Para você, que conhece meu nome, mas não a minha história pessoal

Para você, que conhece meu nome, mas não a minha história pessoal

Última atualização: 07 março, 2017

São muitas as pessoas que dizem nos conhecer; no entanto, há quem fale conosco sem nos ouvir, quem olhe para nós sem nos ver, os mesmos que também não hesitam em nos rotular. Neste mundo de julgamentos rápidos não são muitas as mentes pacientes, aquelas capazes de entender que por trás de um rosto existe uma batalha, que por trás de um nome existe uma história.

Daniel Goleman nos explica em seu livro “Inteligência Social” um detalhe que não nos passa despercebido. Assim como muitos outros psicólogos e antropólogos também nos explicaram, o cérebro do ser humano é um órgão social. As relações com nossos semelhantes são essenciais para sobreviver. No entanto, Goleman aponta mais um aspecto: muitas vezes também somos “dolorosamente sociais”.

Essas alterações nem sempre trazem um benefício, um reforço positivo que devemos aprender a integrar. Hoje em dia a nossa maior ameaça predatória é, surpreendentemente, a nossa própria espécie. Uma ameaça que poderíamos comparar com um combustível que arde especialmente nesse mundo emocional; um lugar que muitas vezes é violado, criticado ou posto à prova através de um rótulo que nos objetifica.

Cada um de nós é como navios desbravando oceanos mais ou menos tranquilos ou mais ou menos turbulentos. No nosso interior, e pendentes na âncora desse belo navio, as nossas batalhas pessoais estão penduradas e irão ser travadas. Aquelas com as quais tentamos avançar apesar de tudo, aquelas que às vezes nos deixam encalhados, sem que o resto do mundo saiba muito bem o que está acontecendo conosco, o que nos faz estar parados ou o que nos machuca.

Propomos que você reflita sobre isso.

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A história que ninguém vê, o livro que você leva dentro de si

Colocar um rótulo é, acima de tudo, renunciar à nossa capacidade de percepção ou à oportunidade de descobrir o que há além de uma aparência, de um rosto, de um nome. No entanto, são necessárias três coisas para chegar a esta delicada camada da interação humana: um interesse sincero, proximidade emocional e tempo de qualidade. Dimensões que atualmente parecem ter caducado em muitas almas.

Temos consciência de que muitas das abordagens terapêuticas que são usadas atualmente centram a sua importância nas oportunidades presentes, nesse “aqui e agora” em que o passado não tem por que nos determinar. No entanto, as pessoas, quer queiram quer não, são feitas de histórias, de fragmentos existenciais, de capítulos que dão forma a uma trama passada da qual somos o resultado.

Um passado não determina um destino, sabemos disso, mas dá forma ao herói ou à heroína que somos na atualidade. Assim, esse processo, essa história pessoal à qual temos sobrevivido com tanto orgulho, é algo que nem todos conhecem, e algo que, por sua vez, escolhemos compartilhar apenas com algumas pessoas. Por isso, a única coisa que pedimos no decorrer do nosso dia a dia é respeito mútuo e para não recorrer aos rótulos banais em que as maravilhosas particularidades do ser humano são padronizadas.

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Vamos mudar o foco de atenção

Vamos imaginar por um momento uma pessoa fictícia. Ela se chama Maria, tem 57 anos e faz alguns meses que começou a trabalhar em uma loja. Seus colegas de loja a rotulam como tímida, reservada, chata, alguém que evita olhar nos olhos quando começam uma conversa com ela. São muito poucos os que conhecem a história pessoal de Maria: ela sofreu maus-tratos durante mais de 20 anos. Agora, depois de se separar recentemente de seu marido, ela voltou, depois de muito tempo, ao mercado de trabalho.

Cair no julgamento rápido e no rótulo é fácil. Maria tem plena consciência de como os outros a veem, mas sabe que precisa de tempo, e se tem algo que ela não quer, é que os outros sintam pena dela. Ela não é obrigada a contar sua história, não tem por que fazer isso se não quiser, a única coisa que ela precisa é que as pessoas ao seu redor mudem o foco de atenção.

Em vez de centrar nosso interesse apenas nas carências dos outros, de proceder a uma análise rápida resultando no estereótipo clássico para delimitar o que é diferente de nós mesmos, temos que ser capazes de desligar o julgamento para ativar a empatia. Apenas esta dimensão é a que nos torna “pessoas” e não meros seres humanos vivendo juntos em um mesmo cenário.

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Não podemos esquecer que a empatia tem um objetivo muito concreto no nosso cérebro emocional: entender a realidade do outro para garantir sua sobrevivência. Temos que aprender a ser facilitadores emocionais em vez de meros predadores de energia, devoradores de ânimo ou aniquiladores de autoestima.

Todos enfrentamos batalhas muito íntimas, às vezes descarnadas. Somos muito mais do que diz a nossa carteira de identidade, o nosso currículo ou o histórico acadêmico. Somos feitos de matéria estelar, como disse Carl Sagan uma vez, estamos destinados a brilhar, mas às vezes optamos por apagar a luz uns dos outros. Vamos evitar fazer isso e investir mais no respeito, na sensibilidade e no altruísmo.


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