A importância dos vieses no sofrimento psicológico
O que é viés? É a tendência do cérebro a dar maior relevância e processar um certo tipo de informação em detrimento de outra. Pode parecer algo complicado de entender, eu sei. Por isso, neste artigo irei explicar de forma agradável e concreta como os vieses influenciam as nossas emoções.
Assim, vamos ver as diferenças entre os vieses normais e os negativos. Estes últimos vão fazer com que o desconforto que sentimos seja maior. Dessa forma, para evitar seus efeitos indesejáveis, é imprescindível que saibamos como eles surgem e de que forma atuam nos nossos processos de pensamento.
O que são os vieses cognitivos?
Todos os dias nos deparamos com uma quantidade considerável de informação, que procede tanto do exterior como do nosso interior. Se nosso cérebro tivesse que processar toda essa informação, não haveria tempo para mais nada. Desta forma, ele não poderia cumprir o restante das funções sobre as quais tem competência e responsabilidade.
É por isso que a nossa mente pega alguns “atalhos” na hora de interpretar a informação que recebemos. São os vieses cognitivos. Assim, todos nós apresentamos uma certa tendência para atender, interpretar e recordarcertas informações em detrimento de outras. A partir disso, temos três tipos de viés:
- Atencional: é a tendência para atender a um tipo de estímulo em comparação a outros quando eles se apresentam ao mesmo tempo.
- Interpretativo: é a tendência para interpretar as situações de uma determinada maneira.
- De memória: é a tendência para recordar certos eventos para interpretar a situação atual.
O viés atencional
A priori, apresentar vieses é normal, necessário e benéfico, já que nos poupa uma quantidade considerável de recursos mentais. Como já foi comentado, eles poupam tempo e energia ao nosso cérebro no processamento da informação e permitem que este foque no restante das tarefas que deve realizar.
Então, quando é que eles se tornam prejudiciais para nós? Em relação ao viés atencional, isso ocorre quando está relacionado a estímulos negativos. Ou seja, quando uma pessoa se fixa mais na informação que possa ser ameaçadora ou prejudicial em detrimento da neutra ou benéfica.
Por exemplo, uma pessoa teria um viés atencional negativo se ela se concentrasse no ouvinte que está com a cara fechada, quando há outro que está prestando atenção, numa situação em que ela está falando em público. Um exemplo de uma pessoa que apresenta viés atencional que não vai prejudicá-la seria ela se concentrar em outros aspectos, como no fato de haver alguém com o mesmo computador que ela em meio aos ouvintes.
Diante dessa situação, a pessoa com um viés negativo vai ficar com a sensação de que as pessoas faziam expressões de estranheza enquanto ela falava, desencadeando um processo de pensamento que resulta em uma série de emoções negativas. Por outro lado, este viés emocional negativo pode ser uma consequência natural do viés de confirmação: um viés mediante o qual buscamos ativamente informações que confirmem a nossa tese anterior.
Neste caso, a pessoa pode ter buscado confirmar que não tem aptidões para falar em púbico e, portanto, prestou especial atenção à informação que estava em sintonia com sua tese. Por outro lado, ela ignorou a informação contrária ou a desconectou de sua aptidão. A pessoa pode pensar que quem aplaudiu fez isso mais por cortesia do que por uma reação sincera à apresentação. Este é precisamente o viés interpretativo, sobre o qual falaremos a seguir.
E o viés interpretativo?
Ocorre algo semelhante com os outros dois tipos de vieses que definimos. O interpretativo é prejudicial quando avaliamos as situações como perigosas ou ameaçadores, mesmo que na realidade sejam neutras ou ambíguas.
Um exemplo disso pode ser derivado do que colocamos anteriormente. Uma pessoa com um viés normal não tem motivo para pensar que os ouvintes não gostaram do seu discurso. Ela pode acreditar que eles simplesmente têm alguma dúvida. No entanto, alguém que apresenta esse viés negativo interpretaria isso como sendo um mau orador, que o tema que está expondo não é de interesse dos ouvintes, que eles pensam que ele é ridículo, etc.
Como o viés de memória funciona?
Por último, o viés de memória nos faz mal quando tendemos a recordar situações negativas passadas para interpretar as atuais, ao invés de recuperar da memória outras que sejam neutras ou positivas.
Em relação ao exemplo que estamos desenvolvendo para explicar os vieses, uma pessoa que se lembra que fez uma apresentação desastrosa há alguns anos e que avalie o momento atual em função daquele evento vai pensar que a apresentação atual também vai correr mal.
Em contraste, uma pessoa que também passou por uma situação semelhante em que teve uma má apresentação, mas que se lembre de outras que correram bem, não fará uma apresentação invadida pelas emoções negativas que nasceram nela se recordar somente a apresentação desastrosa.
São vários os estudos que provam a presença de vieses cognitivos negativos em relação a inúmeros transtornos psicológicos. Também existem diversos estudos que falam de pessoas sem nenhum transtorno, mas para as quais os vieses são uma enorme fonte de emoções negativas. Finalmente, todos nós já caímos alguma vez em suas redes ao longo das nossas vidas.
Desta forma, é interessante saber como eles funcionam, assim como trabalhar para melhorá-los de forma que seu poder seja reduzido. Assim, esperamos que este artigo lhe seja útil na hora de identificá-los e de realizar uma intervenção rápida para que eles condicionem o mínimo possível os seus pensamentos e emoções.
Imagens cortesia de Ryan McGuire.