem olharmos para trás. Porque embora não tenhamos uma pomada para cicatrizar cada ferida ou uma bússola para nos indicar o melhor caminho, mais cedo ou mais tarde vai acontecer: iremos seguir em frente com a cabeça erguida.

Esta forma de pensar pode soar como uma premissa da psicologia positiva. Uma daquelas que defendem o lema de que “se você quer, você pode”, acompanhado com uma carinha amarela sorridente. Mas de fato temos que destacar que esta visão é muito mais do que um simples lema sem sentido. Na verdade, podemos reconhecer uma evolução desde que Martin Seligman estruturou as suas bases teóricas e científicas em meados dos anos 90.

A psicologia positiva atual vive uma segunda onda que valoriza um aspeto-chave: a capacidade de nos transformarmos. Para isso, temos que entender o quão complexas são as experiências emocionais, onde nem sempre é fácil separar o positivo do negativo. Para sobreviver, para superar qualquer adversidade, é preciso saber conviver com esse turbilhão de sentimentos, que várias vezes são desafiantes, mas que também são complementares e integrantes de um equilíbrio que se autorregula de forma eficaz.

“Enfrentar, enfrentar sempre… essa é a única maneira de superar os problemas!”

Pessoa observando avião

Tudo tem uma saída, mas onde ela está?

Pode ser que o seu problema se resolva se você viajar de avião: indo para longe, mudando de ares, de lugares, de pele, de ambientes conhecidos. Mas pode não ser isso, talvez você precise dizer em voz alta aquilo que guarda dentro de si há tanto tempo. Se expressar de forma clara e encerrar essa fase da sua vida com um sorriso ou com um fechar de portas. No entanto, pode ser que você já tenha aquilo de que precisa e só lhe falte perceber isso.

Seja qual for sua situação pessoal, seu buraco negro ou dificuldade, você só precisa saber de uma coisa. Tudo tem uma saída, desde que você foque na sua própria “saída” e não no labirinto do problema. Porque, acredite ou não, isso é algo que a maioria de nós fazemos. Assim, quando a adversidade nos visita e nos prende em sua trama de imprevistos e injustiças, muitas vezes nos concentramos apenas no que dói, no que nos deixa indignados, no que ameaça… Nós ficamos cara a cara com medo, mas nunca olhamos por cima dele.

Todo problema tem uma fronteira, e atravessá-la nos permitirá respirar, afastar essa sensação de sufocamento. E então, vislumbrar um plano de fuga. Mas nós fazemos isso? A verdade é que muitas vezes não, e pagamos caro por isso repetidamente. Porque a adversidade paralisa e não estamos acostumados a lidar com emoções negativas. Nós não as toleramos. A psicologia positiva, naquela segunda onda que vive hoje, enfatiza a importância de não esgotar nossos recursos ao colocá-los numa cápsula. Se conseguirmos aceitar emoções negativas em vez de lutar contra elas, seguiremos em frente.

Pessoa observando o pôr do sol

Lições sobre a adversidade

Nos últimos anos, não é apenas a psicologia positiva que está experimentando um avanço interessante. Cada vez mais temos à nossa disposição trabalhos e artigos focados no que se conhece como psicologia do crescimento pós-traumático. Esta corrente defende que, embora haja uma saída para tudo, não saíremos deste túnel sendo os mesmos. Todo processo implica uma mudança, e toda mudança significa perdas e incorporações, em suma, transformações.

As lições sobre a adversidade nos dizem que podemos perder um pouco da nossa inocência. Da nossa capacidade de confiança, da nossa espontaneidade do passado… Nós nos desprenderemos de certas coisas nesse processo de partida e ficaremos com feridas, não há dúvida. No entanto, como diz o poeta e arquiteto Joan Margarit, uma ferida também é um lugar para se viver. Isso porque uma força criativa inigualável emerge de nós, encontramos recursos que não sabíamos que tínhamos e também criamos uma visão mais satisfatória de nós mesmos.

Plantas crescendo em rachadura na parede

Tudo tem uma saída se traçarmos um plano de escape. Tudo tem uma saída se tomarmos consciência de que já não voltaremos a ser os mesmos: seremos mais fortes. Entender isso, fazer destes os nossos princípios nos ajudará, sem dúvida, nesta viagem de vida em que primeiro devemos compreender que ninguém é alheio nem imune à adversidade. E, segundo, que todos temos o potencial para colocar em funcionamento o que se conhece como crescimento pós-traumático.

O próprio Martin Seligman nos recorda isso em seu trabalho sobre o 11 de setembro. Algo que pude ver em uma boa parte das pessoas que haviam sobrevivido ao ataque terrorista era sua capacidade de resiliência. Muitas vezes os acontecimentos mais duros podem agir como agentes catalisadores para as mudanças mais positivas. Eles nos dão um olhar mais humilde, maior temperança, resistência psicológica, aceitação da nossa própria vulnerabilidade e uma filosofia de vida mais integral e valiosa.

Para concluir, a força de uma pessoa não está na capacidade que ela tem de resistir a certas coisas. Nossa força está em nossa vontade indomável de nos transformarmos, de nos reconstruirmos de novo e de novo.


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