Você sabia que bocejar resfria o cérebro?

Por que bocejamos? Bocejar influencia a nossa saúde de alguma forma? A neurocientista Raquel Marín tem muito a falar sobre isso.
Você sabia que bocejar resfria o cérebro?

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

Estima-se que realizamos o ato de bocejar cerca de 28 vezes por dia em condições normais. Mesmo que possamos parecer mal-educados, bocejar resfria o cérebro e é importante para a saúde deste órgão.

Dedicamos 4 minutos do nosso tempo diário a essa atividade aparentemente desnecessária e muitas vezes incontrolável. Nós o fazemos ao longo de toda a nossa vida, desde o 5° mês de gestação até os nossos últimos dias.

Por que bocejamos?

Costumamos associar o bocejo ao cansaço ou ao tédio, mas isso não é inteiramente verdade. Na realidade, o feto também boceja, assim como a maioria dos animais vertebrados (peixes, répteis, pássaros e mamíferos).

Embora em muitas culturas bocejar em público seja considerado falta de educação, mesmo as pessoas muito bem educadas inevitavelmente o fazem.

Além disso, o bocejo pode ser tremendamente contagioso. Basta que alguém boceje ao nosso redor para que tenhamos o desejo imperativo de fazer o mesmo.

O bocejo é necessário para a saúde cerebral. Contribui para o correto desenvolvimento do cérebro e sua manutenção ao longo da vida.

Por que bocejamos?

O bocejo do feto contribui para o seu desenvolvimento

O feto boceja desde a 20ª semana de gestação, e a partir deste momento continua bocejando até o parto.

O feto não boceja por tédio ou por cansaço. O bocejo nesta etapa de evolução estimula o desenvolvimento do cérebro em um programa sequencial e ordenado. Muitos estudos indicam que bocejar sinaliza um progresso harmonioso no desenvolvimento do cérebro e dos nervos periféricos que regulam o movimento dos músculos.

O bocejo do feto é tão relevante que sua falta é frequentemente associada a possíveis disfunções neuronais após o nascimento.

Após o nascimento, o cérebro ainda precisa que bocejemos várias vezes ao dia.

Bocejar para manter a atenção

Existe uma crença tradicional de que bocejamos para oxigenar o cérebro. No entanto, esta teoria é infundada, já que respiramos constantemente de dia e de noite, tanto pelo nariz quanto pela boca, independentemente da oxigenação cerebral.

O oxigênio utilizado pelas células cerebrais é transportado principalmente através da rede vascular de 600 km de vasos sanguíneos que coexistem com o cérebro.

Não bocejamos mais quando estamos em apneia prendendo a respiração ou quando estamos em ambientes com menos quantidade de oxigênio.

Algumas hipóteses recentes sugerem que bocejar nos permitiria passar de um circuito neural de atividade espontânea basal para um circuito neural de atenção plena.

Segundo Walusinski (2014), bocejar aumenta a quantidade de líquido no cérebro, permitindo um aumento na atenção e na concentração para executar tarefas que exigem um maior desempenho mental. De alguma forma, bocejar nos ajudaria a mudar de tarefa e manter a atenção plena.

Além disso, outras pesquisas apontam que bocejar resfria o cérebro e ajuda a regular a temperatura deste órgão.

Bocejar resfria o cérebro e evita o seu superaquecimento

Você pode fazer o seguinte teste realizado por pesquisadores americanos da Universidade de Albany. Você precisa estar cercado de pessoas com vontade de bocejar.

Pegue um bloco frio a 4°C e coloque-o na testa, tomando cuidado para não machucar a sua pele. A testa é a área onde existem mais glândulas sudoríparas para dissipar calor.

Se houver pessoas bocejando ao seu redor, é possível que o bloco frio reduza seu desejo de bocejar em até cinco vezes. No entanto, isso não acontece quando você coloca na testa um bloco a 37°C.

Este experimento demonstra que esfriar a testa ajudaria a resfriar o cérebro e a eliminar o bocejo contagioso. Alternativamente, você pode experimentar respirar intensamente pelo nariz para aumentar o resfriamento. Pode ser que também funcione.

Por outro lado, o aumento da ventilação que acompanha o bocejo ajudaria a dissipar parte do calor cerebral. A falta de sono e o cansaço mental após uma alta atividade intelectual também aumentam a temperatura do cérebro.

Portanto, aumenta o desejo de bocejar quando levantamos ou deitamos, ou quando passamos muito tempo trabalhando intensamente em uma tarefa mental. É uma atividade normal e necessária, apesar de ir contra os códigos de boa conduta.

Mulher bocejando no trabalho

Bocejar além da conta está associado a patologias do cérebro

É importante destacar que bocejar em excesso (mais de 3 vezes a cada 15 minutos de maneira contínua) pode ser um sintoma de doenças.

As pessoas que sofrem de infarto cerebral, esclerose múltipla, doença de Parkinson, enxaqueca, tumor cerebral, hipertensão intracraniana, insônia crônica ou epilepsia tendem a bocejar muito mais do que o normal.

No caso do Parkinson, bocejar excessivamente de maneira contínua é considerado um dos sintomas dessa doença.

Você não deve se assustar se um dia bocejar além da conta, já que pode ser simplesmente porque seu cérebro precisa se resfriar devido à fadiga mental. Bocejar é uma prática normal.

Além disso, bocejamos com mais frequência quando ingerimos alguns medicamentos, como antidepressivos, opioides ou ansiolíticos. Até mesmo o excesso de cafeína pode aumentar a frequência do bocejo.

Ficamos felizes se a leitura deste artigo fez você querer bocejar. Isso significa que ele despertou o seu interesse e aumentou a sua atividade mental.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.