O ciclo da violência nos relacionamentos amorosos

Como a violência se desenvolve nos relacionamentos amorosos? O que podemos fazer para enfrentá-la? Neste artigo, vamos explorar as principais etapas, identificando os fatores que fazem com que a violência perdure no tempo.
O ciclo da violência nos relacionamentos amorosos

Última atualização: 11 fevereiro, 2021

A violência nos relacionamentos amorosos pode se expressar de diferentes formas. Desde a violência física até a verbal e sexual, o casal pode entrar em um ciclo de violência no qual a integridade de um dos membros pode ser prejudicada, afetando sua saúde física e mental.

Os relacionamentos amorosos não costumam começar em um contexto de violência. Normalmente, a violência nos relacionamentos costuma ser um processo escalonado no tempo. Assim, vai sendo instaurado um padrão de relação não equitativa, na qual um dos membros costuma agir de forma mais submissa (violentado/vítima), enquanto o outro age de forma mais coercitiva (violento/agressor).

Casal gritando

Características da violência nos relacionamentos amorosos

A violência nos relacionamentos amorosos está muito associada à desigualdade social. Normalmente, as vítimas costumam ser as mulheres, sendo uma relação não igualitária. A violência nas relações pode acontecer de diferentes formas, indo desde a violência física e verbal, até a violência sexual.

A violência sexual é uma das formas nas quais as vítimas podem se sentir desamparadas. Isso acontece porque, geralmente, a sociedade ainda mantém a crença de que as relações sexuais no contexto do casal são sempre consentidas.

Os comportamentos controladores e dominantes são outra das formas de violência nos relacionamentos amorosos. Podem ocorrer vários exemplos: isolar a pessoa de seus familiares diretos, vigiar seus momentos, quem a visita, seus horários, restrição de recursos financeiros, etc.

A escalada da violência

Na maioria dos casos, a violência está latente no início da relação, mas não se manifesta. Em outras palavras, a violência pode estar presente desde o começo, mas de uma forma diferente: é como ver um iceberg apenas pela superfície, sem contar com a totalidade da sua massa.

O ciclo da violência costuma ser composto por 3 fases que geralmente não são iguais em intensidade e duração. Estas fases são as seguintes:

  • Tensão: incidentes mínimos na relação que vão aumentando a tensão para a escalada a um ciclo de violência;
  • Agressão: com maior ou menor intensidade, após o acúmulo de certa tensão, costuma acontecer a agressão do(a) parceiro(a);
  • Lua de mel: nesta fase, a pessoa responsável por ter exercido a agressão em suas distintas formas costuma se arrepender, demonstrando afeto pelo(a) parceiro(a), prometendo que não fará mais isso.

Após esta última etapa, costuma acontecer novamente um período de tensão, no qual novamente acontecerá a agressão para posteriormente surgir o arrependimento. O problema é que a vítima da violência costuma perdoar o parceiro na terceira etapa, seja retirando suas denúncias ou dando uma segunda chance para o relacionamento.

O período de lua de mel costuma ficar mais curto a cada ciclo, em alguns casos acontecendo apenas as etapas de tensão e agressão. Assim, o carinho dado pelo agressor é contemplado como uma fonte de reforço muito gratificante, por isso é tão difícil escapar da relação.

Fatores de risco para o desenvolvimento de comportamentos violentos nos relacionamentos amorosos

A violência é o resultado de vários fatores que operam em quatro níveis: individual, relacional, comunitário e social. Portanto, o risco para o desenvolvimento de comportamentos violentos na relação é algo difícil de generalizar devido a fatores culturais e sociais.

No entanto, alguns dos fatores de risco que podem ser generalizados para todos os tipos de de população podem ser os seguintes:

  • Baixo nível socioeconômico e acadêmico;
  • Juventude;
  • Histórico familiar de maus-tratos;
  • Abuso sexual na infância;
  • Consumo de álcool e outras drogas;
  • Normas sociais de gênero não equitativas;
  • Medidas jurídicas leves relacionadas à violência de gênero;
  • Transtornos de personalidade (especialmente transtorno de personalidade dependente nas mulheres).

Efeitos da violência nos relacionamentos sobre os filhos

A violência nos relacionamentos pode ser ainda mais grave se o casal tiver filhos. Os filhos pequenos podem apresentar múltiplos problemas relacionados aos transtornos de humor, tais como os transtornos de ansiedade, transtornos de estresse pós-traumático ou depressão.

Isso não se reduz apenas à esfera emocional e afetiva da criança. A presença de baixo rendimento escolar e problemas de saúde física também coexistem com a observação da violência no relacionamento.

Além disso, as crianças que crescem neste contexto são mais propensas a exercer violência contra seus parceiros na idade adulta, embora a existência cada vez mais precoce da violência nos relacionamentos durante a adolescência também seja de grande interesse.

Casal brigando diante da filha

Como prevenir a violência nos relacionamentos?

Ampliar a base de conscientização na sociedade, além do conhecimento das diferentes formas nas quais a violência costuma aparecer, pode ser o segredo para a sua redução. De forma geral, as estratégias que podem ser realizadas para a prevenção e diminuição da violência podem se resumir às seguintes:

  • Campanhas de difusão e sensibilização para crianças e adolescentes sobre as diferentes formas de violência que podem acontecer em um relacionamento;
  • Campanhas de empoderamento para as meninas e adolescentes;
  • Criação de programas escolares que acompanhem e interrompam formas de violência nos lares;
  • Material didático nas escolas sobre a violência nos relacionamentos, etc.

A prevenção da violência dá uma especial importância ao ambiente familiar e social. Programas que educam sobre questões de gênero são igualmente importantes para evitar que as crianças aceitem as formas de violência como algo normal.

De toda forma, o trabalho de prevenção mais importante nesse sentido sempre parte da educação, de que todas as pessoas conheçam formas de negociação e comunicação efetivas que descartem a violência como uma alternativa de atuação.


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