Viver para os demais sem deixar de pensar em si mesmo

Viver para os demais sem deixar de pensar em si mesmo

Última atualização: 24 julho, 2016

Você costuma pensar em si mesmo? Se quiséssemos contabilizar os pensamentos que passam por nossa cabeça ao longo de um dia, seria complicado fazê-lo. É lógico pensar que entre os 70 mil pensamentos diários, a maior proporção, a parte vencedora, vai para nossas necessidades.

Nossas próprias alegrias, nossos próprios gostos, nossos próprios problemas (não os esqueçamos). Ou seja, pensamos mais em nós do que em qualquer outra coisa. Teoricamente seria lógico imaginar isso.

Depois, possivelmente uma importante parcela de pensamentos se dirige às pessoas que amamos. Parceiro, família, filhos, amigos. Tarefas pendentes com eles, conflitos e lembranças exclusivas para cada pessoa.

E é claro que ainda sobra uma “pequena parcela” para pensarmos em temas inúteis, mundanos e cotidianos como “este programa de televisão está chato”. Coisas cotidianas…

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Quando dedicamos mais tempo aos demais do que a nós mesmos

Foi comprovado que o tempo que nossa mente dedica ao resto do mundo muitas vezes é excessivo em relação ao tempo do qual poderíamos precisar para nós.

Digamos que às vezes nosso cérebro, nossa mente e nossa vontade ficam sem espaço, sendo este ocupado por coisas que são alheias a nós e que inclusive podem escapar do nosso controle.

“Será que ele não gostou do que eu disse?” “É minha culpa, eu deveria ter agido de outra forma,” ou a melhor, “Acho que sou muito egoísta…”

Frases negativas que nos fazem sentir mal ao nos fazerem “ver” que fizemos algo errado, ou pelo menos não suficientemente certo para outra pessoa. Pensamentos não dedicados a nós mesmos, em nossa defesa, e sim aos demais.

É incrível a capacidade que os seres humanos têm de enunciar na mente frases como as mencionadas, as quais têm a sua repercussão a nível emocional.

Pensar nos demais em excesso tem repercussões emocionais.

Poderíamos acreditar que pensar desta forma é inevitável. Há milhões de argumentos que validam que nos sintamos assim. Mas, quantos existem para nos defender?

As mensagens educativas da nossa infância

A realidade é que ao longo de nossas vidas estamos expostos continuamente a mensagens educativas do estilo: “É preciso dividir,” ou “Faça bem aos outros,” ou “Faça todo o possível para que os demais sejam felizes.”

São mensagens educativas porque somos alimentados com elas durante a infância. Parece que desde pequenos precisamos desse tipo de mensagem para criar nossos próprios valores mais adiante. No entanto, estas frases têm várias limitações para a pessoa adulta:

Em primeiro lugar, são ordens. Não são apenas frases, não são sugestões. Por isso, é como se nos obrigassem a sermos de uma determinada maneira.

“Eduque seu filho com sugestões,” alguém poderia pensar. Nós já não somos crianças. Podemos modificar e refletir sobre estas ordens, debatê-las.

Quem decide fazer o “bem” ou não somos nós mesmos. Quem decide dividir ou não os nossos recursos somos nós mesmos.

Em segundo lugar, são ordens dicotômicas. Ou seja, “é preciso dividir” por que se não dividirmos estaremos fazendo algo errado. “Faça todo possível para que os demais sejam felizes,” ou você será um egoísta.

Não nos dão espaço para sermos “um pouco egoístas”. É tudo ou nada. Bom ou mau. Talvez a pergunta seja “onde estão os tons de cinza neste preto e branco absoluto?”

E por último, a subjetividade. Ninguém escreveu nunca o que significa exatamente ser “bom,” “egoísta” ou “altruísta.”

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Onde estão escritas as regras para que possamos nos considerar egoístas? Quantas vezes temos que olhar por nós mesmos e não pelos outros?

Os romanos usavam a palavra egoísmo para explicar a “prática do eu”.

Pensar em você e ser a sua prioridade

No final das contas, cada um tem a sua própria versão dos termos, e todos tentamos nos ver de maneira que sejamos os bons.

Racionalizamos, argumentamos, assumimos o papel de maus, nos castigamos, esperando cumprir penitência por aquele mal enorme que cometemos. E é lógico. Afinal, somos nós mesmos os protagonistas da nossa própria história.

De vez em quando nos vemos presos sem querer a uma lógica que não faz mais do que nos prejudicar. Vamos presenteando tempo, recursos e forças a pessoas que parecem não ter outro fim na vida que não seja nos esmagar.

E não conseguimos parar. Tememos as consequências negativas. Temos medo de nos afastar do suposto caminho que marcaram para nós.

Refletir e racionalizar estes pensamentos, estas mensagens, com sossego e calma, pode ser o exercício de que nossa condição humana mais precisa.

Este pequeno espaço de tempo no qual, após refletir, nos damos conta de que “Talvez não seja tão ruim. Talvez eu precise de tempo para mim. Talvez eu não queira dividir isso com ninguém agora. Talvez eu deva ser egoísta nesta situação.”

Talvez ser egoísta em algumas situações seja algo justificado. Talvez ser egoísta só signifique que amamos a nós mesmos.


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