Turismofobia ou síndrome de Veneza: características e consequências

Devido à superlotação dos destinos turísticos, os habitantes locais desenvolvem uma aversão (turismofobia) aos visitantes. Neste artigo, explicaremos esse fenômeno.
Turismofobia ou síndrome de Veneza: características e consequências
María Prieto

Escrito e verificado por a psicóloga María Prieto.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O termo turismofobia se refere ao medo, aversão ou rejeição social que os cidadãos locais sentem em relação aos turistas que visitam a sua cidade. No entanto, não há base empírica na literatura psicológica que dê suporte a esse tipo de fobia de turistas, como afirma o psicólogo Sergio García Soriano.

Embora não exista uma fobia propriamente dita, isso não quer dizer que não haja uma reação negativa por parte dos moradores de um local à chegada massiva de turistas, especialmente se apresentarem comportamentos excessivos e participarem de escândalos públicos. No entanto, é verdade que nem todos os turistas são assim.

As manifestações de turismofobia não incidem no turismo em si, mas sim nos abusos que esta atividade acarreta, porque esta – como qualquer outra atividade – envolve custos, e negá-los é rejeitar as evidências. Por exemplo, na última pesquisa publicada sobre o efeito do turismo na população de Veneza, verificou-se que o impacto do turismo se tornou a principal causa de preocupação para os seus habitantes.

Turismofobia é um medo ou rejeição social dos turistas por parte dos cidadãos de uma localidade.

Algumas das consequências de viver em cidades repletas de turistas são as seguintes:

  • Não poder dormir bem à noite.
  • Pagar quantias exorbitantes por um aluguel.
  • Ver como o artesanato local está dando lugar à fabricação em massa.

Assim, cada vez menos residentes continuam a viver na cidade, e os que continuam ali ficam porque o turismo é o seu sustento. De fato, Orozo Alvarado e Quintero Santos (2008) argumentam que em alguns destinos existe um processo de colonização por meio do turismo que pode causar diversos impactos socioculturais. Vejamos mais a fundo.

“Todas as viagens têm as suas vantagens. Se o turista visitar países que estão em melhores condições, poderá aprender a melhorar o seu. E se a sorte o levar a lugares piores, talvez ele aprenda a aproveitar o que tem em casa”.
– Samuel Johnson –

Turistas caminhando

Por que a turismofobia ocorre apenas em alguns destinos?

Existem destinos, como as Ilhas Canárias, a República Dominicana ou o Peru que, apesar do grande volume de turistas que hospedam, não vivenciaram esse fenômeno.

Talvez seja porque os seus designs estão centrados no turismo e os cidadãos locais estão ligados a esta dimensão do seu país; seja como for, o turismo não teve uma entrada negativa em suas cidades.

Rebelião contra os turistas

É cada vez mais comum ouvir notícias de como algumas cidades se rebelam contra a chegada maciça de turistas.

Barcelona, ​​Roma, Palma de Maiorca, Veneza, Berlim, Toronto, Nova Orleans e algumas cidades asiáticas têm se feito ouvir nas redes sociais para explicar a sua insatisfação com a ocupação de seus locais de residência.

O turismo é uma indústria milionária. No entanto, a superlotação de turistas pode atrair problemas de convivência, causar o aumento dos preços das moradias e destruir o aglomerado empresarial local.

Mudanças na cultura local

O artesanato produzido nos diversos locais pode se transformar em um produto de baixo custo, sendo fabricado em série para vender mais competitivamente aos turistas. As raízes do patrimônio e da tradição cultural se perdem.

Para satisfazer o turismo de massa, são produzidos produtos de imitação comercializados a preços baixos, nos quais o artesão não intervém. Desta forma, as grandes fábricas asiáticas se encarregam e se beneficiam da sua fabricação.

Ações de moradores

Grafites reivindicativos, manifestações de moradores e protestos nas redes sociais tentam mostrar que a questão da superlotação de turistas é um problema de todos.

Pretende-se também divulgar a importância de tomar consciência de que bairros e cidades estão ficando vazios diante dos alojamentos turísticos, apartamentos de férias e hotéis low cost.

Enquanto algumas empresas prosperam, outras são obrigadas a fechar as portas: hospedar turistas tornou-se uma faca de dois gumes.

Cada vez mais proprietários estão transformando os seus imóveis em apartamentos turísticos para obter uma maior rentabilidade. A realidade é que o que o inquilino pode pagar por um mês de aluguel, o turista paga por uma semana de estadia.

Encontrar uma casa é uma missão impossível

Encontrar uma casa, seja para comprar ou alugar, tornou-se uma tarefa difícil quando a área em questão está lotada de turistas.

Esta é uma circunstância que está provocando a transformação dos centros históricos das principais cidades. De fato, se passearmos pelos principais pontos turísticos, rapidamente descobriremos que as lojas do dia a dia fecharam para dar lugar a outras destinadas ao turismo.

Impacto ambiental

Alguns dos impactos ambientais mais negativos que devem ser enfrentados se quisermos impedir a deterioração desses destinos atrativos são:

  • A saturação da infraestrutura e dos serviços públicos para acomodar o crescimento urbano indiscriminado.
  • Uma arquitetura incapaz de se integrar à paisagem.
  • Poluição sonora, atmosférica e residual.

“Nosso destino nunca é um lugar, mas uma nova maneira de ver as coisas”.
– Henry Miller –

Pintura em preto e branco

Turismofobia versus cotas de turismo

O turismo é o principal meio de vida em muitas cidades e capitais do mundo. Por isso, para que essas cidades atendam às suas necessidades econômicas, é inevitável a chegada de milhões de turistas, deixando o seu dinheiro em bares, lojas, museus, alojamentos e transportes.

O importante é estar ciente de que nem tudo vale a pena. Por este motivo, a regulamentação de cotas turísticas não é exagerada e é necessário estabelecer um teto máximo para as vagas dos visitantes.

Isso não significa destruir o turismo, mas sim melhorar a convivência, acabar com a especulação no aluguel de moradias e promover um modelo responsável, sustentável e equilibrado.

Se conseguirmos concretizar esta premissa a médio prazo, poderemos continuar a desfrutar dos nossos destinos tão sonhados!

Pode interessar a você...
Síndrome de wanderlust, a obsessão por viajar
A mente é maravilhosa
Leia em A mente é maravilhosa
Síndrome de wanderlust, a obsessão por viajar

A síndrome de wanderlust é um termo que se refere à obsessão que algumas pessoas sentem por viajar, uma "necessidade" fora do comum de conhecer nov...


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Abril-Sellaré, M., Azpelicueta, M. C., & Sánchez-Fernández, M. D. (2015). Turismo sostenible: lugareños frente a turistas. El caso de la ciudad de Barcelona. Revista Holos, año 31, vol. 3, 331-337. DOI: https://doi.org/10.15628/holos.2015.2809.
  • Álvarez Sousa, A. (2011). Sociología del turismo. Madrid: Centro de Estudios Financieros.
  • Gordon, B. M. (2002). El turismo de masas: un concepto problemático en la Historia del siglo XX. Historia Contemporánea, 25, 125-156. Disponible en http://www.ehu.es/ojs/index.php/HC/article/view/5928

Os conteúdos de A Mente É Maravilhosa servem apenas para fins informativos e educacionais. Não substituem o diagnóstico, o aconselhamento ou o tratamento de um profissional. Em caso de dúvida, é recomendável consultar um especialista de confiança.