Zelda Fitzgerald: a biografia de uma musa destruída

Zelda Fitzgerald: a biografia de uma musa destruída
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Zelda Fitzgerald entrou para a história como a esposa desequilibrada ou “louca” do grande escritor F. Scott Fitzgerald. Ela foi uma das primeiras melindrosas dos anos 1920 nos Estados Unidos. Essas mulheres encabeçaram uma verdadeira revolução ao adotar novos estilos estéticos e novas formas de vida.

Renunciaram aos espartilhos, cortaram os cabelos e encurtaram as saias. Fumavam e bebiam em público, frequentavam salões de jazz e dirigiam seus próprios veículos. Foi uma época muito significativa para as mulheres que começavam a reivindicar papéis diferentes na sociedade.

Foi uma geração de mulheres que desejavam desenvolver suas próprias carreiras profissionais e tinham preocupações mais abrangentes do que formar uma família e seguir os papéis tradicionalmente femininos.

Zelda Fitzgerald foi uma referência daqueles tempos, e sua vida é o reflexo do que essas mulheres queriam alcançar. Também é um exemplo das consequências de tentar fazer isso em uma sociedade que provavelmente só era tolerante com as aparências.

Quem foi Zelda Fitzgerald?

Zelda Fitzgerald nasceu no estado do Alabama, nos Estados Unidos, em 1900. Filha de um rígido e tradicional pai de família do sul, Zelda foi uma jovem alegre e extrovertida.

Ela era rebelde e se comportava de maneira muito diferente dos papéis femininos tradicionais da pequena cidade em que vivia. Em uma festa, conheceu um jovem influente, promessa das letras, aventureiro e que bebia muito.

Esse jovem se tornaria um dos escritores mais famosos dos Estados Unidos: Francis Scott Fitzgerald. Naquela época, Scott estava escrevendo seu primeiro romance, cujo personagem principal foi inspirado em Zelda.

Quando foi publicado, tornou-se um sucesso estrondoso. Foi aí que Zelda viajou a Nova York, aos 18 anos de idade, para se casar com ele.

O casal se tornou uma celebridade. Era o casal da moda, ricos, famosos e com vontade de conquistar o mundo. Scott continuava escrevendo, sempre inspirado por sua musa.

As vivências, as frases, as conversas, os diários e as cartas íntimas de Zelda foram as fontes das quais Scott bebeu para compor seus relatos.

Zelda e Scott Fitzgerald

Zelda desejava escrever

Zelda Fitzgerald recebeu algumas ofertas para escrever seus próprios livros e artigos. Ela escrevia relatos autobiográficos, mas os editores começaram a recusá-los porque pareciam, na opinião deles, plágios do trabalho do marido de Zelda.

Seu marido não via com bons olhos o fato de sua esposa começar a se tornar algo mais que sua musa e não consentia, de forma alguma, que Zelda usasse suas próprias vivências para escrever, já que estas eram precisamente a fonte de inspiração de Scott.

Esse foi o motivo de diversas discussões violentas. A essa altura, Scott tinha já havia se tornado um alcoólatra, suas infidelidades eram costumeiras e ele gastava mais do que ganhava.

Eles decidiram se mudar para a França, onde continuaram com a agitada vida social e mantiveram contato com muitos dos intelectuais da chamada geração perdida. Zelda tentou continuar escrevendo. Também começou a pintar e a se formar como bailarina profissional.

Ela se apaixonou por um piloto francês e pediu o divórcio a Scott. Entretanto, ele decidiu mantê-la confinada em casa até que, por fim, ela desistiu de seu pedido. Zelda fez, nessa época, sua primeira tentativa de suicídio.

A personalidade de Zelda se tornou errática. Scott não perdia a oportunidade de ridicularizá-la publicamente e de fazer de sua vida um inferno. Colocava à mesa suas amantes junto com sua esposa e filha.

Além disso, sua estranha e muito especial amizade com Ernest Hemingway deixou as coisas ainda mais difíceis.

Zelda Fitzgerald e as instituições mentais

Após seu fracasso como bailarina, Zelda caiu em depressão. Ela conseguiu publicar seu livro Save Me The Waltz (Esta Valsa É Minha, no Brasil) e isso enfureceu Scott. Ele a acusou de ter utilizado material biográfico que havia reservado para seu próprio livro.

Após a publicação do livro, Scott colocou Zelda em uma caríssima instituição mental, onde ela foi diagnosticada com esquizofrenia e tratada diversas vezes com a inovadora técnica de eletrochoque. Zelda nunca mais conseguiu recuperar sua vida.

Scott se negou por anos a permitir que ela recebesse alta médica. Zelda passou o resto de sua vida entrando e saindo de instituições mentais até o dia de sua morte.

Muitos médicos e biógrafos defendem que ela não sofria de esquizofrenia. Alguns falavam de transtorno bipolar, outros de personalidade limítrofe.

A verdade é que a vida que Zelda levava com seu marido, alcoólatra e mulherengo, as pressões constantes como celebridades e a incapacidade profissional para a qual Scott a conduziu eram motivos suficientes para deixar qualquer pessoa em uma verdadeira montanha-russa emocional.

Zelda Fitzgerald

A doença de Zelda

Curiosamente, a história de Zelda e os diagnósticos de doenças mentais se repetiram durante o século XX com muitas outras mulheres artistas. A lista de suicídios e diagnósticos de transtornos mentais entre os artistas do século XX é muito numerosa, especialmente entre as mulheres.

Parece que essa aura de genialidade e excentricidade característica dos artistas masculinos era considerada uma doença mental passível de tratamento se os gênios fossem mulheres. Diagnósticos e tratamentos de eletrochoque, como os recebidos por Zelda Fitzgerald, se repetiram em figuras de expressão artística.

Por exemplo, artistas tão geniais quanto a escritora Sylvia Plath, as artistas surrealistas Dora Maar e Leonora Carrington ou a escultora Niki de Saint-Phalle também foram submetidas aos mesmos tratamentos.

E o curioso é que isso não acontecia somente com as artistas. Aconteceu com muitas mulheres que foram aprisionadas por terem mostrado mínimos indícios de instabilidade emocional. Milhares de donas de casa norte-americanas, estudadas e inteligentes, caíam nas garras da depressão.

Elas não tinham permissão para se realizar pessoalmente ou fazer parte do mercado de trabalho: de alguma maneira, estavam condenadas a viver essa vida.

Após uma simples crise nervosa ou o menor ato de rebeldia, diagnosticava-se uma neurose, uma psicose ou a sempre recorrente esquizofrenia. Em seguida, eram submetidas ao eletrochoque.

Se tinham sorte, após algum tempo voltavam para suas casas, mansas, submissas, incapazes de se lembrar de quem eram ou de reconhecer os próprios filhos. Hoje em dia, esse tipo de tratamento (TEC) continua a ter tanto defensores quanto movimentos a favor de sua extinção.


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