Vício em exercícios: a atividade física como uma obsessão doentia

O exercício físico pode se tornar um vício prejudicial à saúde e uma prática para escapar de outros problemas.
Vício em exercícios: a atividade física como uma obsessão doentia

Última atualização: 09 novembro, 2021

É possível ficar viciado em exercícios físicos? Tudo parece indicar que sim. Quando o exercício se torna o centro da vida de uma pessoa e ela perde o controle sobre outras áreas de sua vida porque “precisa” fazer atividade física para se sentir bem, o vício em exercícios pode estar presente.

Nesses casos, o exercício costuma ser usado como uma “saída” para outros problemas. Assim, algumas pessoas acabam recorrendo a ele como uma forma de se regularem emocionalmente. Em outros, o exercício físico é feito por necessidade de estímulo constante, insegurança ou outros motivos.

O vício em exercícios físicos pode acabar levando à vigorexia, um distúrbio psicológico que envolve uma distorção da imagem corporal.

A seguir, veremos em que consiste esse tipo de vício, quais são seus principais sintomas, causas e consequências.

O que é o vício em exercícios?

O vício em exercícios físicos é um vício comportamental voltado para a prática de atividade física. David González-Cutre, pesquisador da Faculdade de Atividade Física e Ciências do Esporte da Universidade de Elche, explica que o vício em exercício físico é relativamente recente. Portanto, ainda há poucos dados a respeito.

Segundo González, em decorrência desse “novo” transtorno, aumentaram as lesões derivadas dessa prática que chegam ao atendimento básico de saúde. O pesquisador ressalta que o vício em exercício físico pode ser primário, quando é o exercício que gera o vício em si, ou secundário, quando deriva de outro transtorno (por exemplo, um transtorno alimentar).

Por sua vez, é pertinente esclarecer que esse transtorno não é considerado uma condição diagnóstica no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), embora sua inclusão futura esteja em estudo.

Mulher correndo ao ar livre

Liberação de endorfinas

Durante a prática de exercícios, grandes quantidades de endorfinas são liberadas. Isso nos dá vontade de repetir a ação, pois elas geram bem-estar e satisfação.

Fazer exercícios não é ruim, pelo contrário, é muito saudável! Porém, quando nos viciamos, isso pode acabar causando desconforto e, portanto, ser prejudicial para nós.

“Tornar-se viciado em algo ou alguém implica perder o controle sobre a situação, e sentir que precisamos dela para viver ou simplesmente para estar bem, mas isso não é real.”

Sintomas do vício em exercícios

Quando uma pessoa se torna viciada em exercícios físicos, ela apresenta uma série de sintomas ou comportamentos, como a adoção de um estilo de vida muito específico, com esportes e treinos de exercícios muito específicos (e muitas vezes também dietas). Esses treinos costumam ser obsessivos e exagerados, e a pessoa se sente mal se não seguir seu “plano estabelecido”.

Às vezes a isso se soma o consumo descontrolado de proteínas e carboidratos (principalmente nos casos de vigorexia), e até mesmo esteróides (substâncias que estimulam o crescimento musculoesquelético e o desenvolvimento dos traços sexuais masculinos).

Dito isso, vemos que o vício em exercícios é acompanhado pela obsessão por uma alimentação saudável ou por seguir dietas para ganhar ou perder massa muscular (conforme o caso). No caso da vigorexia, insistimos, a obsessão é ganhar massa muscular.

Causas do vício em exercícios

Por que ficamos viciados em fazer exercícios? As causas podem ser variadas:

  • Necessidade de se “desconectar” de algum problema (como “rota de fuga”).
  • Busca por sensações para “cobrir” alguma outra dificuldade.
  • Obsessão pela aparência física.
  • Insegurança.
  • Necessidade de estimulação constante (por meio das endorfinas geradas pela atividade física).

Em relação a este último, sabemos que a prática de exercícios físicos estimula a liberação de endorfinas, substâncias relacionadas aos processos de prazer e satisfação. Ao fazer muito exercício, o corpo pode acabar “se acostumando” com essas sensações e, portanto, com o tempo, acaba “precisando” delas.

Além disso, quando as endorfinas são liberadas, uma resposta analgésica é produzida, o que acalma sensações desagradáveis e aumenta o bem-estar. É por isso que os comportamentos em que as endorfinas são liberadas têm maior probabilidade de gerar dependência, como seria o caso dos exercícios.

Outras explicações: reforço positivo e ativação

Outra hipótese para explicar a dependência dos exercícios físicos é a que tem a ver com a ativação do sistema nervoso simpático. De acordo com essa hipótese, as pessoas que praticam exercícios físicos tendem a aumentar o nível para atingir um estado completo de ativação.

Outra possível explicação está relacionada ao aumento da temperatura corporal durante a prática de exercícios. Nesse caso, é gerado um estado de relaxamento e diminuição da ansiedade e do estresse. Com o tempo, você deseja sentir essas sensações de bem-estar novamente, então, a longo prazo, elas se tornam um fator que mantém o apego aos exercícios.

E a vigorexia?

O vício em exercícios pode levar (embora nem sempre) à vigorexia (também conhecida como dismorfia muscular ou complexo de Adônis). Esse transtorno é caracterizado por uma obsessão doentia em ganhar massa muscular e pela percepção de uma imagem distorcida do corpo.

No entanto, é importante diferenciar o vício em exercícios da vigorexia. Embora muitas vezes estejam relacionados, eles não são exatamente a mesma coisa. A vigorexia é um distúrbio bastante comum entre os fisiculturistas, e esses conceitos são frequentemente usados alternadamente.

Homem consumindo substâncias anabolizantes

Quando devemos buscar ajuda profissional?

É necessário buscar ajuda profissional quando a prática de exercícios físicos estiver interferindo no dia a dia e você vivenciar a sensação de não ter o controle, principalmente quando há uma grande necessidade de se exercitar para estar bem e, se a atividade não for feita, você sentir um grande desconforto e seu humor ficar prejudicado.

Cada pessoa terá que decidir quando e como pedir ajuda. O importante é ouvir o que o corpo e a mente estão dizendo, ou seja, quais sensações estão sendo vividas.

“A felicidade reside, antes de mais nada, na saúde”.
-Anônimo-


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  • Barbero, J.I. (1988). La cultura de consumo, el cuerpo y la educación física. Revista Educación Física y Deporte, 20(1).
  • Gadea, S. (2006). La adicción al ejercicio se convierte en enfermedad que combina problemas psicológicos. Director técnico de medicina deportiva y cultura física del IMSS.

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