WhatsApp nos relacionamentos: a influência das setinhas azuis 

WhatsApp nos relacionamentos: a influência das setinhas azuis 
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

Uma mensagem de “Bom dia, estou com saudade” ou um “Como está o seu dia?” são gestos simples que enriquecem o nosso relacionamento amoroso. Entretanto, a influência do WhatsApp nos relacionamentos e a dependência das setinhas azuis pode nos levar, muitas vezes, a situações extremas, a dinâmicas de controle absoluto, a discussões baseadas em mal-entendidos que podem acabar em términos.

Um estudo recente publicado na revista Computers in Human Behavior revelou um aspecto que demonstra até que ponto estas tecnologias estão mudando os nossos relacionamentos.

Para esse estudo, foi realizada uma pesquisa com norte-americanos com idades entre 18 e 45 anos sobre a importância dos serviços de mensagem em seu dia a dia, e especificamente em seu vínculo com seu parceiro amoroso. O resultado não poderia ser mais contundente: o uso do WhatsApp era a chave para o relacionamento e um termômetro sobre o mesmo.

As mensagens de texto são uma forma de comunicação indispensável para a maioria de nós. Nós fazemos uso deste canal a nível familiar, profissional e, é claro, em nossos relacionamentos afetivos. Este imediatismo na resposta e a proximidade que ele nos dá reforçam as relações que estão (principalmente) na fase da paixão. No entanto, a coisa parece ficar complicada quando fortalecemos este vínculo e chegamos ao estágio de convivência ou consolidação.

O uso do WhatsApp pode enriquecer ou destruir por completo os nossos relacionamentos amorosos. De acordo com especialistas, o uso de smartphones também é um reflexo de como tratamos nossos próprios vínculos afetivos.

Vício em WhatsApp

WhatsApp nos relacionamentos: qual é o seu impacto?

As mensagens de texto são delicadamente íntimas, mas distantes ao mesmo tempo. Reforçam o relacionamento, dão um impulso carinhoso naqueles momentos do dia em que mais precisamos e, além de tudo, enriquecem o vínculo com a pessoa que amamos. Não podemos, portanto, negar sua magia, apagar seu encanto ou criticar sua utilidade, porque isso é real.

No entanto, e aqui vem o inevitável “mas”, algo que os profissionais que trabalham com terapia de casais estão percebendo cada vez mais é que o uso do WhatsApp nos relacionamentos é, muitas vezes, uma faca de dois gumes. 

Muitas das dificuldades, das desavenças e dos problemas são resultado direto do ambiente de hiperconectividade no qual estamos submersos. Os meios digitais têm uma curiosa característica: querendo ou não, são um espelho de como a nossa verdadeira personalidade se reflete. Nossos medos e obsessões são canalizados nas redes sociais, junto com a nossa capacidade de respeitar ou não, e também a nossa maturidade emocional.

Para entender isso melhor, devemos refletir sobre todas as formas por meio das quais o WhatsApp afeta o nosso relacionamento amoroso.

  • Contato constante. Podemos iniciar nosso relacionamento enviando mensagens a cada meia hora. O mais provável é que, em algum momento, seja impossível manter este fluxo de comunicação. No momento em que isso ocorrer, um dos membros do casal pode começar a suspeitar, entrar em pânico e se perguntar se algo não está indo bem.
  • Coloca a nossa resistência à prova. Esta simbiose entre WhatsApp e relacionamento serve para colocar à prova as famosas setinhas azuis. Deixar uma mensagem como lida e não responder desperta suspeitas. Enviar uma mensagem às 18h e, 15 minutos depois, notar que a pessoa ainda não a leu gera frustração e raiva em muitas pessoas.
  • Com quem a pessoa está conversando? Ver que o nosso parceiro está online conversando com alguém que não somos nós envolve situações tão bizarras quanto conflitantes. Há pessoas que deixam de ser produtivas em seu trabalho por estarem a todo instante conectadas aos seus parceiros.
  • O WhatsApp não é um canal feito para uma comunicação efetiva. Por mais que tentemos, este mecanismo costuma trazer mal-entendidos constantes. Isso é algo que não acontece com tanta frequência quando estamos cara a cara, pois podemos decifrar a comunicação não-verbal e emocional básica do nosso parceiro.
  • Comportamentos passivo-agressivos. São muitos os estudos que revelam este fato: o WhatsApp é um canal ideal para evidenciar comportamentos passivo-agressivos para manipular o outro, para ir do assédio à desconexão e gerar, assim, situações dolorosas, pouco assertivas e imaturas.
WhatsApp

As redes s ociais, assim como o uso dos serviços de mensagem, são canais onde ficam refletidas de forma inconsciente as nossas inseguranças. Por isso, geram respostas cognitivas baseadas em ciúmes, suspeitas e em pensamentos obsessivos carregados de desconfiança.

Quando carregamos o nosso amor no bolso

Ter um smartphone ou um computador não nos capacita para fazer bom uso deles, especialmente de aplicativos de mensagem, como é o caso do WhasApp. Não quando seu uso se move por um canal que nem sempre controlamos: o emocional. Carregamos nossos parceiros no bolso. O amor no século XXI é portátil e nem sempre fazemos bom uso dele. 

A culpa, portanto, não está nas novas tecnologias nem nos constantes avanços deste setor. Somos nós, as pessoas, que não avançamos em sintonia com estes fabulosos recursos que, no fim das contas, estão aí para tornar a nossa vida mais fácil.

Na atualidade, a combinação entre os aplicativos e os relacionamentos evidencia cada vez mais as nossas inseguranças, nossos vazios mais imaturos e obscuros, que nos fazem desconfiar do outro e fazer dos ciúmes uma arma de destruição em massa através de mensagens, áudios e emojis.

Casal apaixonado

Devemos evitar estas situações. Devemos educar melhor os jovens, conseguir fazer deste recurso um mecanismo enriquecedor para as nossas relações, partindo de nós mesmos em primeiro lugar. Precisamos trabalhar nossas emoções, nossa confiança no outro, e entender que a verdadeira comunicação, a mais satisfatória, é a que é feita através do olhar, e não de setinhas azuis. 


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.